Kardian é um bom recomeço
Eduardo Rocha
Kardian é um bom recomeço

Sedução gradual

Renault Kardian passa a emplacar bem e já se aproxima da venda dos rivais

por Eduardo Rocha

Auto Press

Apesar dos seis meses de lançado, o Renault Kardian ainda tem um ar de ineditismo quando anda pelas ruas. O caso é que nos primeiros meses o carro emplacou relativamente pouco. Somente a partir do quinto mês no mercado, as vendas começaram a decolar. Em junho emplacou 40% mais que em maio, em julho foram mais 35% e de setembro em relação a agosto cresceu quase 50%, batendo 3.303 unidades, partindo das 1.200 unidades de maio. Esse movimento mostra que a Renault está recuperando a confiança no mercado– e o brasileiro é um dos consumidores menos fiéis do mundo -, ao mesmo tempo que esta demora para arrancar deixa claro o quanto o Kardian representou uma quebra de paradigmas da marca, com estilo, a motorização e conceito novos. E a versão avaliada, a First Edition, é a que que o crossover tem tudo para contar uma história diferente daqui para a frente.

Nessa altura, a versão First Edition já devia ter dado lugar à Iconic (ou designação que o valha), mas a demora a embalar nas vendas esticou o período de lançamento. A futura versão topo de gama terá o mesmo conteúdo, com itens como faróis são full led, barra no teto modulares, faróis de neblina, rodas de liga leve escurecidas aro 17 e pintura em duas cores. No interior, o destaque vai para console central elevado, freio de estacionamento de acionamento eletrônico, luz ambiente configurável, acabamento em tecido e couro sintético, apoio de braço, ar-condicionado digital, direção e trio elétricos, chave presencial, carregador por indução, painel digital de 7 polegadas e central multimídia com tela de oito polegadas e espelhamento sem fio.

Mas é na parte de segurança que a versão faz diferença. Além de seis airbags, de série em toda a linha, o Kardian tem conjunto de câmeras 360º, sensores dianteiros e traseiros, alerta de colisão frontal com frenagem autônoma, controle de cruzeiro adaptativo, alerta de ponto cego, sensor de luminosidade com farol alto automático.

Na parte estética, o Kardian é o primeiro modelo brasileiro a ostentar a nova logo da marca, com losangos entrelaçados. As linhas são orgânicas e arredondadas, sem elementos geométricos, o que faz o SUV parece até menor do que é. O modelo tem 4,12 metros de comprimento, 1,75 m de largura, 1,54 de altura e conta com um bom entre-eixos de 2,60 m. A capacidade do porta-malas é de 358 litros.

O Kardian é animado por um motor 1.0 turbo com 120/125 cv e 20,4/22,4 kgfm de torque com gasolina/etanol. Este propulsor, TCe 1.0, é uma versão com três cilindros do TCe 1.3 e traz as mesmas tecnologias, como duplo comando variável, revestimento de peças DLC (Diamont-Like Carbon), eixo de comando movimentado por corrente e dos cilindros BSC (Bore Spray Coating), um revestimento de aço aplicado por plasma, método que reduz o atrito. Já o câmbio é o DW23, de dupla embreagem úmida, com mudanças através de borboletas no volante ou por uma pequena alavanca no console central, tipo joystick (Fotos de Eduardo Rocha, Auto Press).

Ponto a ponto

Desempenho – O motor TCe 1.0 turbo de três cilindros é muito elástico e está sempre cheio, pronto para imprimir velocidade ao crossover da Renault. Não apresenta turbolag nem nas retomadas a partir de giros baixos. Além disso, o câmbio de dupla embreagem é extremamente rápido e muda de acordo com o modo de condução acionado, Eco, Sport ou a combinação dos dois no modo My Sense. Mesmo sem alterar o modo, o câmbio entende bem a intenção do motorista e esticando bem as marchas nas tocadas mais esportivas e adotando uma dinâmica bem suave em conduções mais calmas. Nota 9.

Estabilidade – O Kardian tem uma suspensão bem ajustada, que oferece conforto, mas prioriza o controle de carroceira. Consegue filtrar bem as irregularidades, para manter uma boa qualidade de vida a bordo, mas impede a rolagem lateral. A direção tem boa comunicação com as rodas em velocidades mais alta, não exige correções de trajetória. Nota 8.

Interatividade – O painel digital de sete polegadas é funcional e configurável, mas não muito intuitivo. Para determinadas funções, muitas vezes é preciso comandos indiretos – caso dos modos de condução, que são acessados pela tela de oito polegadas da central multimídia. Por outro lado, o espelhamento de celulares sem fio é muito simples e direto. A versão traz ainda chave presencial, sensor traseiro com câmera de ré e pode ter o motor acionado remotamente. A charmosa alavanca de câmbio no estilo joy-stick é bem agravável de usar. Nota 8.

Consumo – De acordo com o Inmetro, o Renault Kardian registrou médias urbanas de 9,0 e 13,1 km/l e rodoviárias de 9,7 e 13,9 km/l, respectivamente com etanol e gasolina. São resultados rendem nota B na categoria e C no geral. Nota 7.

Conforto – Apesar da suspensão firme e dos pneus de perfil 55, com 11,3 cm de flanco, irregularidades do piso são filtradas antes de chegar aos passageiros. A rodagem é macia e a sensação é a de que o Kardian é bastante sólido. Os bancos são confortáveis, têm ótimo apoio lateral e sustentam bem o corpo de quem vai na frente. O motor 1.0 turbo ronca um pouco quando exigido, mas nem condições normais mal dá para escutá-lo. Até porque o isolamento acústico é bem eficiente. Nota 8.

Tecnologia – A arquitetura do Kardian é RMP, Renault Modular Platform, uma evolução da CMP-B LS usada nos modelos Dacia. Trata-se de uma plataforma de baixo custo, mas bastante moderna e adaptável. O motor, por outro lado, é uma versão de três cilindros do ótimo TCe 1.3, desenvolvido juntamente com a Mercedes-Benz, com eixo de comando movimentado por corrente – e não por correia, um sistema que tem se mostrado frágil. O propulsor é acoplado a um câmbio de dupla embreagem banhado em óleo, que também tende a ser mais resistente a situações adversas, como o clima tropical. Já a central multimídia é semelhante à que a Renault há usava em modelos como Duster e Oroch, que é simples e eficiente. O Kardian tem um pacote de ADAS bem completo, com sensor de ponto cego, controle de cruzeiro adaptativo, frenagem autônoma, farol alto automático etc. Nota 9.

Habitabilidade – O Kardian tem dimensões generosas para o segmento, principalmente por conta do entre-eixos de 2,60 metros e da boa altura do teto. O aproveitamento da área interna é bom, com espaço para pernas, cabeças e ombros, principalmente na frente. O console central elevado dá um charme ao habitáculo e área do carregador de celular tem resfriamento para evitar o aquecimento do aparelho. Um outro ponto interessante é a iluminação indireta nas portas configurável. Outro bom espaço fica no compartimento sob o apoio de braços central. O acesso ao interior é facilitado pela boa altura do veículo e o porta-malas, com 358 litros, tem tamanho compatível com o segmento. Nota 8.

Acabamento – A Renault caprichou nas texturas e padrões de acabamento do Kardian. A decoração traz detalhes em laranja, em harmonia com a cor externa do modelo nessa versão de lançamento. O revestimento dos bancos, painel e console frontal traz detalhes em couro sintético de boa qualidade. Nota 7.

Design – O visual do Kardian traz elementos do estilo mais recente aplicado pela Renault na Europa, em modelos como o Megane E-Tech. São linhas modernas e limpas, com detalhes como guarnições em preto brilhante, como na grade, emprestam um certo requinte ao crossover. Os volumes são equilibrados e o perfil do modelo é bem clássico – semelhante até ao do Sandero. No final das contas, o Kardian passa a sensação de modernidade e robustez. Nota 8.

Custo/benefício – O Kardian Première Edition é muito bem equipado, mas o preço não é dos mais acessíveis. Na mesma faixa de preços, de R$ 138 mil, brigam Fiat Pulse Impetus e Volkswagen Nivus Comfortline. Os três se assemelham em desempenho, mas o crossover da Renault é ligeiramente o mais completo em relação a recursos ADAS e é o que tem o conjunto mais moderno. Nota 8.

Total – O Renault Kardian Première Edition somou 80 pontos em 100 possíveis.

Impressões ao dirigir

Nova dinâmica

O Kardian representa uma renovação completa para a Renault no Brasil. Tem acabamento caprichado, motor e câmbio modernos e um bom pacote tecnológico, principalmente em relação à segurança. E representa um verdadeiro ganho, mesmo que traga ainda algumas pitadas da Dacia, pois a plataforma RMP é uma evolução da lançada em 2020 na terceira geração do Sandero. O Kardian, porém, traz uma estética mais próxima à usada pela Renault na Europa, sem aquelas economias de materiais que transmitem um excesso de despojamento que tanto prejudicaram a imagem da marca por aqui.

As linhas orgânicas e arredondadas são simpáticas e modernas. Detalhes como grade em preto brilhante, lanterna 3D e a assinatura luminosa dão um certo requinte ao modelo. E ainda tem um bom pacote de equipamentos, com recursos ADAS – dos principais, somente o monitor de faixa ficou de fora. Estão lá o sensor de ponto cego, o controle de cruzeiro adaptativo, o alerta de colisão com frenagem autônoma e a câmera 360º. Outro destaque do Kardian é o trem-de-força. O motor 1.0 turbo de três cilindros de 120/125 cv de potência e 20,4/22,4 kgfm de torque. O câmbio, com paddle shifts no volante, é automatizado de dupla embreagem úmida.

Com este conjunto, o Kardian acelera de forma progressiva desde a arrancada, sem qualquer sinal de turbolag. Acelerações e retomadas são convincentes, mas não exatamente esportivas – como fica claro com o zero a 100 km/h em 9,9 segundos. Em movimento, o crossover da Renault mostra um bom equilíbrio entre conforto e estabilidade: é firme o suficiente para controlar a carroceria nas curvas e neutralizar os movimentos em alta velocidade, mas também tem uma boa capacidade de filtrar as irregularidades do pavimento. Este ajuste de suspensão compensa o centro de gravidade elevado, por conta da altura de 1,54 metro, e deixa o comportamento geral Kardian quase como o de um hatch.

Ficha técnica

Renault Kardian Première Edition

Motor: Gasolina/etanol, transversal, dianteiro, com 999 cm³, três cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro, comando duplo no cabeçote variável na admissão e no escape, com turbocompressor e injeção direta.

Transmissão: Automatizado de dupla embreagem banhado a óleo com seis marchas à frente e uma à ré. Tração dianteira.

Potência: 125 cv com gasolina e 130 cv com etanol e 5 mil rpm.

Torque: 20,4 kgfm com gasolina a 2 mil rpm e 22,4 kgfm com etanol a 2.250 mil rpm.

Diâmetro X curso: 72,2 x 81,4 mm.

Taxa de compressão: 11,1:1.

Aceleração 0-100 km/h: 9,9 segundos.

Velocidade máxima: 180 km/h.

Carroceria: Crossover compacto com quatro portas e cinco lugares. Com 4,20 metros de comprimento, 1,75 m de largura, 1,54 m de altura e 2,60 de distância entre-eixos. Altura mínima para o solo de 20,9 cm. Ângulo de 20º de ataque e de 36º de saída. Airbags frontais, laterais e de cabeça de série.

Suspensão: Dianteira tipo McPherson com rodas independentes, amortecedores hidráulicos, molas helicoidais, barra estabilizadora e braços oscilantes inferiores. Traseira com eixo de torção com barra estabilizadora, rodas semi-independentes, amortecedores hidráulicos e molas helicoidais.

Freios: Dianteiro a disco ventilado com pinça flutuante. Traseiro a tambor. ABS com controle de partida em rampa e controle de estabilidade.

Pneus: 205/55 R17.

Peso: 1.186 kg em ordem de marcha com 433 kg de capacidade de carga.

Porta-malas: 358 litros.

Lançamento: março de 2023.

Capacidade do reservatório de combustível: 50 litros

Produção: São José dos Pinhais, Paraná.

Preço: R$ 138.990.

Preço da versão avaliada: R$ 140.890.

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