Foguetinho de bolso
Eduardo Rocha
Foguetinho de bolso

Hot hatch com pedigree

Quarta geração do Mini Cooper S fica mais digital, mas mantém a consagrada dinâmica de kart

por Jorge Beher

Autocosmos Chile

Exclusivo no Brasil para Auto Press

Sob a carroceria do novo Mini Cooper S, estão as mesmas bases da geração anterior, sem maiores alterações estruturais. Nessa renovação, no entanto, ele apresenta novos atributos minimalistas e digitais que poderiam até confundir a antiga conexão entre motorista e máquina. Mas exatamente por ter a mesma plataforma BMW ULK1 de 2014, usada na geração passada, o novo Cooper S manteve a lógica de valorizar o condutor e, como em um kart, nada além do motor e das rodas importa.

Obviamente, os Minis de hoje não são analógicos como antigamente, mas em um mundo em que os carros estão cada vez mais sintéticos, o Mini ainda valoriza o prazer que de quem está ao volante. O Mini Cooper S desembarcou no Brasil em julho, poucos meses depois de ser apresentado na Europa. A versão avaliada, de duas portas e quatro lugares, está sendo oferecida por R$ 239.990 – enquanto a versão de quatro portas e cinco lugares começa em R$ 249.990.

Por fora, o Cooper S de duas portas sofreu pequenas alterações. Aumentou 5 cm no comprimento, 2 cm na altura e outros 2 cm na largura. Agora tem, respectivamente, 3,87 metros, 1,43 m e 1,74 m, mas permaneceu com o mesmo entre-eixos, de 2,50 m – 2,57 m na versão de quatro portas. Por dentro, o modelo ficou um pouco mais refinado. Isso tem a ver com o conceito de estilo que a marca propôs para a atual quarta geração, batizado de Charismatic Simplicity, ou simplicidade carismática. Isso significa que há menos ornamentos, muita comunicação digitalização e elementos de melhor qualidade.

Entre itens removidos estão a entrada de ar no capô (que não tinha função real), os emblemas no painel à frente das portas e também a tampa do combustível no estilo esportivo. As lanternas traseiras não têm mais o design ovóide do modelo anterior e agora assumem um formato triangular, ainda com referência à bandeira britânica, Union Jack. Elas trazem seções internas em led com design personalizável, assim como as luzes dianteiras, onde você pode escolher a assinatura luminosa.

As mudanças não chegam a descaracterizar o Mini Cooper e ainda cumpre a proposta de dar mais frescor e modernidade se cumpre. Mas embora mantenha as linhas usuais, retirar detalhes de rebeldia como a entrada de ar no capô ou os escapamentos visíveis esterilizam um pouco. É como se estivessem domando e atenuando um carro que é conhecido e tem personalidade fortemente enraizada nos detalhes de identidade retrô do modelo.

Por dentro, o Mini Cooper exibe uma mistura de ideias, algumas muito positivas e outras nem tanto. Em relação ao design, a marca substituiu elementos plásticos por alguns do tipo tecido, como o console frontal, que também possui um padrão esportivo e efeitos de luz – com pontos que refletem a iluminação do painel principal. Houve uma diminuição no uso de materiais menos requintados. Já o volante é excessivamente grosso, como costuma acontecer nos modelos da BMW, mas não na Mini.

Em termos de equipamentos, há de tudo, incluindo teto solar duplo, sistema de travamento por aproximação da chave presencial, climatização dupla, carregador sem fio, bancos elétricos aquecidos e até uma câmera grande angular para tirar fotos com os amigos. Já o protagonista do interior é mesmo a clássica tela circular no centro do console, que agora tem tela OLED com 24 cm de diâmetro. O sistema operacional é o Mini OS9 com assistente de voz. Ele combina muito bem com a barra de comando inferior, onde há chaves para ligar o carro, mudar os modos direção e controlar a transmissão, ecoando o design original do Mini clássico. A tela tem altíssima resolução e gráficos atraentes e criativos, mas o uso é terrivelmente complexo.

Esse excesso de digitalização faz com que as funções muitas vezes não tenham uso tão óbvio. Apenas os modos Verde e Go Kart ativam os gráficos relacionados, enquanto os demais modos podem oferecer outras funções. Existe um modo personalizado, que sincroniza com o aplicativo Mini e um perfil online associado a uma chave digital. Há também muita interação, que nem sempre é prático. Mas alguns realmente melhoram a experiência. Por exemplo, tocar no velocímetro digital resultará na exibição completa do velocímetro em toda a tela. E assim por diante com diferentes testemunhas ou funções. As interfaces deveriam ser intuitivas em primeiro lugar.

Em termos de segurança, a assistência ao motorista é padrão, incluindo assistência de direção e controle de faixa, aviso de saída de faixa, aviso de colisão frontal com intervenção de freio e aviso de colisão traseira. Possui ainda um Assistente de Estacionamento com controle ativo de distância de estacionamento e câmera de ré panorâmica. Ele ainda tem controle de cruzeiro adaptativo. Claro, também incorpora o básico, com seis airbags de série, freios ABS com EBD, controle dinâmico de tração e estabilidade, ISOFIX, entre outros. A melhor novidade foi a incorporação do head-up display nesta versão. Considerando que não há um cluster diante do condutor, ter acesso aos dados vitais do carro no para-brisa é muito apreciado para evitar distrações ou olhar para a tela.

Impressões ao dirigir

Alma esportiva

Como o Mini Cooper S a combustão ainda é baseado na geração anterior, ele também manteve o excelente motor 2.0 com turbo duplo (Twin Scroll) e injeção direta. Mas após uma revisão, a potência foi aumentada de 192 para 204 cv e torque máximo de 28,5 para 30,6 kgfm, com aceleração de zero a 100 km/h em 6,6 segundos – era 6,7 s –, graças a uma caixa automática de dupla embreagem Steptronic de sete velocidades, com paddle shifts no volante, que também ativa também com modo Boost.

Como o torque máximo está disponível entre 1.450 e 4.500 rpm, significa acesso imediato a toda a potência do motor, ideal para o que o Mini sempre foi: um hatch hot devorador de curvas e estradas sinuosas, que leva vantagem em dirigibilidade sobre carros mais potentes. A caixa de câmbio, por ser muito inteligente, se adapta aos modos de condução e sabe quando reduzir a marcha ou quando segurar a marcha em giros mais altos, de acordo com a mensagem que o condutor manda pelo acelerador.

O Mini Cooper S é um daqueles carros que não importa o quão rápido se dirija, vai ser divertido. Mesmo com o modo Verde ativado, a manobrabilidade, a suspensão, o feeling de kart, dado pela curta distância entre eixos, e a resposta mecânica, enfim, tudo torna requintada a condução do carro, seja um passeio agradável ou um dia de pista. Existem muito poucos carros que podem ser definidos assim hoje. Portanto, em um carro tão bem aprimorado mecanicamente é de se lamentar que esteja manchado por tantos elementos digitais ou supérfluos. Não custava nada ter um volante mais fino como um Porsche ou um Mercedes-Benz, ou para tornar a interface de controle mais intuitiva, devolver alguns botões ao comando, deixar o escapamento exposto e oferecer a opção de caixa de câmbio manual.

Uma mudança perceptível é que o Mini Cooper ficou um pouco mais confortável do que seu antecessor. É firme e bem plantado, mas menos rígido, para não alienar um público mais maduro. E houve uma especial atenção para o ruído do motor que entra na cabine, porque drama em um carro esportivo é importante. Aqui o ronco é ouvido mais na frente do que atrás e o resto é amplificado sinteticamente pelos alto-falantes. Coisas falsas são sempre discutíveis, mas pelo menos a emulação é um pouco mais real e complementar do que em outros carros. Pelo InMetro, o consumo é de 10,2 km/l na cidade e 13 km/l na estrada, mas como é um carro divertido e difícil de dirigir devagar, certamente o consumo em uso vai ser maior.

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