A estratégia da Titano
Eduardo Rocha
A estratégia da Titano

Novo front

Fiat aposta na relação custo/benefício da Titano para se instalar no segmento de picapes médias

por Eduardo Rocha

Auto Press

O segmento de picapes é especialmente generoso para a Fiat. Atualmente, a marca detém 43% do mercado brasileiro, basicamente com dois modelos: a compacta Strada e a média-compacta Toro. Nesse ambiente, nada mais natural que atacar o segmento imediatamente acima, de picapes médias, que representa 30% do mercado de picapes no país. A solução mais imediata para isso foi se valer do arsenal de modelos das marcas que compõem o Grupo Stellantis e aproveitar o fato de a Peugeot Landtrek ser produzida no Uruguai, na montadora terceirizada Nordex. No caso, a Fiat criou a Titano dando uma nova embalagem, ou um rebadged, da Peugeot Landtrek – modelo que é vendido em diversos países sul-americanos. Embora a marca francesa tenha tradição em utilitários em diversos países mundo afora, não é exatamente esta a fama da Peugeot por aqui.

O mercado de picapes médias tem uma lógica de funcionamento bem diverso da que comanda os segmentos de veículos baseados em arquitetura monobloco, como são a Strada e a Toro, a onde a novidade é valorizada. Aqui a tradição pesa muito na decisão de compra e, por isso, a Fiat meio que oferece uma espécie de bônus nesses primeiros meses de venda. Os preços da Titano são mais acessíveis do que os praticados no nicho. O modelo de entrada, Endurance, que tem câmbio manual e é direcionada ao trabalho, custa na tabela R$ 219.990, cerca de R$ 25 mil abaixo das versões equivalentes das rivais. A versão avaliada, a topo de linha Ranch, está cotada em R$ 259.990, é bem equipada e custa em média R$ 60 mil a menos que as versões de topo das rivais.

A picape média da Fiat traz os recursos mais usuais nas top do segmento. Os mais relevantes são revestimento em couro, bancos dianteiros com ajustes elétricos, central multimídia com tela touch de 10 polegadas, com espelhamento sem fio para Apple CarPlay e Android Auto, câmera 360º, sensores de obstáculos dianteiros e traseiros, ar-condicionado com duas zonas, rodas de liga leve de 18 polegadas, faróis de neblina, estribos laterais, capota marítima e santantônio, chave presencial para travas e ignição e sensor de chuva. No visual, a versão se diferencia por detalhes cromados, como frisos e maçanetas. Na parte de segurança, a Titano traz seis airbags e monitor de faixa.

Na estética, inclusive, a Titano não traz diferenças marcantes em relação ao modelo-base, Landtrek. O design segue uma linha um tanto genérica – até porque também não saiu dos estúdios da Peugeot, na França, mas a partir de uma colaboração com a chinesa Changan. A frente alta traz faróis horizontalizados e para-choque em forma de duplo Y deitado na cor da carroceria. A Titano se diferencia apenas pelo desenho da grade em preto brilhante e pelo logotipo cromado da Fiat, que aparece em letras garrafais tanto na frente quanto na tampa da caçamba. Por dentro, a personalidade da Peugeot aparece em elementos como saídas de ar quadrangulares, formato do miolo do volante e teclado de comandos no console central.

Sob o capô, mais um exemplo da sinergia das marcas. O motor turbodiesel de 2.2 litros é o mesmo usada em utilitários como Fiat Escudo ou Peugeot Boxer e chega importado da França. Ou seja: é um autêntico BlueHDI, que rende 180 cv e 40,8 kgfm. Ele é gerenciado por uma transmissão automática de seis marchas que direciona a força para as rodas traseiras. Ele conta ainda com acoplamento 4X4 e reduzida e bloqueio manual do diferencial traseiro, que juntamente com o vão livre de 23,5 cm e ângulos de ataque e saída de 27º e 29º, oferecem boa capacidade de off-road para a picape da Fiat.

Com pouco mais de três meses de vendas efetivas, a Titano ainda não mostrou grande poder de atração sobre os consumidores. Atualmente, o modelo está com vendas próximas às da Volkswagen Amarok, com cerca de 700 emplacamentos por mês. A ideia da Fiat, por outro lado, é mais focada em ampliar a oferta de picapes do que buscar a liderança, como Strada e Toro. Até porque a capacidade de produção da Nordex – da qual a Stellantis é controladora ‑ é de apenas 30 mil unidades por ano e de lá saem três furgões grandes e dois médios, além das unidades da Peugeot Landtrek (Fotos de Eduardo Rocha, Auto Press).

Ponto a ponto

Desempenho – O motor 2.2 litros turbodiesel tem bastante força em baixos giros, mas é pouco elástico. As acelerações são fortes e progressivas, mas a Titano não é rápida, embora o câmbio automático interprete bem as solicitações no acelerador de seis marchas. Com 180 cv e 40,8 kgfm, a picape da Fiat é menos poderosa que as rivais, mas não se percebe durante o uso, seja na cidade, no asfalto ou no off-road. Nota 8.

Estabilidade – A suspensão de longo curso absorve razoavelmente bem o impacto de buracos, mas não filtra tanto as irregularidades. Em compensação, oferece um bom controle de carroceira e impede que a flutue em velocidades mais altas ou role demais nas curvas. Os pneus com 15,9 cm de flanco geram um pouco de imprecisão na direção, mas geram um bom conforto. Nota 7.

Interatividade – A Titano Ranch traz chave presencial, volante multifuncional, câmera 360º e central multimídia com espelhamento sem cabo com Android Auto e Apple CarPlay. Traz ainda sensores dianteiros e traseiros e monitor de faixa. O controle do sistema de tração é bastante simples de operar e a transmissão automática facilita a vida do motorista. Nota 8.

Consumo – Na aferição do InMetro para o Programa de Etiquetagem do InMetro, a Titano Ranch teve médias de 8,5 km/l na cidade e 9,2 km/l na estrada, que receberam notas D na categoria e E no geral. É uma das mais beberronas do segmento. Nota 4.

Conforto – Além do excelente espaço interno, a picape da Fiat roda suavemente e é silenciosa. A ergonomia do banco, mas faz falta um ajuste de profundidade para o volante. É um veículo agradável, que inspira uma condução calma e tranquila. A suspensão filtra as irregularidades e minimiza os solavancos maiores. Nota 9.

Tecnologia – A Titano não tem nada que fuja ao óbvio, mas responde minimamente às demandas do segmento. Traz central multimídia conexão com celular sem cabo, que é moderna e fácil de operar. Em relação a segurança, além dos recursos obrigatórios, conta com sensor de faixa e airbags laterais e de cabeça. O sistema de tração é robusto e simples de operar. Para uma versão de topo que custa acima de R$ 250 mil, faltam recursos ADAS. Nota 7.

Habitabilidade – O acesso ao habitáculo é facilitado pelas alças presentes nas colunas de todas as portas e pelos estribos presentes na versão. O espaço interno é extremamente generoso, com bastante conforto a bordo. A espaço para carga é o maior do segmento e capota marítima da versão e a tampa com chave dão segurança para usar a caçamba como porta-malas. Mas é indicado recorrer a acessórios que dividam o compartimento ou prendam a carga, para que os objetos não fiquem sendo jogados com o carro em movimento. Nota 9.

Acabamento – O acabamento da Ranch tenta conciliar a necessidade de usar materiais resistentes e ainda transmitir algum requinte, como topo de linha. E essa sensação é oferecida basicamente pelos revestimentos em couro nos bancos, no apoio de braços e nos painéis das portas. Por fora, esse luxo é transmitido pelos cromados no acabamento. No mais, a Titano parece pronta a enfrentar uma vida mais dura. Nota 8.

Design – O design da Titano não segue o conceito visual da Fiat e acaba sendo um tanto genérico, sem muitos elementos que diferenciem a picape na multidão. As linhas são típicas de modelos da década de 2010, embora sejam simples e agradáveis. Internamente, os elementos são típicos de carros da Peugeot e são atraentes. Detalhes como grade em preto brilhante e detalhes cromados marcam o estilo da versão. Nota 7.

Custo/benefício – Nessa chegada ao mercado, a Fiat aposta no poder de atração de uma tabela de preços. A Titano tem os itens mais esperados numa versão de topo do segmento. Faltam os recursos ADAS presentes nos rivais, o modelo custa entre 10 e 20% a menos que os rivais diretos com recursos semelhantes. Nota 8.

Total – A Fiat Titano Ranch somou 75 pontos em 100 possíveis.

Impressões ao dirigir

Combinado estradeiro

O desempenho da Fiat Titano é bem típico de picapes no conceito clássico. Trata-se de utilitário com motor diesel de pequena amplitude de giro, com faixa vermelha a partir de 5 mil rotações. De qualquer forma, é agradável de conviver, com funcionamento suave e força de sobra para enfrentar percursos razoavelmente desafiadores Como qualquer picape média, é desajeitada para andar nas ruas apertadas das cidades brasileiras ou achar vagas de estacionamento que caibam seus 5,33 metros.

O habitáculo oferece muito espaço para cabeça, pernas e ombros dos ocupantes. Aqui, a Titano leva uma vantagem na segunda fileira de assentos, por conta do encosto com um bom ângulo de reclinação, o que gera maior conforto para quem se instala ali. Na frente, além do espaço, há um bom console central com porta-copos, nichos para objetos e um amplo apoio de braços central, que conta com um compartimento de boas dimensões.

O luxo dos revestimentos internos em couro presente na versão Ranch é acompanhado por um nível de conforto elevado, inclusive pela boa ela ergonomia. Tem ainda ar-condicionado duplo e uma central multimídia bastante amigável e eficiente. O acerto das suspensões torna a picape amigável em caminho pouco colaborativos e ainda oferece um ótimo controle de carroceria para uma picape. Há uma certa perda de precisão na direção por conta dos pneus de perfil alto Wrangler Territory AT, da Goodyear, mas isso é da natureza de uma picape com estrutura em chassi de longarina, ainda mais as que têm uma atitude off-road.

Ficha técnica

Fiat Titano Ranch 2.2 TD 4X4

Motor: Diesel, dianteiro, longitudinal, 2.179 cm³, sobrealimentado por turbo de geometria variável, com quatro cilindros em linha, duplo comando no cabeçote e 16 válvulas. Injeção direta de combustível.

Potência máxima: 180 cv a 3.750 rpm.

Torque máximo: 40,8 kgfm a 2 mil.

Diâmetro e curso: 85 mm X 96 mm. Taxa de compressão: 16,0:1

Transmissão: Câmbio automático de seis marchas à frente e uma a ré. Tração 4X2 com 4X4 e 4X4 com reduzida, controlada por seletor eletrônico rotatório.

Aceleração 0-100 km/h: 12,4 segundos

Velocidade máxima: 175 km/h.

Suspensão: Dianteira independente com quatro braços oscilantes, molas helicoidais, barra estabilizadora e amortecedores telescópicos hidráulicos pressurizados. Traseira com feixe de quatro molas semielípticas de duplo estágio e amortecedores hidráulicos. Oferece controle de estabilidade.

Pneus: 265/60 R18.

Freios: Dianteiros por discos ventilados e traseiros a tambor. ABS com EBD de série.

Carroceria: Picape cabine dupla montada sobre longarinas com quatro portas e cinco lugares. 5,33 metros de comprimento, 1,96 m de largura, 1,86 m de altura e 3,18 m de distância entre-eixos. Altura mínima do solo de 23,5 cm. Tem seis airbags de série.

Capacidade off-road: Ângulo de entrada: 29° Ângulo de saída: 27º

Peso: 2.150 kg.

Capacidade de carga: 1.020 kg.

Capacidade da caçamba: 1.220 litros.

Tanque de combustível: 80 litros.

Produção: Montevidéu, Uruguai.

Lançamento da geração no Brasil: março de 2024.

Preço: R$ 259.990.

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