
No Brasil, mais de 148 mil motociclistas foram internados no SUS em 2024 após acidentes de transporte, segundo levantamento da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet).
Em um cenário de alto risco, a manutenção correta dos pneus é apontada como uma das principais barreiras contra quedas. O alerta é reforçado por Carlos Magnus, diretor comercial e de marketing da Pirelli para a América Latina, em entrevista exclusiva ao Portal iG Carros.
A reforma de pneus de motocicletas é proibida pela Resolução 913/2022 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), mas a prática ainda persiste em algumas oficinas.
Para a Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (ANIP), trata-se de um risco inaceitável, capaz de gerar perda imediata de aderência. Magnus acrescenta que qualquer alteração de medida ou especificação original também compromete a segurança do condutor. 
 
Riscos da troca fora da especificação
Trocar os pneus por medidas diferentes das recomendadas pelas montadoras compromete toda a engenharia da motocicleta.
Segundo Magnus, o pneu é definido em conjunto entre fabricantes e projetistas, garantindo equilíbrio e desempenho.
Alterar largura, altura ou aro pode afetar freios, suspensão, controle de tração e até o velocímetro. O executivo destaca que não existe margem de tolerância:
“Todo o conjunto foi pensado para oferecer a melhor segurança ao motociclista”, afirmou.
Outro erro recorrente, de acordo com a Pirelli, é usar modelos diferentes na dianteira e na traseira.

Como cada pneu exerce funções distintas — tração, frenagem e escoamento de água —, a combinação inadequada gera desequilíbrio imediato, sobretudo em piso molhado.
A desinformação também contribui para escolhas equivocadas. Entre os mitos mais comuns, a Pirelli esclarece que: Não existe cera em pneu novo: o que há é um produto desmoldante usado na fabricação, que desaparece após os primeiros quilômetros.
Troca deve ser em pares: diferente dos carros, o desgaste dianteiro e traseiro é desigual, e substituir apenas um deles compromete o conjunto. 
Mesma marca e modelo em ambas as rodas: pneus distintos podem escoar água de forma desigual, aumentando risco de derrapagens.
Pneus reformados são proibidos: a Resolução 913/2022 veta recapagem, recauchutagem e remoldagem em motocicletas por risco de falhas estruturais. 
 
Impacto da calibragem e do tempo de uso
O envelhecimento natural da borracha reduz a aderência, mesmo sem prazo de validade fixo.
“Os pneus não têm um prazo de validade definido, mas como são compostos químicos, a influência do tempo pode ocasionar uma degradação com o passar do tempo”, explicou Magnus.
A calibragem inadequada é outro fator de alerta. “Uma calibragem incorreta pode reduzir drasticamente a vida útil do pneu”, reforçou o executivo.
Além do desgaste precoce, a pressão errada compromete a segurança em curvas e frenagens e aumenta o consumo de combustível.
A recomendação é seguir sempre a pressão indicada pelo fabricante e realizar a verificação a frio. Inspeções semanais ajudam a reduzir custos e preservam a estabilidade da motocicleta.
Erros mais comuns cometidos por motociclistas
Para a Pirelli, o equívoco mais frequente é ignorar as especificações definidas pela montadora. Muitos condutores escolhem o pneu pelo preço ou pelo design, sem avaliar o impacto na dirigibilidade.
Outro erro está em não considerar o uso cotidiano — urbano, rodoviário ou misto. A escolha inadequada gera desconforto e até maior consumo de combustível.
Magnus alerta que a consequência mais grave é a perda das características originais do veículo: “A recomendação é de não alterar a especificação do pneu original da moto.”
Seguir as orientações da montadora e manter calibragem correta são medidas que preservam a segurança e garantem o melhor desempenho possível de cada modelo de motocicleta.
Para além da escolha individual, especialistas defendem que a fiscalização contra pneus reformados e campanhas de conscientização permaneçam como prioridade.
O desafio é reduzir o impacto de um problema que, segundo a Abramet, já custa mais de R$ 230 milhões por ano ao sistema público de saúde brasileiro.