O conceito de subcompacto ainda é estranho para o brasileiro, acostumado aos antigos hatches de entrada, com mais espaço. Aos poucos, fomos recebendo modelos que seguem a tendência dos citycar, como o Fiat Mobi e Volkswagen Up!. No entanto, esses veículos funcionam melhor quando unem praticidade com economia (de espaço, tempo, dinheiro e economia de combustível). É exatamente essa a estratégia do Fiat Mobi GSR.
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Como falamos na nota de lançamento da linha 2018, o pequeno da Fiat passou por uma grande mudança, enxugando a quantidade de versões, criando novos pacotes de opcionais e adicionando o Fiat Mobi GSR , configuração que combina o motor 1.0 Firefly com o câmbio automatizado GSR-Comfort, uma nova versão do polêmico Dualogic Plus. Essa combinação, pelos números do Inmetro, faz com que seja o carro 1.0 mais econômico do País.
Pois é, a Fiat pode dizer que superou o Volkswagen Up! equipado motor 1.0 TSI, até então o carro de melhor rendimento energético entre os modelos de um litro. O teste do Conpet-Inmetro registrou 14 km/l no consumo urbano e 15,9 km/l no rodoviário, quando abastecido com gasolina. Com etanol, passa para 9,8 km/l e 11,1 km/l, respectivamente. O cálculo para consumo combinado dá 14,9 km/l e o consumo energético é de 1,43 MJ/km (quanto menor o número, melhor).
É uma diferença bem pequena, mas suficiente para que o Mobi GSR receba o título. O urbaninho da Volkswagen rende 13,8 km/l na cidade, menos do que os 14 km/l do modelo da Fiat. Em contra-partida, registra 16,1 km/l no ciclo rodoviário, contra os 15,9 km/l do Mobi. O desempate acontece no consumo combinado, de 14,8 km/l, e no consumo energético, de 1,44 MJ/km – sempre uma diferença de 0,1 para o carro da marca italiana.
Claro, isso pelo teste de laboratório do Inmetro, que usa alguns parâmetros que não condizem com a realidade das ruas, sempre registrando uma média menor do que a da vida real. A Fiat afirma que, viajando de Betim (MG) até São Paulo, o computador de bordo registrou 27,8 km/l. Andando no traçado oval do Haras Tuiuti (SP), bateu 33,7 km/l. Os engenheiros da marca, orgulhosos, dizem que essa combinação não será superada com facilidade.
Automatizado?!?
Algumas pessoas devem sentir calafrios só de falar que o Mobi está com um câmbio automatizado. Isso é justificado, já que o desempenho desse tipo de transmissão é bem abaixo do que praticamente todas as tecnologias. Suas trocas são tão lentas que faziam os passageiros se moverem pela inércia e os modelos mais antigos não eram capazes de mover o carro apenas retirando o pé do freio.
Mudou bastante nessa versão e a evolução é bem perceptível. As trocas de marcha são bem mais suaves e rápidas do que o Dualogic Plus -embora o motorista ainda faça um pouco de abdominal pela movimentação. Conta com creeping, função que faz com que o carro comece a andar assim que o motorista solta o freio, muito útil no anda-e-para das grandes cidades e que ajuda a diminuir o consumo de combustível, por usar menos o acelerador.
Resolveram um dos grandes problemas dos automatizados: A partida em ladeiras. Como funciona com um robô que controla a embreagem no lugar do motorista, sua movimentação era um pouco lenta e deixava o carro descer um pouco. Foi equipado com um acelerômetro, que consegue detectar a posição do veículo.
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Quando ligamos o carro na subida, ele percebe a situação e, assim que tiramos o pé do freio, o sistema acelera o motor até 1.500 rpm, o suficiente para evitar um recuo (exceto nas inclinações mais acentuadas, onde irá andar um pouco para trás). Além disso, é mais esperto, usando essa informação para determinar se deve manter a marcha atual para aproveitar o torque ou se pode fazer uma troca. O mesmo acontece na descida, segurando a velocidade para fazer uso do freio motor e manter o veículo em uma situação mais segura.
A Fiat define a combinação entre o GSR-Comfort e o 1.0 Firefly como o “casamento perfeito”. O motor gera 77 cv e 10,9 kgfm de torque a 3.250 rpm, com etanol. Esse torque aparece em baixa rotação e é melhor aproveitado pelo câmbio automatizado, que prioriza as trocas de marcha de forma a economizar combustível. Sim, não é muito confortável, mas cumpre bem o seu papel, como mostra a média do Inmetro que dissemos acima.
Melhor Mobi
Parece que a cada vez que ando em uma nova versão do Mobi, encontro um modelo melhor. Quando avaliei a configuração Way, ela se mostrou mais estável por contar com uma barra estabilizadora (a Fiat diz que o modelo normal compensa sua ausência com a aerodinâmica). Depois foi a vez do Mobi Drive, com o 1.0 Firefly de três cilindros, que ganhou comportamento dinâmico e ótimo nível de rendimento energético. Era com esse motor que o Mobi deveria ter sido lançado.
Isso se repete com o Fiat Mobi GSR. O primeiro contato com o carro foi curto, em um test-drive pela cidade de São Paulo no meio da tarde. Imprevisível, o trânsito da capital paulista pode travar em qualquer lugar a qualquer hora, impedindo testar o desempenho e, para piorar, aumentando o consumo de combustível. Felizmente, não foi nada tão terrível, pois encontrei apenas alguns trechos com tráfego pesado, mas que ainda circulava.
Antes de sair, já havia decidido que iria fazer um desvio, saindo do trajeto combinado com a Fiat para passar por algumas ruas que conheço bem. A ideia era testar o desempenho do Mobi GSR em uma ladeira, para conferir se o câmbio consegue mesmo segurar a marcha e priorizar o torque para manter o carro subindo, além do sistema para saídas em rampas.
Primeira tentativa. Subo até a metade da rua e paro o veículo completamente. Nenhum carro atrás para não correr o risco, solto o freio e acelero. O Mobi não parece recuar nem um pouco. Bom sinal, vai ajudar muita gente no trânsito e consegue compensar bem a falta do assistente de partida em rampas que equipa o Uno 1.3. Acelero mais e o câmbio passa para a segunda marcha apenas quando tem certeza de que o nível de força não irá cair demais. E segura essa velocidade até que o automóvel esteja menos inclinado. Dou meia-volta e começo a descer. O Mobi segue em terceira marcha, acompanhando a velocidade em que estava, em deixar acelerar demais.
Volto ao percurso normal, com ruas planas. O câmbio GSR-Comfort continua a causar um pouco de desconforto quando posicionado no modo Drive (se é que posso falar assim, já que usa botões no lugar de uma alavanca). Sigo as instruções do EcoDrive disponível no app Live On, tentando melhorar o consumo de combustível, que estava em 8,8 km/l. Aos poucos, o número começa a subir, alcançando 10,9 km/l pouco tempo depois. Na metade do caminho, o computador de bordo marcava bons 12,6 km/l.
Jogo o rendimento pela janela e mudo o câmbio para o modo Sport. Tornou-se muito mais agradável, pois as trocas são mais rápidas, reduzindo muito o balanço visto no modo Drive. Aproveita melhor o torque, segurando um pouco mais as marchas. O custo disso é que começou a beber muito mais, aumentando o consumo. Terminei o test-drive com o computador de bordo indicando 10,4 km/l, sempre considerando gasolina no tanque durante o percurso.
Velhos defeitos
Apesar das melhorias, o Mobi segue com seus defeitos bem conhecidos. É um carro apertado, principalmente para os mais altos. Os assentos traseiros são ainda mais claustrofóbicos. Seu tamanho afeta até o porta-malas, muito pequeno e que pode ficar ainda pior se usar o Cargo Box oferecido como opcional (que devora metade do espaço e não cabe nada). Como essa versão é baseada no Drive, não conta com a barra estabilizadora do aventureiro Way, balançando um pouco demais em curvas de alta velocidade.
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O que ajuda o Fiat Mobi GSR é seu conceito. Para quem prefere em um carro novo, é o modelo mais barato do mercado brasileiro sem o pedal da embreagem. É vendido por R$ 44.780, menos do que os R$ 48.365 do Volkswagen Up! na versão Move I-Motion. Claro, esse preço irá subir ao colocar os pacotes de opcionais (como o ótimo sistema multimídia Live On, que usa o celular), mas isso também vale para os concorrentes. A verdade é que cumpre bem o seu papel de ser o carro de entrada da Fiat para quem não quer o trabalho de trocar marchas e deve incrementar ainda mais as vendas do subcompacto.