Foco no mercado
Citroën equilibra custo e benefício da versão Shine para ganhar vendas com seu SUV compacto
por Eduardo Rocha
Auto Press
Para crescer nos negócios no Brasil, Citroën foi buscar mercado onde a disputa é menos encarniçada. Primeiro lançou um hatch com cara de SUV compacto, que é o C3. Na sequência lançou um SUV compacto que parece realmente um SUV, mas tem características de minivan. O primeiro movimento, com a chegada do C3 hatch , deu certo. As vendas anuais passaram de 19 mil em 2021 para 32 mil em 2023. Já a chegada do Aircross, na prática, em março, ainda não teve tempo suficiente para surtir efeito. Nos três meses plenos do modelo, a média de emplacamentos foi de 900 unidades – 40% do que a rival Chevrolet Spin consegue. Explica-se: a Citroën tem de reconquistar a confiança do consumidor.
Inicialmente, o C3 Aircross só chegou ao mercado na versão de cinco passageiros, que não tinha muito mais a oferecer em relação a qualquer outro SUV compacto do mercado. Na verdade, a proposta é brigar no preço. A versão avaliada, a top Shine T200, tem preço de partida de R$ 128.590 – com pintura em dois tons vai a R$ 131.590. A lista de equipamento, no entanto, é modesta: central multimídia Uconnect com tela de 10 polegadas e espelhamento sem fio, painel digital, ar analógico, bancos em couro sintético, câmera e sensor de ré, rodas de liga leve de 17 polegadas e diversos detalhes de acabamento. Já em relação à segurança, o Aircross economizou o que pôde. Além dos itens obrigatórios por lei, tem apenas airbags laterais.
Mas o novo SUV da Citroën tem pelo menos dois pontos altos. O espaço interno e a motorização. O primeiro caso, a boa altura da cabine gera um interior espaçoso e amplo – tanto vertical quanto longitudinalmente. O modelo tem 4,32 metros de comprimento, com entre-eixos de 2,68 m e 1,65 m de altura. Comparado ao C3, é 34 cm mais comprido, 13,5 cm maior no entre-eixos e 9 cm mais alto. A largura também é 13 cm maior, mas isso não se reflete no interior – que é evidentemente de carro compacto. Isso ocorre por conta dos para-lamas bastante proeminentes, que ajudam a dar um estilo robusto e imponente ao SUV da marca francesa.
Já o motor é o GSE T200, produzido pela Fiat em Betim, capital brasileira da Stellantis. Esse propulsor é o único que alimenta o modelo em todas as suas versões. Ele rende 125/130 cv com gasolina/etanol e o torque é sempre de 20,4 kgfm (ou 200 Nm). Ele é gerenciado por um câmbio CVT cm sete marchas pré-programadas como modo sequencial na própria alavanca de câmbio. Em todos os aspectos, o Citroën focou o C3 Aircross para cavar um lugar no nicho de SUV/crossover familiar e enfrentar a, até pouco tempo, a solitária Spin. A briga promete (Fotos: Eduardo Rocha, Auto Press).
Ponto a ponto
Desempenho – O único motor em toda a gama C3 Aircross é o GSE 1.0 turbo de três cilindros, de origem Fiat. Ele lida bem com os mais de 1.200 kg do C3 AirCross, mas sem sobras. As acelerações e retomadas são progressivas e em tempos aceitáveis – zero a 100 km/h em 9,7 segundos ‑, mas é perceptível um incômodo turbolag assim que o acelerador é pressionado. O ajuste do câmbio é mais alongado que o de outros modelos com mesma motorização – inclusive nas relações das marchas pré-programadas –, pois a ideia é privilegiar a eficiência em detrimento do desempenho, mais indicado para o perfil familiar do modelo. Nota 8.
Estabilidade – O C3 Aircross tem uma boa altura livre para o solo e acerto de suspensão bem firme, que controla bem a carroceria e encara bem buracos e desníveis. Esse acerto até rouba um pouco do conforto dos ocupantes, o que em parte é compensado pelos pneus 215/60 R17, com flanco de 12,9 cm. Como a proposta é andar no asfalto e na cidade, não chega a ser um problema. A direção elétrica é muito leve e agradável de manusear. Nota 8.
Interatividade – O centro das atenções no habitáculo do C3 Aircross é a central multimídia Uconnect, de 10 polegadas e conexão sem cabo. A tela fica em posição elevada para facilitar a visualização, mas não tem controle físicos: os comandos são diretamente na tela. O painel digital de sete polegadas nessa versão é configurável e é bastante informativo. A versão tem câmera e sensor de ré, mas apesar de ser uma versão topo de gama não traz itens já usuais em compactos nessa faixa de preço, como chave presencial, alerta de colisão, presente no rival Chevrolet Spin. Nota 7.
Consumo – Chama a atenção a diferença de consumo quando o C3 Aircross dependendo do combustível. Nas mesmas condições, o consumo de etanol é cerca de 40% maior que o de gasolina – reflexo dos padrões de emissões, mais fáceis atender com etanol. As médias na cidade e na estrada foram de 7,4 e 8,6 km/l com etanol e 10,6 e 12,0 km/l com gasolina. São números sofríveis para um compacto e recebeu notas C na categoria e no geral. Nota 6.
Conforto – O interior do C3 Aircross é bem espaçoso e o teto alto reforça a sensação de amplitude. Como é alto e tem boa distância para o solo, consegue encarar bem os desníveis, mas a suspensão é rígida e transfere para os ocupantes boa parte das irregularidades. Os bancos seguram bem o corpo, mas poderiam ser mais macios. O isolamento acústico não é dos mais eficientes e o ronco do motor GSE T200 é percebido sempre que é exigido. Nota 8.
Tecnologia – Apesar de ser um projeto recente, o C3 Aircross tem pouco a oferecer além da vistosa central multimídia de 10 polegadas e espelhamento sem cabo. A plataforma é uma versão simplificada para países periféricos da CMP, usada, por exemplo, no C3 europeu. Isso significa, entre outras coisas, numa menor capacidade de responder aos testes de segurança. O C3 Aircross ainda não foi testado pelo Latin NCap, mas o C3, estruturalmente semelhante, recebeu zero estrelas nos testes de impacto. Além dos equipamentos obrigatórios, o modelo tem a mais apenas os airbags laterais. Nota 5.
Habitabilidade – A boa altura da cabine oferece uma postura mais ereta dos ocupantes, o que torna o espaço no C3 Aircross muito amplo para cabeças e pernas. Já a largura reflete a condição de compacto e atrás, o ideal é levar dois adultos ou três crianças. O acesso ao interior é facilitado pela altura do modelo e o porta-malas de 493 litros é extremamente generoso – até porque o projeto foi pensado para sete passageiros bom para a categoria. Nota 8.
Acabamento – O interior do C3 Aircross é o exatamente o mesmo da versão hatch. A combinação de texturas e cores é de bom gosto, mas não há qualquer preocupação com a ideia de luxo ou requinte. Ao contrário: os materiais usados explicitam a preocupação com custo de produção. Na versão em questão, o revestimento é em couro sintético um tanto despojado, bem no conceito para o qual a marca foi vocacionada em seus últimos anos de PSA. Nota 6.
Design – O C3 Aircross impressiona muito mais pessoalmente que em fotos. Por conta das proporções de altura e largura adotada no modelo, ele parece menor do que é. In loco, é imponente e tem linhas bastante atraentes – seguindo bem o estilo do C3. Mesmo que tenha uma versão para sete lugares com essa mesma carroceria, não passa a impressão de ter sido alongado, como costuma acontecer com carros com essa capacidade – como o Chevrolet Spin, o Jeep Commander ou o Mercedes-Benz GLB. Nota 8.
Custo/benefício – Como o objetivo da Citroën é aumentar a participação no mercado brasileiro, o preço é uma ferramenta fundamental. O modelo é menos equipado que o rival direto Spin, mas tem um preço de largada mais atraente, de R$ 112 mil com câmbio CVT contra R$ 119 mil com câmbio manual do carro da Chevrolet. Na versão mais completa com cinco lugares, o C3 Aircross também leva vantagem no custo/benefício. Nota 8.
Total – O Citroën C3 Aircross Shine T200 somou 72 pontos em 100 possíveis.
Impressões ao dirigir
Lógica funcional
Nas fotos, o Citroën C3 Aircross é um carro simpático, com linha equilibradas agradável. Pessoalmente, ele soma a estas características uma inesperada imponência. O SUV é alto, largo, com para-lamas proeminentes, e tem um aspecto robusto, quase bruto. Os vincos fortemente marcados na carroceria, uma característica do atual estilo da marca no Brasil, dão um ar ainda mais sólido ao modelo. Por dentro, é um C3 hatch um pouco mais alto e um pouco mais longo, com um porta-malas que beira os 500 litros.
A posição de dirigir é mais altiva, o que melhora o controle do que se passa em torno. Por outro lado, não se justifica em um projeto tão recente não ter ajuste de profundidade no volante. Por dentro, a ideia era ser despojado, mas houve um certo exagero. Os materiais são simples demais e os revestimentos são em plástico duro, com exceção dos bancos e do forro do teto. Há economia também nos equipamentos. Mesmo sendo uma versão de topo, tem pouquíssimos recursos. Tem a chamativa central multimídia Uconnect com 10 polegadas em lugar de destaque e um bom painel digital, bem mais completo que o do C3 hatch. Além disso, tem ainda airbags laterais, câmera e sensor de ré, controle de cruzeiro, rodas de liga leve e só. Pouco para um carro de R$ 130 mil.
Sob o capô, o C3 Aircross traz o motor GSE T200, a versão turbinada do Firefly 1.0 de três cilindros. Esse motor, aliás, equipa todas as versões do SUV compacto. Trata-se de um propulsor extremamente moderno, com válvulas de admissão controladas pelo sistema eletro-hidráulico Multiair, comandado por um câmbio CVT. Ele rende 125/130 cv e 20,4 kgfm e é capaz de acelerar o modelo de zero a 100 km/h abaixo de 10 segundos. O conjunto tem uma programação mais calma, focando na economia, o que deixa o turbolag mais evidente – o torque só está a pleno em 1.750 rpm. Apesar de ser ágil depois que passa dessa fase, até ali parece faltar um pouco de disposição.
Não chega a ser um problema em um automóvel com uma vocação familiar tão explícita. E mesmo que a Citroën tenha decidido endurecer um pouco a suspensão para tem um maior controle de carroceria, o Aircross não maltrata os ocupantes. Parte das vibrações são absorvidas pelos pneus de perfil alto, 215/60 R17, e a boa distância para o solo dá segurança para encarar a buraqueira brasileira de casa dia.
Ficha técnica
Citroën C3 AirCross Shine T200
Motor: Gasolina e etanol, dianteiro, transversal, 999 cm³, três cilindros em linha, sobrealimentado por turbocompressor com wastegate elétrica e quatro válvulas por cilindro. Comando de válvulas no cabeçote por sistema eletro-hidráulico MultiAir na admissão e por eixo comando simples no escape. Injeção direta de combustível sequencial e acelerador eletrônico.
Potência máxima: 125/130 cv a 5.750 rpm com gasolina/etanol.
Torque máximo: 20,4 kgfm a 1.750 rpm com gasolina/etanol.
Transmissão: Câmbio CVT com acoplamento por conversor de torque com 7 velocidades pré-programadas à frente e uma à ré. Tração dianteira.
Aceleração 0-100 km/h: 9,7 e 9,9 segundos com etanol e gasolina.
Velocidade máxima: 191 km/h com etanol e gasolina.
Diâmetro e curso: 70,0 mm X 86,5 mm. Taxa de compressão: 10,5:1
Suspensão: Dianteira do tipo McPherson independente com barra estabilizadora, molas helicoidais e amortecedores hidráulicos telescópicos pressurizados a gás. Traseira com travessa deformável, molas helicoidais e amortecedores hidráulicos telescópicos pressurizados a gás.
Pneus: 215/60 R17.
Freios: A disco ventilado na frente e tambor na traseira com ABS e EBD.
Carroceria: Utilitário esportivo em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Com 4,32 metros de comprimento, 1,80 m de largura, 1,65 m de altura e 2,68 m de distância entre-eixos. Altura mínima do solo de 20 cm. Oferece airbags frontais obrigatórios.
Peso: 1.216 kg.
Capacidade do porta-malas: 493 litros.
Tanque de combustível: 47 litros.
Produção: Porto Real, Brasil.
Lançamento mundial: abril de 2023, na Índia.
Lançamento no Brasil: outubro de 2023.
Preço da versão Shine T200: R$ 128.590.
Opcionais: Pintura em duas cores (R$ 3.000).
Preço da versão testada: R$ 131.590.
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