O amanhã sempre chega
BMW M760i polemiza no visual mas encanta por tecnologia e performance
por Alexandre Konstantonis
Autocosmos.com/México
Exclusivo no Brasil para Auto Press
O Série 7 sempre representou o máximo de potência, luxo, desempenho e tecnologia para a BMW. Os recursos inaugurados pela Série sempre são repassados para os outros modelos e séries nas respectivas atualizações. A primeira geração do modelo foi revelada em 1977 e desde então tem sido a referência da fabricante, principalmente em relação a requinte e sofisticação (na parte esportiva, o M1 fez história como o carro veículo mais emblemático da marca nos anos 1980). No Brasil, o Série 7 E32, de segunda geração, desembarcou logo após a liberação das importações, em 1991, nas versões 730i e 750i, com motores 3.0 litros 6L de 194 cv e 5.4 litros V12 com 300 cv. No final dos anos 1990, o modelo de terceira geração, E38, lançado em 1994, se transformou em um Bond Car, no filme “O Amanhã Nunca Morre”, que antecipava algumas engenhocas que aparecem na atual geração G70, a sétima, lançada em 2022. No Brasil, a BMW não comercializa esta versão do Série 7 e aposta apenas na versão elétrica i7, que é vendida por valores acima de R$ 1,3 milhão. A versão avaliada, M760i xDrive, tem desempenho semelhante e é mais completa em recursos ‑ trata-se de um carro realmente extravagante em termos tecnológicos e digno de um filme de James Bond.
As linhas do modelo são obra dos designers do tcheco Jozel Kabañ, oriundo da Rolls-Royce e Bugatti, onde criou o Veyron, e do alemão Sebastian Simm, responsável pelo conceito do BMW X2 de 2016. O resultado do trabalho foi um modelo que se afasta das premissas que a BMW usou ao longo de sua história. A começar pelas imensas grades, embora mantenham o conceito de serem verticalmente bipartidas, agora mais parecem dois grandes octógonos, com acabamento em preto brilhante, que separa os conjuntos óticos de duas alturas.
De perfil, chama a atenção o capô longo, o para-brisa bem inclinado e o teto com um caimento suave em direção à traseira, num ponto intermediário entre um sedã tradicional e um cupê. Na traseira é bem robusta e traz lanternas horizontais e afiladas, que foram posicionadas na parte superior. O escape quádruplo traz duas saídas falsas e duas funcionais.
As dimensões do modelo são bem generosas. O série 7 tem 5,24 metros de comprimento, 1,90 m de largura, 1,49 de altura, com entre-eixos de 3,21 m. Para mover os 2.180 kg do modelo, o 760i traz sob o capô um V8 twin turbo de 4.4 litros que rende 544 cv entre 5.200 e 6.500 rpm (gira bem alto), com torque de 76,6 kgfm entre 1.800 e 5 mil rotações. O câmbio automático é de oito marchas e distribui a força pelas quatro rodas. O sedã é capaz de acelerar de zero a 100 km/h em 4,7 segundos e a máxima é limitada a 250 km/h. Além desta motorização, que pode ser definida como convencional, o novo Série 7 tem ainda versões plug-in híbridas e uma versão totalmente elétrica, i7.
Por dentro, o modelo promove uma verdadeira explosão de sentidos. Desde os materiais usados até as texturas, acabamentos e iluminação ambiente ‑ que pode ser configurada entre milhares de cores ‑ tudo estimula a ideia de requinte e luxo. Há acabamento piano em todos os lados, e muitos dos controles, como o iDrive, o seletor de transmissão e o controle de ajuste do banco, são em cristal lapidado com iluminação interna. Os alto-falantes das portas também trazem um halo iluminado por trás da borda da grade. Tudo é de ótima qualidade, mas não será difícil encontrar quem ache tudo isso muito exagerado.
Em relação aos recursos, em um carro do o Série 7, é indicado começar pelo banco traseiro, onde em geral viaja o proprietário do veículo. E o conteúdo é realmente impressionante. Ali os dois passageiros têm telas individuais sensíveis ao toque localizadas nas portas. Este monitor tem as dimensões aproximadas de um smartphone grande ou de um mini tablet e através deles se controla o som, a enorme tela central instalada no teto e o funcionamento das cortinas de privacidade. A tela traseira principal é algo inédito em modelos de série. Ela tem um sistema dobrável e sua diagonal de 31,3 polegadas (80 cm) é em formato 32:9 com resolução 8K. O marketing, obviamente, tratou de criar logo um nome chique: BMW Theatre Screen.
A primeira fila do Série 7 não fica muito atrás em tecnologia, já que ele tem tela curva dividida. Na parte do painel de instrumentos, ela é em TFT totalmente configurável com 14,9 polegadas – o head up display projetado no para-brisa tem quase o mesmo tamanho. Na parte central, onde fica a central multimídia propriamente, ela tem 10,3 polegadas e pode ser acessada tanto por toque quanto pelo botão do iDrive. O sistema é de 8ª geração e oferece uma função de navegação por realidade aumentada, que através de comandos de voz pode alterar o tipo de informação exibida nos mapas ou a visualização das câmeras 360 a pedido do motorista (Fotos de divulgação).
Impressões ao dirigir
Sedã hi-tech
É até intimidante estar na posição de motorista de um Série 7. Desde o primeiro contato, percebe-se o nível tecnológico da nova geração desta BMW. No entanto, na simples aproximação com a chave, as travas de liberam como que fazendo um convite. Uma vez lá dentro, os estímulos aos sentidos começam com o aroma interior, com o cheiro do couro bem curtido predomina, com o aroma-assinatura da marca. Ao pressionar o botão de partida localizado no console central, há um show luminoso nos painéis das portas, que se conectam com uma barra de luz que atravessa a parte inferior do painel de um lado para o outro. Todos os controles de vidro localizados no console central e nas portas também são iluminados… Não se pode acusar o espetáculo de discreto. Ainda mais na cor configurada, um verde estridente.
Muitas funções são controladas pelo enorme e chamativo botão em cristal do iDrive. Depois de uns 20 minutos configurando o 7 para um padrão menos festivo, foi possível colocar o modelo em marcha. Assim que se movimenta, o sedã oferece uma visão periférica com todas as câmeras disponíveis, coisa providencial em um veículo tão grande. Em trânsito, muitos mais detalhes ficam evidentes. A visibilidade é quase perfeita, não há muitos pontos cegos e o trabalho das câmeras é complementado pela tradicional visão dos retrovisores laterais.
A viagem é de primeira classe: sempre suave e confortável. A vibração do som surround é sentida até mesmo nos bancos, que também trazem diversos programas de massagem, além de ventilação e aquecimento dos assentos, operados pelos controles táteis do console central. No tráfego denso, no entanto, aparece um dos maiores erros que a BMW cometeu no G70. O sistema de abertura automática das portas e permite sair e entrar no veículo sem tocar em nada. Embora pensado para evitar o trabalho de abrir a porta, pode ser involuntariamente acionado se o carro estivar a até 10 km/h, pois o botão está exposto no apoio de braço. A porta tem sensores que impedem que se abra completamente caso tenha ou se aproxime algum obstáculo, mas o sistema gera uma sensação de insegurança quando acontece.
Já o desempenho impressiona pelo lado positivo. O V8 twin turbo de 544 cv pode ser configurado em dois modos de condução: Normal e Sport. Para ir de um para outro, basta puxar o seletor de transmissão para comutar de D para S e vice-versa. No modo Sport, o desempenho é muito mais radical, com reações explícitas ao toque no acelerador. A direção também fica um pouco mais firme. A dirigibilidade é impecável, seja a 30 ou 240 km/h, não há dúvidas e novamente destaca a perfeição da BMW em fabricar carros extremamente luxuosos que oferecem desempenho de um esportivo – levando em conta suas limitações com dimensões e peso.
Um detalhe: na espátula de redução de marcha no volante, há uma etiqueta com a inscrição “Boost” e ao acionar este paddle shift, ocorre um Over Boost de 10 segundos, em que aceleração fica muito mais rápida, se comparado ao uso do acelerador. Claro que a brincadeira é interessante e divertida, mas se reflete imediatamente no consumo excessivo de combustível, que não é nada modesto em um V8. Nos aproximadamente 500 km em que o Série 7 foi avaliado, foram consumidos 75 litros de gasolina. Ou seja: 6,6 km/litro (resultado que tornou risível a promessa de consumo na ficha técnica, de 11,9 km/l).
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