Visualize o futuro. Você acha mesmo que carros híbridos e elétricos são um devaneio, ou uma frescura por parte dos ecochatos? Bem, tem gente querendo que você pense mais uma vez sobre esse assunto. Sobre como rodar sem queimar combustível pode fazer bem para o seu bolso, ou como a Fórmula E pode ser emocionante enquanto traça o caminho para o futuro do automobilismo. Emoção, aliás, é o que não falta a bordo de um carro híbrido de grande porte. Nós tivemos a oportunidade de acelerar uma máquina passional e violenta, capaz de reformular todos os pensamentos negativos sobre a nova tecnologia. E ela atende pelo nome de Porsche Panamera 4 e-Hybrid.
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Os engenheiros da marca alemã foram claros na proposta do novo Porsche Panamera 4 e-Hybrid. Juntaram duas propostas que deram muito certo: a nova geração do Panamera e o sucesso da marca em Le Mans com o tricampeão 919 Hybrid. Pois se tem uma fabricante que sabe fazer um carro híbrido ir rápido, essa é a Porsche. Eles querem preparar seus clientes para o carro que, ao fim da década, trará um novo rumo para a marca: o Mission E, que terá 500 quilômetros de autonomia sem consumir uma única gota de gasolina.
Enquanto me preparava para dar as primeiras voltas no Panamera na pista da Capuava, no interior de São Paulo, não pude deixar de notar como suas linhas ficaram harmoniosas. Sedã não é a melhor definição para ele, mas sim esportivo de quatro lugares. A marca gosta de dizer que aqueles que possuem verdadeiro espírito esportivo - tanto na vida pessoal quanto profissional - podem encontrar o carro perfeito no Panamera. A linha tênue entre desempenho e conforto, dinâmica e eficiência. Nós, que sempre levantamos a bandeira das peruas, ficamos ainda mais empolgados sabendo que a versão Turismo chega ao Brasil no ano que vem.
“Tudo pronto? Podemos largar”, diz o instrutor em um 911 à minha frente, pelo walkie talkie. Ajusto o modo de condução para o elétrico por meio de um botão rotativo ao lado do volante. Enquanto faço o contorno para entrar na pista, o Panamera produz um som agudo digno de filme de ficção científica, lembrando bastante o Toyota Prius. Nas minhas duas primeiras voltas na pista, o objetivo era impedir que o motor a combustão entrasse em ação. Tarefa difícil, ainda mais seguindo um superesportivo.
Carro verde
É notável como o carro é bom de curva. A bateria instalada abaixo do porta-malas (porém, não reduzindo o espaço para a bagagem em relação ao modelo convencional) favorece bastante a dinâmica de condução do Panamera híbrido. Apenas no modo elétrico, o sedã esportivo é capaz de percorrer 50 km. Imagine você, grande executivo que tem o montante necessário para comprar um carro desses, fazendo o trajeto entre sua casa e o trabalho sem gastar uma única gota de gasolina? Isso é possível em velocidades abaixo de 140 km/h. A partir daí, os motores a combustão devem entrar em ação.
Vale explicar que a pista da Capuava é um tanto quanto singular. A Porsche escolheu o trajeto com maior número de curvas, onde precisávamos encaixar o carro entre dois cones. As retas também não favorecem o que este sedã turbo de mais de 400 cv promete entregar. Mas é notável o trabalho que o time de engenharia da marca alemã teve para que a experiência ao volante do Panamera seja calorosa.
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Esta "besta" leva um motor elétrico de 136 cv, combinado ao 2.9 V6 biturbo a gasolina. Juntos, entregam a potência combinada de 462 cv e torque de 71,4 kgfm entre 1.100 e 4.500 rpm. Aliado ao câmbio sequencial de oito marchas, o Panamera e-Hybrid é capaz de chegar aos 100 km/h em 4,6 segundos. Há também um modelo ainda mais insano, com 680 cv de potência, mas que custa quase o dobro.
A distribuição de potência entre as quatro rodas varia em 10%, entre 80% na traseira e 20% na dianteira, mas também é possível jogar toda a força do carro para a parte de trás. O Panamera híbrido pode ser bem traseiro, ainda mais fazendo curvas em velocidade. Com a autorização do instrutor à frente, coloco o Panamera no modo híbrido, e o som agudo do motor elétrico dá lugar a um rugido feroz. O gargarejo deste V6 é digno de superesportivo, ainda mais quando aproveitava as poucas retas para acelerar mais.
O Panamera é o que chamamos de plug-in hybrid. Ou seja, é possível carregar suas baterias durante desacelerações e frenagens além, é claro, da tomada elétrica. O tempo para recarga varia entre quatro e oito horas em uma tomada convencional de 220V. A Porsche também disponibiliza uma tomada industrial de cinco pinos e 7,2 kWh, que é capaz de carregar o Panamera por completo em apenas duas horas.
Na Europa, onde a energia elétrica é mais barata durante a madrugada, os carregadores smart conseguem encontrar os melhores momentos para a recarga. Algo que não traz benefício algum ao consumidor brasileiro, mas vale a menção…
Fórmula 1
Troco para o modo Sport, já em minha quarta volta na pista. O ronco muda, a suspensão fica ainda mais rígida e o Panamera revela o que tem de melhor. Uso toda a potência permitida para recompor a distância que o 911 estava tomando em uma das retas. Com o botão Sport Response ao lado do volante, esqueço que estou em um sedã executivo. É uma tijolada que faria Buzz Aldrin lembrar de quando foi à Lua.
Este sistema modifica o gerenciamento do veículo para entregar potência máxima por um curto período de tempo - o mesmo sistema que equipa o irmão 911. Resta alguma dúvida sobre a vocação esportiva deste carro híbrido? Chegando na curva bem angular ao fim da reta, o Panamera mostra que seu sistema de freios está em dia. Não há qualquer esforço por parte do sistema para redução brusca de velocidade combinada a uma retomada que arrasta sua traseira lateralmente. Ele continua à mão, como um legítimo esportivo.
Surpreende que ele tenha 5,04 metros de comprimento e 1,93 de largura. De fato, é um carro grande, mas nossas impressões ao volante revelam um centro de gravidade muito bem acertado. A Porsche recuou um pouco o motor para centralizar seu coeficiente, e a receita deu certo.
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O Porsche Panamera 4 E-Hybrid parte de R$ 529.000 na versão convencional, e pode chegar aos R$ 1.242.000 na Executive. Não, você não leu errado. Pelo preço da versão topo de linha turbo, dá para levar dois modelos na versão de entrada. A que andamos está avaliada em R$ 554.000. Sem contar toda a adaptação que o comprador talvez tenha que fazer em sua residência para permitir um posto de abastecimento. A Porsche, entretanto, está confiante no modelo híbrido, e espera que ele compreenda mais de 50% das vendas do Panamera daqui para frente.
Ficha Técnica:
Preço: R$ 554.000
Motor: V6 , 2.9, híbrido
Potência: 462 cv
Torque: 71,4 kgfm
Transmissão: Sequencial de oito velocidades
Suspensão: adaptável, a ar
Freios: Discos de cerâmica
Dimensões: 5,04 m (comprimento) / 1,93 m (largura) / 1,22 m (altura)
Tanque : 90 litros
Consumo: Até 40 km/l no modo híbrido // autonomia de 50 km apenas com motor elétrico
0 a 100 km/h: 4,6 s
Vel. Max: 269 km/h