Lugar único
Versão Touring do hatch da Honda fica acima dos atuais compactos – inclusive no preço
por Eduardo Rocha
Auto Press
A Honda havia colocado o novo City hatch em um posicionamento difícil. Trata-se de um modelo compacto, que briga com rivais que oferecem uma ampla gama de versões, enquanto o City tinha apenas duas: a de entrada EXL e a Touring, como a configuração avaliada. Depois de um impulso inicial de mercado, o hatch da Honda começou a perder vendas. Tanto que a marca decidiu popularizar seu hatch compacto com as versões EX e LX (aliviadas de diversos equipamentos, como o Honda Sensing). Ainda assim, os preços pedidos pela fabricante japonesa são bem salgados, o que justifica as dificuldades de mercado. A versão mais barata, LX, fica em R$ 113.600 e a EX, logo acima, em R$ 120.100. As versões com os sistemas de segurança ADAS são mais salgadas. A EXL sai a R$ 129.100, enquanto a top Touring sai a R$ 138 mil. Ou seja: valores muito acima do pedido pelas versões correspondentes dos concorrentes.
Isso se explica pelo fato de o City estar, a rigor, em uma categoria ligeiramente superior aos demais modelos compactos. Além da confiabilidade da marca, o hatch da Honda é moderno, tem um conteúdo atraente e ainda oferece um maior espaço interno, garantido por um entre-eixos de 2,60 metros. O modelo traz também recursos como sistemas de assistência à condução e sistema multimídia com espelhamento sem fio. A diferença de preço da top para as demais versões se explica pelo Honda Sensing mas também por equipamentos como faróis full led, inclusive de neblina, acionamento remoto do motor, sensor de estacionamento dianteiro e câmera para monitor a faixa à direita quando se aciona o pisca. Isso além de pequenos luxos como oito alto-falantes, saídas de ventilação e tomada de energia para o banco traseiro.
O maior destaque da versão Touring, no entanto, é mesmo o pacote Honda Sensing, com recursos de assistência à condução, ADAS na sigla em inglês e presente também na versão EXL. Os sistemas atuam a partir das imagens da câmera instalada no para-brisa que alimentam o controle de cruzeiro adaptativo, o alerta de colisão com sistema de frenagem autônomo com detecção de pedestres, o sistema de assistência de permanência em faixa com ação indutiva na direção e farol alto automático.
Desde a versão LX, porém, o City hatch traz seis airbags, ar-condicionado e central multimídia com tela de 8 polegadas e espelhamento sem fio de Android Auto e Apple CarPlay. Conforme vai subindo na escala de preços, vão aparecendo equipamentos mais sofisticados como sensor de estacionamento dianteiro e traseiro com câmera de ré, acendimento automático dos faróis, ar-condicionado digital automático, chave presencial para travas e ignição, acabamento em couro, painel com tela em TFT de 7 polegadas, carregador de celular por indução e espelho eletrocrômico.
Por fora, as linhas são idênticas às do sedã até a coluna central, com a característica grade frontal com uma grossa barra cromada e faróis afilados. De perfil, o modelo traz proporções semelhante ao de hatch médios, com o segundo volume, o do habitáculo, mais alongado, com um corte seco na traseira. As lanternas em led são horizontalizadas e bem alinhadas com a carroceria. O modelo é pelo menos 18 cm maior que qualquer hatch compacto do mercado, com exatos 4,34 metros de comprimento. Tem ainda 1,75 m de largura e 1,50 m de altura e os tais 2,60 m de entre-eixos. A base do motor do City é o antigo 1.5 usado na antiga geração da linha Fit/City, mas completamente reengenheirado, quando ganhou injeção direta, cabeçote com duplo comando e galerias de líquido de arrefecimento redesenhadas. A potência é de 126 cv, com torque de 15,5/15,8 kgfm. O câmbio é o CVT que já equipava o modelo, com modo manual de sete marchas simuladas e paddle shifts no volante (Texto e fotos de Eduardo Rocha, Auto Press) .
Ponto a ponto
Desempenho – O motor 1.5 litro aspirado do novo City hatch, de 126 cv pode não ter a configuração turbo tão na moda, mas ganha em confiabilidade. Ele tem uma dinâmica convincente, com agilidade nas acelerações, mas perde um pouco nas retomadas por conta da lentidão na reação do câmbio CVT. O zero a 100 km/h é feito em aceitáveis 10,8 segundos e não há falta de potência no uso cotidiano. Nota 8.
Estabilidade – O entre-eixos grande em relação ao comprimento total gera uma centralização de massas, o que sensação de estabilidade bem acentuada. A neutralidade do City aparece tanto nas sequências de curvas quanto em retas em velocidades mais altas. A plataforma tem boa rigidez e a suspensão ligeiramente rígida controlam bem a rolagem de carroceria nas curvas. A direção é muito direta e precisa. Nota 9.
Interatividade – A versão Touring coloca o City em um patamar mais alto que os demais hatches compactos. Isso aparece tanto pelo acabamento quanto pelos recursos ADAS, de assistência à condução, com monitoramento de faixa com esterçamento indutivo do volante, controle de cruzeiro adaptativo, alerta de colisão com frenagem autônoma e farol alto automático. Tem ainda painel de instrumentos digital configurável, central multimídia com espelhamento sem fio, câmera para a conversão à direita e câmera de ré e dos sistemas de assistência à condução. Os comandos são bem localizados e operação intuitiva. Nota 9.
Consumo – O Inmetro aferiu o consumo do Honda City hatch em 9,1 e 13,3 km/h na cidade e de 10,5 e 14,8 km/l na estrada, com etanol e gasolina. Esses números renderam nota A na categoria e B no geral. Nota 8.
Conforto – O City hatch tem uma cabine ampla, com um posicionamento do banco traseiro recuado em relação ao sedã, para privilegiar os passageiros em relação ao porta-malas. Os bancos dianteiros trazem uma estrutura interna que distribui o peso do corpo e reduz o cansaço em trajetos longos. A rigidez da suspensão e da plataforma tornam a rodagem mais áspera em pavimentos de pior qualidade, mas como a cabine é bem isolada acusticamente, há uma agradável sensação de solidez na rodagem. Nota 8.
Tecnologia – A Honda preferiu promover uma reengenharia no antigo motor 1.5, com um novo cabeçote multiválvulas com comando variável, em vez de adota um motor turbo. A intenção foi esticar o uso até a entrada em vigor do Proconve L8, em 2025, que terá níveis de emissões que obrigará as marcas a adotar sistemas híbridos. Por outro lado, a versão Touring conta com o Honda Sensing, central multimídia com espelhamento sem fio, painel digital, faróis full led e vários equipamentos que elevam o padrão do modelo. Nota 8.
Habitabilidade – O espaço interno é generoso, mas o porta-malas não impressiona, com seus 268 litros. Em compensação, há bastante versatilidade por conta do sistema do banco traseiro com rebatimento do encosto ou elevação do assento, que facilita o transporte de objetos compridos ou alto, além de triplicar o volume útil do porta-malas. Nota 9.
Acabamento – A Honda usa revestimentos que seguem a lógica de construção japonesa, que privilegia a durabilidade em detrimento do brilho. São materiais que não acusam o envelhecimento. O design, por outro lado, é simples e sem ousadia. Há couro sintético nos bancos, no câmbio e na lateral das portas. Nota 8.
Design ‑ O City hatch passa a impressão de ser um modelo de uma categoria superior. As linhas são facilmente identificadas com a marca, mas não têm qualquer ousadia. O modelo fica marcado pelo capô e pelo habitáculo alongados, que oferecem um aspecto mais elegante que o oferecido em geral por um hatch compacto. Não impressiona nem dá motivos para rejeições. Nota 7.
Custo/benefício – O Honda City hatch Touring a R$ 138 mil o torna um dos hatches compactos mais caros do mercado – só fica abaixo da versão esportiva GTS do Volkswagen Polo GTS . Por outro lado, é bastante completo, o que torna o custo/benefício vantajoso. Nota 7.
Total ‑ O Honda City Touring somou 81 pontos em 100 possíveis.
Impressões ao dirigir
Além do segmento
No mercado brasileiro, o City hatch fica a meio caminho entre hatches compactos e os hatches médios, que estão em vias de extinção. E é exatamente esse meio-termo que vem tornando o modelo da Honda. Na função de atrair o consumidor, o visual elegante, com a traseira curta e as linhas que valorizam a largura da carroceria, ajudam bastante e consolidam a imagem de modelo superior – bem de acordo com o preço. A modernidade do City é confirmada pelo Honda Sensing, com recursos de auxílio à condução, e pelos bons equipamentos internos.
As proporções da carroceria, com peso centralizado por conta do grande entre-eixos, dão ao City muita estabilidade e ao motorista a sensação de controle absoluto. Nas curvas, a suspensão de acerto firme impede as rolagens laterais e nas retas não há necessidade de correções. A direção é direta e o comportamento é extremamente neutro e previsível. Apesar de estruturalmente estar apto a um uso mais esportivo, o motor não segue este conceito. Ele tem boa potência, mas o fato de ser aspirado o torna extremamente comportado até alcançar os 3 mil giros. Uma vantagem para um carro tão tecnológico é a delicadeza no acionamento dos sistemas de auxílio à condução, que dão alertas sem maiores escândalos.
A suspensão e plataforma rígidas são rígidas. Não chegam a roubar o conforto dos ocupantes, mas ainda permitem uma certa invasão de ruídos de rodagem ‑ apesar do trabalho acústico feito no carro. O espaço do habitáculo, por outro lado, impressiona. Há muito espaço para pernas, ombros e cabeça e o modelo ainda conta com o sistema de configuração do banco traseiro, chamado de Magic Seat, que dá muita versatilidade em relação à carga. O Honda City hatch está em patamar realmente acima dos demais compactos do mercado. E o preço reflete isso muito bem.
Ficha técnica
Honda City Touring hatch
Motor: Gasolina e etanol, dianteiro, transversal, 1.497 cm³, quatro cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro, comando duplo no cabeçote e com tempo de abertura de válvulas variável na admissão. Acelerador eletrônico e injeção direta de combustível.
Transmissão: Transmissão continuamente variável (CVT) com sete marchas pré-programadas e paddle shifts no volante. Tração dianteira. Controle eletrônico de tração de série.
Potência máxima: 126 cv a 6.200 rpm com gasolina e etanol.
Torque máximo: De 15,5 a 15,8 kgfm a 4.600 rpm com gasolina e etanol.
Diâmetro e curso: 73,0 mm X 89,4 mm. Taxa de compressão: 11,4:1.
Suspensão: Dianteira independente do tipo McPherson. Traseira por eixo de torção. Controle eletrônico de estabilidade.
Freios: Discos ventilados na frente e tambor atrás. Oferece ABS com EBD, com sistema de frenagem autônoma na versão.
Pneus: 185/55 R16, com monitoramento de pressão.
Carroceria: Sedã em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Com 4,34 metros de comprimento, 1,75 metro de largura, 1,50 metro de altura e 2,60 metros de entre-eixos. Oferece airbags frontais, laterais e de cortina de série.
Peso: 1.170 kg.
Capacidade do porta-malas: 268 litros.
Tanque de combustível: 39,5 litros.
Produção: Sumaré, São Paulo.
Preço: R$ 134.600.
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