Por Karina Simões
A grande maioria das motocicletas é batizada com uma combinação de letras e números que dá nó na cabeça de qualquer criatura que não esteja familiarizada com o mundo das duas rodas. Diferentemente disso, nossa avaliada da vez tem nome e sobrenome italianos: MV Agusta Brutale 800 .
Não é preciso fazer curso de italiano para entender que a palavra brutale quer dizer brutal em português, e, embora este nome tenha sido herdado de sua irmã mais potente, a Brutale 1090 , a tricilíndrica de 798 cm³ provou que também faz jus a ele.
Montada por sistema CKD na fábrica da Dafra, em Manaus (AM), a naked foi a primeira da linha 800 a desembarcar no Brasil, em março de 2014. Na sequência vieram a esportiva F3 800 e a motard Rivale 800 .
Leite de pedra
Confesso que queria muito experimentar o tricilíndrico da marca, que estreou primeiro na Europa na versão de 675 cm³ com a F3 e depois com a Brutale – ambas versões não vieram para o Brasil. Trata-se do mesmo propulsor, porém, retrabalhado pela MV para extrair todo seu potencial na versão de 800 cc.
Já que o temperamento desta naked é pautado pelo motor, comecemos por ele. Agora, o três cilindros em linha, de 798 cm³, gera 125 cv de potência a 11.600 rpm e 8,25 kgfm de torque aos 8.600 giros. Na prática, isso se traduz em uma patada ao girar o acelerador eletrônico ride-by-wire . A força é entregue de maneira muito rápida e a sensibilidade do acelerador chega a assustar. Uma arrancada em primeira marcha ao sair de um semáforo, por exemplo, pode te causar palpitações e a roda dianteira descolada do chão.
Mesmo no modo normal, não foi fácil “dar uma voltinha tranquila” com a Brutale (ela definitivamente não nasceu para este tipo de passeio). Parece que ela pede para que você mantenha o giro alto o tempo todo para que, assim, o motor consiga trabalhar de uma maneira mais confortável. Seu mundo não é em baixos giros, mas nas altas rotações sobra motor e entendemos que o sorriso no rosto do piloto não é opcional, vem de série ao acelerar esta naked italiana.
Como a maioria delas, a eletrônica desempenha um papel importante. A Brutale 800 foi equipada com o sistema MVICS (que significa Sistema de Controle Integrado de Motor e Veículo). Traduzindo, é um pacote eletrônico que permite que se altere o mapeamento do motor, o controle de tração em oito níveis, a resposta do acelerador eletrônico e a atuação do ABS. São quatro modos de pilotagem (Normal, Rain, Sport e Custom), para alterá-los, basta selecionar um botão na manopla direita com a moto ligada, enquanto para personalizar os ajustes, deve-se utilizar os botões da manopla esquerda.
A MV ainda gaba-se em utilizar em sua linha de motores 800 cc um virabrequim contra rotativo –tecnologia utilizada no MotoGP e novidade em modelos produzidos em série - que segundo a montadora reduz a vibração em desacelerações.
Você viu?
O câmbio de seis velocidades tem trocas precisas e a marcha engatada fica indicada no painel digital, que mostra uma infinidade de dados mas não marca o combustível - até acender a luz da reserva, foi possível rodar cerca de 180 quilômetros com um tanque, que comporta 16,6 litros.
No painel encontramos também a opção quickshift on e off (para trocas de marchas rápidas), mas o sistema não vem de série nem é oferecido como opcional – isso ocorre porque o painel é compartilhado com outros modelos que dispõe do sistema.
Porte atlético
Pesando apenas 167 kg a seco, a Brutale mostrou-se muito ágil nas curvas e mudanças bruscas de direção. Boa parte desta agilidade é resultado do chassi construído em treliça de tubos de aço combinado com duas placas de liga de alumínio. A suspensão dianteira usa garfos invertidos da Marzocchi , enquanto a traseira utiliza monobraço da Sachs. O conjunto permite ajustes de compressão, retorno e pré-carga de mola.
O banco não é dos mais confortáveis, mas o assento a 81 cm do solo contribui com os pilotos de estatura mais baixa. As pedaleiras, todavia, ficam recuadas e mais para o alto, proporcionando uma posição de pilotagem esportiva. Depois de gastarmos um tanque, sentimos que é hora de esticar as pernas.
Os freios ABS desempenharam bem seu papel, na dianteira são dois discos flutuantes de 320 mm de diâmetro mordidos por pinças radiais monobloco Brembo , de quatro pistões. Na traseira há um disco simples de 220 mm com pinça de duplo pistão, também Brembo.
Corte italiano, que cai melhor a italianos
O design da Brutale também segue os passos de sua irmã maior, com o mesmo desenho de farol em forma de gota e aletas que protegem o radiador. O escape merece destaque, com uma ponteira tripla curtinha e charmosa, assim como suas irmãs 800.
O tanque é bem recortado com as já conhecidas entradas de ar nas extremidades e oferece bom encaixe para as pernas. O modelo testado, com cerca de 7 mil km rodados, apresentou algumas deformações no tanque, que como a maioria das motos hoje em dia é feito de um composto plástico. Talvez o calor, nossa gasolina de má qualidade, ou ambos, acabam comprometendo a peça com o tempo. Aliás, o projeto desta moto colocou algumas dúvidas em minha cabeça, especialmente ao notar o cárter muito próximo do solo sem proteção, o filtro de óleo exposto demais (a pedras, insetos e tudo aquilo que nos atinge quando pegamos estrada de moto), sem contar as peças que desencaixavam facilmente no modelo (talvez mérito da montagem brasileira).
Em suma, a Brutale 800 é uma “bella macchina”, mas talvez tivesse em sua melhor forma rodando onde foi feita para rodar, em estradas bem pavimentadas europeias, com gasolina europeia, etc. No Brasil, o buraco é literalmente mais embaixo. E tal problema se estende a diversos modelos “gringos” vendidos por aqui, italianos ou não, cuja montagem e desempenho (leia-se gasolina ruim) são comprometidos ao vir para terras tupiniquins.
Motos italianas são motos italianas e, se elas permeiam seu imaginário, a linha 800 da MV Agusta oferece design, um motor fantástico, muita agilidade, um bom pacote eletrônico e um barulho lindo quando o motor grita em altas rotações (este último, talvez te faça assinar o cheque). Pode-se optar pelas cores vermelho metálico com prata ou branco perolizado com vermelho e, se suas preferidas são as nakeds, ela é a mais em conta das três da família, por R$ 49.900.
MV Agusta Brutale 800 |
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Dados técnicos | |
Preço | Câmbio |
R$ 49.990 | 6 velocidades |
Motor | Comprimento x altura assento x entreeixos |
4 tempos/três cilindros/12 válvulas/refrigerado a líquido | 2.085 mm x 810 mm x 1.380 mm |
Cilindrada | Pneu dianteiro |
798 cm3 | 120/70 ZR 17M/C (58W) |
Potência Máxima | Pneu traseiro |
125 cv a 11.600 rpm | 180/55 ZR 17M/C (73W) |
Torque Máximo | Peso seco |
8,25 kgfm a 8.600 rpm | 167 kg |
Sistema de partida | Cores |
Elétrica | Vermelho metálico com prata, branco perolizado com vermelho |
Combustível | Capacidade do tanque |
gasolina | 16,6 litros |