Polo GTS: hot hatch tropical
Eduardo Rocha
Polo GTS: hot hatch tropical

Foguetinho alemão

Compacto esportivo tem visual e comportamento instigantes, mas Volkswagen pesou a mão no preço

por Eduardo Rocha

Auto Press

A Volkswagen tem uma antiga tradição, nascida ainda nos anos 1970, de criar versões esportivas para seus carros de passeio. Modelos não só com visual mais esportivo, mas também com uma motorização que justificasse a estampa. No Brasil tem sido assim desde o saudoso Passat TS (Touring Sport), que trazia a versão 1.6 de seu primeiro motor nacional refrigerado a líquido, com espantosos 96 cv – 18 cv a mais que a versão normal. Atualmente quem faz este papel no Brasil é o pequeno Polo Gran Touring Sport, ou Polo GTS, o único hot hatch oferecido atualmente no mercado nacional.

Ele é equipado com um motor 1.4 TSi, com 150 cv e 25,5 kgfm, o mesmo do Virtus GTS , e foi pensado para entregar um desempenho realmente esportivo, sem cobrar nada por isso em relação ao conforto. Ele ainda a missão de tornar o modelo da Volkswagen um carro de amplo espectro, que atinge todas as camadas do segmento de hatches compactos. A versão GTS faz o papel de vitrine da gama. O preço de deixa bem claro que não se trata de um carro de vendas, mas de exibição nas concessionárias. Ele custa nada menos que R$ 151.490, ou 72% a mais que um Polo Track, configuração responsável pela atual liderança do modelo no ranking de automóveis no país. Ou seja: o GTS está no extremo oposto da Track, tanto em venda quanto em preço e conteúdo.

Visualmente, o Polo GTS tem uma certa distinção em relação ao restante da gama. A frente tem mudanças na grade, para-choque e conjuntos óticos. A grade com trama em colmeia traz uma barra superior na cor do veículo e um friso em led e outro em vermelho na parte inferior. Esses dois elementos invadem o conjunto ótico e fazem o contorno externo do farol, onde há um outro friso mais curto em led, para compor a assinatura luminosa do modelo. Nas laterais externas da tomada de ar inferior, há dois DRLs de cada lado em formato de hexágono, detalhe herdados do Golf VIII. Fora isso, o modelo pode ser identificado pelas rodas Zunky aro 18 e pelos emblemas GTS na grade e na tampa traseira.

Esse visual segue à risca o que o modelo alemão assumiu no face-lift de meia-vida em 2021 ‑ no Brasil, a renovação ocorreu no ano seguinte, mas sem adotar as novas lanternas traseiras europeias, alongadas horizontalmente. Por dentro, os pontos de diferenciação da versão ficam por conta de detalhes em vermelho em frisos no volante, nas saídas de ar, no console central e nos pespontos do revestimento em couro sintético no volante, console frontal, coifa do câmbio e apoio de braço. A sigla GTS aparece no volante e em bordados no encosto dos bancos dianteiros, que são esportivos, com abas mais pronunciadas.

Em relação ao conteúdo, a versão traz todos os recursos disponíveis na linha, que para o valor pedido pela marca, não é uma lista tão generosa assim: ar-condicionado digital, chave presencial para travas e ignição, câmera traseira, sensores dianteiros e traseiros, espelho interno eletrocrômico, carregador de celular por indução, sensor de luz e de chuva e sistema start/stop. Os itens mais tecnológicos são o painel digital de 10,25 polegadas, o sistema de iluminação em matriz de led com distribuição de luz variável, o chamado IQ Light, que inclui farol alto automático, e a central multimídia VW Play, com tela touch de 10,1 polegadas e espelhamento sem cabo dos aplicativos Apple Car Play e Android Auto.

Na parte de segurança, o GTS não acrescenta nada em relação aos itens normais da gama. Tem os itens obrigatórios, como airbags frontais, controle de estabilidade e ABS e ainda dois airbags laterais e frenagem pós-colisão. Ele não traz sequer o controle de cruzeiro adaptativo, que está presente no Nivus – que é uma espécie de Polo marombado. Tem apenas o controle e o limitador de velocidade.

Mas o que dá destaque ao GTS é o que está sob o capô. O motor 1.4 TSi, turbo com injeção direta, oferece 150 cv de potência na casa dos 5 mil giros e 25,5 kgfm de torque já aos 1.500 giros. Com uma relação peso/potência bem favorável, de 8,15 cv/kg. Ele é gerenciado por um câmbio automático de seis marchas, com paddle shifts no volante para mudanças sequenciais, e leva o Polo de zero a 100 km/h em 8,3 segundos e até 206 km/h.

Ponto a ponto

Desempenho – O motor 1.4 TSi flex gira alto e solto. Ele tem subidas de rotação muito rápidas e entrega o torque total assim que o carro começa a se movimentar. Para dar uma ideia, esse propulsor não faz feio nem em modelos que pesam 400 kg a mais que o Polo, daí essa sobra de força em qualquer regime e o entusiasmo do carrinho em ganhar velocidade. O câmbio automático também tem reações ágeis e entende bem as intenções de quem pisa no acelerador – a ponto de tornar o paddle shift dispensável. O zero a 100 km/h em 8,3 segundos e a máxima de 206 km/h traduzem bem essa personalidade. Nesse contexto, os freios a disco nas quatro rodas foram muito bem-vindos. Nota 10.

Estabilidade – A suspensão do Polo GTS tem molas e amortecedores recalibrados e barra estabilizadora redimensionada, que acentuam ainda mais o acerto rígido, bem ao estilo europeu. Isso torno o modelo ainda mais neutro nas retas e com pouca rolagem nas curvas. Nessa tarefa, ainda é ajudado pelos pneus de 18 polegadas com medida 205/45, com 9,2 cm de flanco – que sofrem um pouco com os buracos. Em pavimentos de boa qualidade, a rodagem é suave e extremamente precisa. Nota 9.

Interatividade – Os comandos tradicionais estão nos lugares certos e óbvios e o modelo tem enormes telas para monitorar e controlar os recursos. A central multimídia não impressiona pela rapidez e facilidade de uso, mas oferece as funções mais importantes. As configurações do painel também não pouco intuitivas. Nota 7.

Consumo – O InMetro testou o Polo com motor 250 TSi e câmbio automático e aferiu índices de consumo bem aceitáveis, diante do desempenho do modelo. Foram 8,0/9,98 km/l na cidade/estrada com etanol e 11,4/14,1 km/l com gasolina, nas mesmas condições. Ganhou nota C na categoria e B no geral. Nota 7.

Conforto – O conjunto de suspensão é firme e o conjunto de rodas aro 15 com pneus de perfil 45, com flanco de 9,2 cm, não ajudam a amaciar a vida a bordo. Em pisos do tipo carpete, a rodagem é extremamente suave e o GTS gruda no asfalto. O motor 1.4 turbo não é dos mais silenciosos, mas um certo rugido é até desejável para um modelo com esse perfil. Os bancos esportivos seguram bem o corpo no lugar e são mais macios do que seria de se esperar Nota 7.

Tecnologia – A plataforma MQB do Polo é rígida e leve. E embora o modelo já tenha sete anos de lançado na Europa (deve mudar de geração no ano que vem), ainda está bem atualizado. Mesmo que o modelo seja estruturalmente seguro, o modelo decepciona na oferta de recursos de auxílio à condução. O único item ADAS é o farol alto automático. Não há controle de cruzeiro adaptativo, monitoramento de faixa ou alerta de colisão com frenagem autônoma de emergência, equipamentos presentes em rivais até mais baratos. Nota 7.

Habitabilidade – O Polo oferece um bom espaço para quatro ocupantes viajarem, principalmente por conta do bom entre-eixos de 2,57 m. Pernas e cabeças encontram boa área de movimentação. Já os bancos dessa versão GTS são macios no ponto certo e o revestimento de boa qualidade é agravável ao toque. O porta-malas de 300 litros fica na média dos concorrentes. Nota 8.

Acabamento – Mesmo em versões mais caras como a GTS, a marca alemã não prima pelo refinamento. Até pelo preço, o Polo GTS merecia materiais mais caprichados, além do revestimento parcial em couro sintético. Todos os plásticos aparentes são rígidos com texturas pouco atraentes. Por outro lado, parece haver um certo compromisso com a durabilidade com a montagem bem-feita. Nota 7.

Design – O desenho do Polo já está há sete anos na praça, mas vem resistindo bem ao tempo. Segue o figurino da marca, com linhas geométricas, vincos retos e superfícies planas. Na atualização de meia-vida, a marca preferiu economizar a atualização da traseira. De qualquer forma, é um carro simpático e com a personalidade bem marcada. E na versão, especificamente, as intervenções não foram exageradas e derem um charme adicional ao modelo. Nota 8.

Custo/benefício – O Polo GTS tem um preço bastante exagerado, mais alto que de qualquer outro compacto do mercado. Embora seja o mais potente, não é o melhor equipado. A função da versão é realmente servir de vitrine da marca. Nota 6.

Total – O Volkswagen Polo Tracker somou 76 pontos de 100 possíveis.

Impressões ao dirigir

Nervosinho, mas controlado

O Polo nasceu como um compacto mais sofisticado, com estrutura e dinâmica consistentes. Isso foi em 2017, no lançamento na Europa. Só que o mercado marcha em passos cada vez mais rápidos. Sete anos é muito tempo e os predicados do modelo já foram igualados e até superados pelos rivais. Mas no caso da versão GTS e do mercado brasileiro, não há rivais diretos. O hatch compacto mais próximo em termos de desempenho tem 15% menos potência e 20% menos torque. E o que distingue ainda mais o Polo GTS é que ele tem capacidade de aproveitar com facilidade essa força adicional de que dispõe.

O propulsor 1.4 250TSi é responsivo e trabalha com um câmbio refinado. A dinâmica do modelo é sólida e o rodar, consistente. Logo na largada, o generoso torque de 25,5 kgfm (para um carro com pouco mais de 1.200 kg) fica completamente disponível. As arrancadas são vigorosas e nas retomadas entre em ação a transmissão automática, que é tão ágil que rarissimamente exige uma intervenção direta, via paddle shifts.

O tamanho externo e o espaço interno tornam o Polo um carro agradável de conviver. Apesar de não contar com grandes aparatos tecnológicos, tem recursos interessantes como painel digital, central multimídia com tela de bom tamanho, ar automático, sensores de luz, chuva e de obstáculos dianteiros e traseiros, além de câmera de ré. Nada que saia muito do normal. A impressão é que os diversos detalhes em vermelho no interior estão ali para lembrar que se trata de um hot hatch na melhor tradição da marca. E basta pressionar o acelerador para isso ficar bem claro.

Ficha técnica

Volkswagen Polo GTS

Motor: Gasolina e etanol, dianteiro, transversal, 1.395 cm³, turbo, com quatro cilindros em linha, duplo comando no cabeçote e quatro válvulas por cilindro. Acelerador eletrônico e injeção direta de combustível.

Transmissão: Câmbio automático com seis marchas à frente e uma a ré. Tração dianteira. Possui controle eletrônico de tração com bloqueio eletrônico do diferencial.

Potência máxima: 150 cv de 4.500 a 5 mil rpm com etanol e de 5 mil a 5.250 com gasolina.

Aceleração 0 a 100 km/h: 8,4/8,3 segundos com gasolina/etanol.

Velocidade máxima: 204/206 km/h com gasolina/etanol.

Torque máximo: 25,5 kgfm de 1.500 a 4 mil rpm com etanol e de 1.500 a 3.800 rpm com gasolina.

Diâmetro e curso: 74,5 mm X 80,0 mm. Taxa de compressão: 10,0:1.

Suspensão: Dianteira independente do tipo McPherson, com triângulos inferiores e amortecedores hidráulicos. Traseira por eixo de torção com braços longitudinais com molas helicoidais e amortecedores telescópicos hidráulicos. Oferece controle eletrônico de estabilidade.

Freios: Discos ventilados na dianteira e discos sólidos na traseira.

Pneus: 205/45 R18 em rodas de liga leve.

Carroceria Hatch em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Com 4,07 metros de comprimento, 1,75 m de largura, 1,48 m de altura e 2,57 m de distância entre-eixos. Oferece airbags frontais e laterais de série.

Peso: 1.222 kg em ordem de marcha.

Capacidade do porta-malas: 300 litros.

Tanque de combustível: 47 litros.

Produção: São Bernardo do Campo, São Paulo.

Preço da versão GTS: R$ 151.490,00

Opcional: pintura metálica (R$ 1.650).

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