
Conexão com o mercado
2008 reanima as vendas da Peugeot com design, requinte e boa dinâmica
por Eduardo Rocha
Auto Press
A rigor, a Peugeot não é mais uma marca nacional. A montadora francesa transferiu toda sua produção de automóveis para El Palomar, na Argentina, e de lá os manda para serem vendidos por aqui. E enquanto o presidente maluquinho Javier Milei não atrapalhar, essa geografia não deve interferir. O que fez diferença para o mercado brasileiro foi a fusão de operações da PSA com a FCA, que resultou na Stellantis, e a chegada de uma moderna linha de compactos. Isso alavancou o hatch 208 e agora impulsiona ainda mais o SUV compacto 2008. Para dar uma ideia: o cansado 2008 da primeira geração vendeu em 2023 apenas 1.728 unidades. Menos do que o novo 2008 vendeu em cada um dos meses de outubro, novembro ou dezembro de 2024. Na média dos seis primeiros meses, esta segunda geração cumpriu uma média mensais acima dos 1.500 exemplares.
Além da nova estrutura comercial, as qualidades do próprio 2008 foi responsável pelo aumento significativo do poder de atração. Para começar, o visual no SUV compacto consegue ser original, requintado e moderno. Externamente, as linhas seguem um padrão agressivo iniciado na segunda geração do 3008. Internamente, mostra uma evolução do conceito i-cockpit, inaugurado na primeira geração do hatch 208 – com o painel de instrumentos sendo visto acima do volante – foi incrementado por uma emulação de 3D. Além disso, o padrão de acabamento chama a atenção pela qualidade e refinamento.
Além disso, a versão avaliada, a top GT, vem com um verdadeiro arsenal de equipamentos que vai desde revestimento em couro sintético de boa qualidade até um pacote com diversos recursos ADAS. O modelo conta ainda com teto solar panorâmico, chave presencial para travas e ignição, iluminação em led, ar-condicionado automático, câmera 360º e central multimídia de 10,3 polegadas com espelhamento de celulares sem fio.
Na parte mecânica, ele traz o mesmo motor Turbo 200 gerenciado por um câmbio CVT presente em diversos outros modelos do Grupo Stellantis, como o próprio Peugeot 208, além de Fiat Fastback e Citroën C3. Com 1.300 kg, o SUV é o modelo mais pesado com o propulsor com 125/130 cv e 20,4 kgfm com gasolina/etanol. Por essa relação de peso e potência, o 2008 é o mais lento deles, com um zero a 100 km/h em 10,1/10,6 segundos e a máxima de 194/191 km/h, com etanol e gasolina. O consumo prometido, por outro lado, é o melhor deles, com médias de 8,6 e 9,8 km/l com etanol e 12,3 e 13,7 km/l com gasolina na cidade e na estrada.
Um ponto que pesa em relação ao desempenho de vendas é o preço. Quando efetivamente chegou ao mercado, em setembro, o modelo chegou com preços entre R$ 119.990 e R$ 149.990, como oferta de lançamento. Logo na sequência, a Peugeot acrescentou R$ 24 mil a cada versão – coisa que espantou a freguesia. Atualmente, apesar dos preços oficiais serem entre R$ 143.990 e R$ 173.990, a marca oferece descontos em torno de R$ 15 mil. Não é suficiente para transformar o SUV da Peugeot um campeão de vendas, mas para uma marca que estava muito devagar no Brasil, é um alento (Fotos de Eduardo Rocha, Auto Press).
Ponto a ponto
Desempenho – O motor do Peugeot 2008 é o GSE 1.0 turbo de três cilindros, de origem Fiat. Um pequeno turbolag é percebido, principalmente nas reacelerações, até por conta dos 1.300 kg – ele é ligeiramente mais pesado que outros modelos da Stellantis com essa motorização. Isso se reflete também no zero a 100 km/h, com 10,1 e 10,6 segundos com etanol e gasolina. Ainda assim, nada incomoda realmente no comportamento do SUV compacto, que mostra acelerações progressivas e vigorosas e boas recuperações. E o bom câmbio CVT com sete marchas pré-programadas tem bom papel nesse desempenho. Com o botão Sport acionado, o modelo fica um pouco mais agressivo, tanto no desempenho quanto no consumo. Nota 8.
Estabilidade – O 2008 tem um acerto de suspensão que harmoniza bem conforto e estabilidade. O conjunto controla bem a carroceria e encara com alguma destreza buracos e desníveis, graças também à boa altura livre do solo de 22,8 cm. Parte do conforto é devolvido aos ocupantes pelos pneus 215/60 R17, com 12,9 cm de flanco. A andar no asfalto e na cidade não é problema e encarar trechos de terra também não, desde que não sejam radicais. Nota 8.
Interatividade – O Peugeot 2008 traz o característico painel i-cockpit 3D, que é visualizado por cima da direção. Para ter essa arrumação, o volante é reduzido e rebaixado, o que obriga ao condutor a se adaptar ao carro, o que ocorre sem maiores dramas. O efeito 3D é obtido por duas telas sobrepostas, cada uma exibindo parte das informações. O painel em si tem gráficos atraentes e é facilmente configurável. A central multimídia Uconnect com tela de 10,3 polegadas e conexão sem cabo outro ponto positivo do habitáculo do 2008. Um pequeno teclado sob a saída de ar central traz os comandos da ventilação – a temperatura é controlada digitalmente diretamente na tela da central. Nessa versão GT, o 2008 conta com chave presencial, câmera 360º e recursos ADAS do Peugeot Driver Assist, como frenagem autônoma, farol alto automático, sensor de ponto cego etc. Ficou de fora o controle de cruzeiro adaptativo. Nota 9.
Consumo – Os dados de consumo do 2008 obtidos pelo InMetro apontam para um consumo de 8,6 e 9,8 km/l com etanol na cidade e na estrada e 12,3 e 13,7 km/l com gasolina. É melhor que outros modelos da Stellantis com essa mesma motorização, como Fiat Pulse e Citroën C3 Aircross, o que rendeu nota B na categoria e C no geral. Nota 7.
Conforto – Por dentro, o 2008 é espaçoso, com uma boa altura interna e ainda conta com um teto panorâmico. mas o caimento acentuado do teto alto rouba um pouco o espaço para a cabeça de quem vai atrás. Como é alto e tem boa distância para o solo, consegue encarar bem os desníveis, mas a suspensão é rígida e transfere para os ocupantes boa parte das irregularidades. Os bancos são bem moldados e seguram bem o corpo. O isolamento acústico é bom. Nota 8.
Tecnologia – A versão GT é a mais completa do 2008. Ele é construído sobre a arquitetura CMP, semelhante à usada na Europa. Além disso, conta com um pacote Peugeot Driver Assist, que traz diversos recursos ADAS. O motor Turbo 200 é moderno, mas poderia trazer, como o Fiat Fastback, o sistema de bloqueio eletrônico do diferencial, que substituiria o Grip Control que existiu em algum momento no 2008 da primeira geração. Nota 8.
Habitabilidade – A boa altura da cabine do 2008 oferece uma postura ereta aos ocupantes. Ele traz bons espaços para objetos, como porta-copos, e há um carregador por indução em um compartimento com tampa. Essa tampa, inclusive, serve como bandeja para o próprio celular. Já o espaço transversal é a esperada em um SUV compacto. Entrada e saída são facilitadas pela altura do modelo e o porta-malas oferece razoáveis 419 litros. Nota 8.
Acabamento – O interior do 2008 é um dos mais bem-acabados e elegantes entre os SUVs compactos – comparável com Honda HR-V e Jeep Renegade. Materiais e a combinação de texturas e cores é de bom gosto e o revestimento imitando fibra de carbono valoriza o habitáculo. Na versão de topo, detalhes em preto brilhante e cromados são bem dosados. Nota 9.
Design – O 2008 tem porte e linhas ousadas, que distinguem o modelo nas ruas. As proporções são bem equilibradas e dão bastante personalidade ao SUV. O ponto alto é mesmo a frente, com a grade sem moldura, as linhas de led remetendo a garras e as aletas horizontais e verticais. As lanternas traseiras tridimensionais inseridas na barra em preto brilhante também passam a imagem de requinte. Nota 9.
Custo/benefício – A chegada do 2008 ampliou sensivelmente as vendas da Peugeot, com médias acima de 1.500 unidades – o que é significativo para a marca no Brasil. Oficialmente, o SUV francês se coloca na mesma faixa dos modelos mais caros, como Volkswagen T-Cross, Honda HR-V e Hyundai Creta. Na prática, no entanto, a Peugeot está oferecendo polpudos descontos, em torno de 10%, o que já muda o posicionamento. Nota 7.
Total – O Peugeot 2008 GT Turbo 200 CVT somou 81 pontos em 100 possíveis.
Impressões ao dirigir
Espaço de requinte
O visual do Peugeot 2008 é sua principal carta de apresentação. O modelo traz a nova linguagem de design da marca, incluindo a grade sem moldura, DRL de três garras e a nova logomarca da empresa. Nas linhas o 2008 tem traços mais retos, principalmente no teto e nas laterais. O modelo ainda adota a guarnição em preto brilhante unindo as lanternas traseiras, que agora trazem linhas horizontais em três seções 3D. As rodas de 17 polegadas são diamantadas trazem um design com referência às usadas nos modelos elétricos da linha. O 2008, aliás, deve receber ainda esse ano mesma motorização híbrida presente nos Fiat Pulse e Fastback.
Por enquanto, ele está bem-servido com o motor GSE T200, a versão turbinada do Firefly 1.0 de três cilindros, aqui chamado de Turbo 200. Trata-se de um propulsor moderno, com válvulas de admissão controladas pelo sistema eletro-hidráulico Multiair, comandado por um câmbio CVT. Ele rende 125/130 cv e 20,4 kgfm. O conjunto tem uma programação intermediária, para combinar desempenho e economia. Dinamicamente, o único ponto questionável é o pequeno turbolag nas retomadas, que não chega a incomodar em condições normais de uso.
O habitáculo é marcado pelo conceito i-Cockpit, com um volante pequeno para permitir que o painel seja visível parte superior do tablier sem atrapalhar a visão da estrada. Com isso, as regulagens de altura de volante e banco se tornam quase obrigatórias. Por dentro, o 2008 é bastante generoso em relação ao espaço para pernas e cabeças – apenas pessoas bem altas podem sofrer com o caimento acentuado do teto no banco traseiro. O porta-malas tem um bom tamanho, com 419 litros bem utilizáveis.
Nessa versão de topo, GT, o 2008 traz quase todos os recursos desejáveis para um SUV compacto, como recursos ADAS, chave presencial, ar automático, materiais de acabamento de boa qualidade. O quase fica por conta da ausência do controle de cruzeiro adaptativo, presente em alguns rivais diretos. Mas ele se equilibra bem na relação custo/benefício. Traz uma central multimídia Uconnect com 10,3 polegadas e o painel digital, seis airbags, câmera 360º e teto panorâmico.
Na parte dinâmica, o 2008 mostra muita agilidade e equilíbrio, com um comportamento até semelhante ao hatch 208. Ele reage bem aos comandos do motorista com refinamento e velocidade, o que torna a direção mais agradável e divertida. O SUV mostra muito equilíbrio e consegue encarar as curvas sem provocar sustos. As suspensões combinam controle e conforto e mesmo sendo uma versão GT, o perfil dos pneus é o mesmo das demais versões – o que é bom, pois protege as rodas e alivia as irregularidades.
Ficha técnica
Peugeot 2008 GT Turbo 200 CVT
Motor: Gasolina e etanol, dianteiro, transversal, 999 cm³, três cilindros em linha, sobrealimentado por turbocompressor com wastegate elétrica e quatro válvulas por cilindro. Comando de válvulas no cabeçote por sistema eletro-hidráulico MultiAir na admissão e por eixo comando simples no escape. Injeção e acelerador eletrônicos.
Potência máxima: 125/130 cv a 5.750 rpm com gasolina/etanol.
Torque máximo: 20,4 kgfm a 1.750 rpm com gasolina/etanol.
Transmissão: Câmbio CVT com acoplamento por conversor de torque com 7 velocidades pré-programadas à frente e uma a ré. Tração dianteira.
Aceleração 0-100 km/h: 10,1/10,6 segundos com etanol/gasolina.
Velocidade máxima: 191/194 km/h com gasolina/etanol.
Diâmetro e curso: 70,0 mm X 86,5 mm. Taxa de compressão: 10,5:1
Suspensão: Dianteira do tipo McPherson independente com molas helicoidais e amortecedores hidráulicos. Traseira com eixo rígido com molas helicoidais e amortecedores hidráulicos.
Pneus: 215/60 R17.
Freios: A disco ventilado na frente e disco sólido na traseira com ABS e EBD.
Carroceria: Utilitário esportivo cupê em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Com 4,31 metros de comprimento, 1,78 m de largura, 1,55 m de altura e 2,61 m de distância entre-eixos. Altura mínima do solo de 22,8 cm. Oferece airbags frontais e laterais.
Peso: 1.300 kg.
Capacidade do porta-malas: 419 litros.
Tanque de combustível: 47 litros.
Produção: El Palomar, Argentina.
Lançamento no Brasil: agosto de 2024.
Preço da versão GT Turbo 200 CVT: R$ 173.990.
Opcionais: Pintura metálica (R$ 2.000).
Preço da versão testada: R$ 175.990.
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