TT: despedida em alto nível
Eduardo Rocha
TT: despedida em alto nível

O fim da história

Em clima de adeus, Audi TT RS é a melhor versão do cupê em 25 anos de estrada

por Maurício Juarez

Autocosmos.com/México

Exclusivo no Brasil para Auto Press

Na história do automóvel, há marcas que têm dezenas e até centenas de modelos diferentes, mas há sempre apenas uns pouco que conseguem se tornar icônicos. Isso pode acontecer por conta do design, do desempenho, ou até mesmo pela durabilidade. A marca alemã Audi tem alguns automóveis que subiram este olimpo automotivo, como o superesportivo R8, RS2 Avant e o Quattro – todos exaltados como uma obra-prima de engenharia. Mas na virada do século, foi criado no centro de design do Grupo Volkswagen, na Califórnia, um ícone de estilo inconfundível: o Audi TT.

Nos 25 anos de produção, o TT teve três gerações. O cupê evoluiu e termina a sua história com uma versão RS de 400 cv, que ao mesmo tempo que encanta, deixa já saudosistas os amantes de esportivos. O TT se despede com o TT de produção mais rápido e desportivo já produzido. Esta terceira geração pode até não ser tão emblemática em termos de design quanto a primeira, mas não há dúvida de que tem o visual mais agressivo de todos. Quando nasceu, em 1998, o modelo trazia linhas inspiradas no estilo Bauhauss., sob o comando do designer Peter Schreyer. E ele ganhou tanto prestígio a partir daí que acabou indo para a Kia, mudou a marca de patamar e hoje é um dos três presidentes da empresa sul-coreana.

Todas as três gerações apresentam o característico teto em elipse, mas além disso, o TT RS de terceira geração tem outros atrativos visuais. Caso do pacote de detalhes escurecido, a grade gigantesca, as rodas de 19 polegadas que permitem vislumbrar os enormes discos e pinças vermelhas, o spoiler fixo e escapamentos ovais, que explicitam o toque da preparadora Audi Rennsport. E tudo isso em um carro que tem 4,19 metros de comprimento e 1,34 m de altura, com 1,83 m de largura e 2,51 m de entre-eixos. São dimensões ideias para um esportivo que aposta não só na potência bruta, mas que segue o conceito de agilidade e leveza e pretende ter vida fora das pistas em track days.

Por dentro, apesar de não parecer tão icônico quanto o original, ele tem certos detalhes que o homenageiam o estilo do TT de 1998. Principalmente nas saídas de ar redondas e que inteligentemente também envolvem os controles do ar-condicionado, numa referência a turbinas de avião. A alavanca de câmbio é um pouco redonda e um painel relativamente limpo.

Outro detalhe interessante é o seu painel de instrumentos digital. O TT, aliás, foi o primeiro modelo de linha a contar com o famoso Virtual Cockpit que integrou GPS e central multimídia, sem a necessidade de contar com uma tela central, exatamente nesta terceira geração de 2014. Com 10 anos de estrada, o TT RS também traz elementos em que a passagem do tempo é perceptível, desde a definição da tela até o módulo de luz interna, um tanto antigo.

Mesmo assim, o equipamento tem mais do que suficiente para os dias de hoje. Por exemplo: conexão sem fio com Apple CarPlay e Android Auto, sistema de áudio Bang & Olufsen, bancos com corte esportivo com ajuste elétrico para o motorista, ar-condicionado automático, iluminação ambiente configurável, espelho eletrocrômico, navegação nativa, entre outros. Especificamente da versão, há o RS touch, com ignição e modos de condução em botões no volante e inserções de Alcantara. Obviamente, trata-se de um esportivo e por mais amigável que seja no dia a dia, não é um primor de praticidade. Há um porta-malas de 305 litros, o suficiente para um par de malas. Além disso, embora haja um banco traseiro, a verdade é que só é utilizável por quem tem menos de 1,20 m de altura – ou seja, crianças até 8, 10 anos.

Sob o capô está o conhecido motor FSi 2.5 litros turbo de cinco cilindros que já alimentou várias gerações dos menores Audi RS. Neste TT RS ele produz 400 cv de potência e 49 kgfm de torque. Este motor está acoplado a uma caixa de dupla embreagem de sete velocidades, que distribui a força do motor para as quatro rodas. Com 1.515 kg, a peso/potência é explosiva, de 3,78 kg/cv. Como ainda conta com uma ótima gestão eletrônica e com a tração quattro da Audi, o zero a 100 km/h leva apenas 3,7 segundos, sendo que a velocidade máxima é limitada a 250 km/h (Fotos de divulgação).

Impressões ao dirigir

Ponto de equilíbrio

O TT sempre compartilhou uma plataforma com modelos médios de tração dianteira, ou seja, primeiro tinha o PQ34 e depois o PQ35, ambas compartilhadas com o A3. Nesta última, foi usada a arquitetura modular MQB. Assim, em um nível dinâmico, ele sempre teve um certo sabor hot hatch, em vez de um carro esportivo de tração traseira como sua silhueta cupê induz a pensar. Além da plataforma leve e bem equilibrada, a Audi é mestre em eletrônica e na distribuição de peso.

Atrás desse equilíbrio, a marca sempre intensificou o uso de alumínio e outros materiais leves na parte dianteira. Por isso mesmo, o TT sempre foi um carro, fácil de manusear, ágil, leve e reativo. Ele gerencia a tração tão bem que torna o condutor pensar que é um piloto muito melhor do que realmente é. Isso se traduz em muita diversão ao volante.

A suspensão deste RS é muito boa em pista e estrada, mas não há dúvida de que na cidade pode ser desconfortável. Ela é muito, muito firme em todas as ocasiões e até os fantasmas dos divisores de pista são muito sentidos, sem falar nos solavancos. Especialmente quando tem rodas de 19 polegadas e pneus de perfil tão baixo.

A direção é extremamente precisa, com o peso e a velocidade ideais, mas quase nenhum feedback da assistência elétrica. O que mais emociona no TT RS é o som que produz e como ele acelera. É um daqueles carros que provoca sorrisos apenas ao acionar o motor. O escape opcional é extremamente barulhento, mas o nível de ruído pode ser modulado nas configurações do carro.

O TT RS é tão agressivo e tão pronto para saltar que no dia-a-dia da condução e no trânsito pesado a caixa pode dar uns trancos. Mesmo que esteja no modo conforto. Um ponto surpreendente é a visibilidade, muito boa. Por fim, devido ao peso e tamanho, é um carro ideal para se autodenominar esportivo, com muita agilidade, estabilidade e qualidade de direção.

É estranho se dar conta que essa emoção nunca mais estará disponível, com a interação entre o ruído do motor, do escapamento, da transmissão e tudo o que envolve a condução de um carro a combustão. Mas para além do saudosismo, é preciso reconhecer que qualquer um que fale mal de um esportivo elétrico nunca dirigiu um, pois são muito potentes e dispostos a acelerar. Mas a experiência com um RS e-tron , por exemplo, até agora não consegue produzir o grau de interação e intimidade que um TT pode produzir.

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