BMW IX
Eduardo Rocha
BMW IX

Perdido na tradução

BMW iX tem requinte e conforto, mas falta o padrão dinâmico da marca

por Jorge Beher

Autocosmos.com/Chile

Exclusivo no Brasil para Auto Press

A divisão i da BMW começou seus trabalhos como um experimento. Até porque eles contrariavam conceitualmente a tradição de esportividade da marca. A fabricante alemã é, ainda hoje, uma das poucas marcas de automóveis que podem usar o adjetivo dinamismo com total e absoluta propriedade em todos os seus modelos, mesmo os menos esportivos. Mas há um outro lado da BMW, que tem a ver com propostas de ponta e desenvolvimento. A BMW i não estava focada no dinamismo, mas em propor um veículo ecológico premium construído em torno desses objetivos. É por isso que o i3 e o i8 foram fabricados em células de compósito de fibra carbono reforçada com plástico com subestruturas de alumínio, corpos poliméricos e tinham uma proposta de design muito conceitual. O crossover iX manteve esse caminho do futurismo, mas com uma aposta mais consolidada, voltada à moda do mercado. A xDrive 40 avaliada, tem a mesma motorização da configuração de entrada oferecida atualmente no Brasil a partir de R$ 699.950.

O iX oferece uma experiência de condução única e passa a imagem de um carro de luxo do futuro. Para conseguir isso, no entanto, o modelo compromete parcialmente sua identidade. O BMW iX é um SUV elétrico mais afeito ao asfalto, daí poder ser classificado como crossover. E isso fica evidente no design, onde as partes inferiores são decoradas em preto brilhante, um acabamento nada indicado para um modelo utilitário ou com o qual se pretenda percorrer estradas de terra ou trechos mais desafiantes. Tem um tamanho volumoso, 4,95 metros de comprimento e 3,00 m entre-eixos, espaço que é usado para abrigar as baterias e também, para oferecer uma cabine espaçosa.

Seu design tem novos elementos e que pouco a pouco são vistos nos BMW mais novos, como as maçanetas embutidas, niveladas com a porta, mas com uma abertura para colocar as mãos. Também há superfícies e dobras menos proeminentes, grandes rodas de dois tons e, a parte mais polêmica de todas, a enorme grade frontal que a BMW defende com unhas e dentes, mas que não parecem combinar com nenhum modelo – nem mesmo com os inaugurais M3 e M4, apesar de possuírem arcos de roda protuberantes que ajudam a gerar maior equilíbrio visual na frente.

Esta grade é cega, sem aberturas, como costuma acontecer em modelos elétricos. Mas não é apenas um elemento estético de identidade. A BMW aproveitou para esconder sensores e radares relacionados aos sistemas ADAS. A BMW chama esse conceito de Shy Tech, (literalmente, Tecnologia Tímida), que basicamente se refere à presença discreta de funções e elementos tecnológicos. Por exemplo: há uma bomba d’água que sai do emblema no capô para limpar as câmaras. No interior, as guarnições de alumínio nas portas camuflam alguns botões.

Por dentro, tudo é novo e diferente do que tradicionalmente uma BMW traz. Por exemplo, como não há caixa de câmbio ou eixo do cardã, o piso é plano, como de uma van. As portas não têm maçanetas, apenas botões para abrir as portas. Os principais controles para mover o carro e operar o sistema iDrive 8 estão flutuando no módulo central, onde o enorme apoio de braço também está localizado e se abre em par para dar acesso a um amplo compartimento. Botões de vidro, couro curtido com extratos de azeitona, têxteis recicláveis e outros dão uma atmosfera muito luxuosa, mas, ao mesmo tempo, futurista – talvez até demais um fã tradicionalista da BMW.

Em relação à tecnologia, a iX traz várias coisas interessantes. Caso do teto panorâmico com difusor eletrocromático (Sky Lounge), que com controle para escurecer ou clarear. Há também o sistema de áudio 4D Bowers & Wilkins, com nada menos que 30 alto-falantes. Outro ponto atraente é o console de vidro curvo, onde se localizam as duas telas de 12,3 polegadas estão alojadas – que mais parece uma evolução do conceito criado pela rival Mercedes-Benz, que tinha vidro plano. E mais: HUD a cores, controle climático de três zonas e um poderoso pacote de assistência à condução com cerca de 10 programas.

Em suma, tudo muito futurista, e também muito requintado, tanto na escolha das cores quanto dos materiais, que transformam a experiência sensorial. O grande número de funções pode ser intimidante no primeiro contato, mas não é um carro difícil de operar, especialmente porque as telas são grandes e legíveis, além de haver comandos físicos que ajudam em tudo.

Para animar as coisas, o BMW iX xDrive 40 tem tração integral, o que significa que tem dois motores elétricos (eDrive de 5ª geração), um em cada eixo. Juntos, esses motores desenvolvem 326 cv e 64,2 kgfm de torque máximo. Com isso, o iX pode chegar a 100 km/h em 6,1 segundos e 200 km/h de velocidade máxima. O trem de força é alimentado por uma bateria com capacidade líquida de 74,4 kWh, que oferece uma autonomia de até 435 km, com todas as condições a favor. Com um peso de 2.440, a BMW repetiu alguns truques aprendidos com o i3 e o i8, por isso usou peças recicladas de alumínio, magnésio e o mesmo polímero reforçado com fibra de carbono, ou CFRP, na sigla em inglês.

Impressões ao dirigir

Em busca da dinâmica perdida

A avaliação do BMW iX não ocorreu numa condição ideal. Isso porque a ideia dos representantes foi criar uma caravana com os modelos ecológicos da marca alemã. Esta dinâmica impôs diversas limitações para o teste das capacidades do crossover, mas ainda assim foi suficiente para que o modelo expusesse o estilo de condução que oferece. Foi aí que ficou clara a razão pela qual muitos chamam o iX de anti-BMW. É um excelente SUV, mas não é manuseável como um BMW. E é por isso, basicamente, que ele compromete o valor da marca em relação ao dinamismo. Esta perda de característica é causada diretamente pelo comportamento do trem de força elétrico.

Quando se entra em um Audi, a experiência de condução é definida pela aderência oferecida pela tração quattro, algo que pode ser corretamente emulado em um trem de força elétrico. Com a Mercedes-Benz, o luxo e tecnologia são mantidos e a motorização elétrica se destaca pela autonomia, eficiência, durabilidade, resistência e versatilidade. A parte mais exigente em termos de dinâmica fica entregue para o departamento AMG. Mas a BMW forjou a fama com carros de condução requintada, sem importar se era um modelo de entrada ou um M. Um trem de força excepcional, um ótimo chassi e um manuseio único são mais valorizados até que a qualidade ou design dos carros. E isso falta no iX.

O crossover acelera forte e de forma consistente, recupera energia com a mesma agressividade com que o consome, embora não seja o mais performático dos modelos elétricos. Tudo isso, com excelente isolamento da cabine, uma grande sensação de conforto no chassi, acomodado em uma poltrona requintada, de frente para algumas telas hi-tech e com um amplo espaço disponível na cabine. E é aí que falta a ergonomia de um Série 3 convencional, a posição de condução mais envolvente, a sincronia perfeita entre um bom seis-em-linha bem-ajustado à transmissão, seja manual ou automática. O iX é um SUV que isola o condutor do melhor da experiência de conduzir um BMW. É muito pesado, muito assistido e muito sintético, mesmo se comparado com modelo menos nobre no aspecto dinâmico, como o X4 ou o X6.

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