
Dupla jornada
Omoda E5 e Jaecoo 7, da Chery, desembarcam no Brasil com fome de mercado
por Eduardo Rocha
MotorDream
O Brasil é uma espécie de última fronteira para as marcas chinesas. Afinal, atualmente o país é o sexto maior mercado do planeta, com quase 2,5 milhões de unidades/ano, e é o que apresentou o maior crescimento em 2024, com vendas 14% superiores a 2023. O mercado é tão atraente que apenas o Grupo Chery, já presente através da Caoa, resolveu trazer outras duas de suas marcas: a Omoda e a Jaecoo, representadas respectivamente pelo crossover 100% elétrico Omoda E5 e o SUV híbrido plug-in Jaecoo 7.
Os estilos e propostas diferentes são vistos pela empresa como complementares. Por isso, as marcas vão funcionar no Brasil de forma integrada, dividindo estrutura e concessionárias, como já acontece em outros países. Para começar, já foram abertos 55 pontos de venda em 40 cidades de 17 estados e a ideia é expandir para 150 concessionários até 2028. A marca não antecipa qual o volume de vendas pretende alcançar incialmente, mas está treinando um grupo de 400 vendedores, o que permite prever a intenção de emplacar por volta de 4 mil unidades/mês dos dois modelos.
Embora indiretamente, a Chery já tem uma certa experiência com o mercado brasileiro. Fez uma primeira incursão por aqui como importadora em 2009. Em 2014, a montadora inaugurou uma fábrica em Jacareí, mas a aventura não foi muito bem sucedida e acabou repassando 51% das ações em 2017 para o Grupo Caoa, que passou a controlar tanto a planta quanto a marca.
Nessa nova tentativa, a Chery pensa até em readquirir a unidade em Jacareí, que está inativa desde 2022. A Caoa fechou a unidade com a intenção de adaptá-la para a produção de veículos elétricos e híbridos, mas o projeto não teve andamento. Por outro lado, os executivos da Omoda e Jaecoo acreditam que não há como vingar no mercado brasileiro sem contar com uma produção local (Fotos de Eduardo Rocha, Auto Press e divulgação [interior]) .
Omoda E5
O conceito em torno do crossover Omoda E5 é imprimir uma imagem jovem, moderna. A ideia é competir com modelos também 100% elétricos, como BYD Yuan Plus, Renault Mégane E-Tech e Volvo EX30, mas com um preço mais atraente, de R$ 209.990 – contra R$ 230 mil iniciais dos rivais. Em relação ao tamanho, o E5 tem dimensões semelhantes aos competidores diretos, com 4,42 metros de comprimento, 1,83 m de largura, 1,59 m de largura e 2,63 m de entre-eixos. O porta-malas comporta razoáveis 360 litros. O peso total é de 1.710 kg. A plataforma é a mesma do Chery Tiggo 5X. Mas a não ser pela estrutura e suspensões, não há qualquer peça compartilhada.
As linhas equilibradas, mas sem muita personalidade, o crossover tem uma frente entalhada, com assinatura luminosa na linha do capô e faróis instalados no meio do para-choque. A única versão disponível é bem completa, com iluminação full led com ignição automática, rodas de 19 polegadas, ar-condicionado digital duplo, teto solar elétrico, bancos dianteiros aquecidos, ventilados e com ajustes elétricos, chave presencial para travas e acionamento do veículo, câmera panorâmica, câmera de ré e carregador sem fio refrigerado, entre outros.
O painel panorâmico traz duas telas, tanto a do painel de instrumentos quanto a da central multimídia com 12,3 polegadas, com espelhamento de celular através de Apple CarPlay e Android Auto. Entre os elementos de conforto e tecnologia há, retrovisor central fotossensível, bancos ventilados, retrovisores laterais rebatíveis eletricamente, head-up display e sistema de navegação GPS interno. O crossover traz ainda um pacote ADAS 2.5 com uma série de recursos como alerta de colisão frontal, traseira e de tráfego cruzado, monitoramento de ponto cego, centralização na faixa de rodagem, assistente de congestionamento, farol alto automático, controle de cruzeiro adaptativo frenagem automática de emergência e monitoramento de fadiga do condutor.
O Omoda E5 é animado por um motor elétrico de 204 cv (150 kW) e 34,7 kgfm de torque, que é alimentado por uma bateria de 61,1 kWh, o que lhe confere uma autonomia de 345 km no ciclo InMetro, com uma promessa de consumo médio de 7,7 km/kWh. A aceleração é até comportada para os padrões de carros elétricos: zero a 100 km/h em 7,6 segundos. Para gerenciar a energia, são três modos de condução e três modos de regeneração.
Jaecoo 7
O SUV 7 chegou inicialmente aos mercados mundiais em versões movidas apenas a gasolina. Só mais recentemente passou a oferecer versões híbridas, com tração dianteira ou AWD. No caso do Brasil, a marca optou com modelo 4X2 híbridos plug-in. O SUV tem um visual robusto e pretende encarar modelos PHEV como GWM Haval H6, o BYD Song Plus e até Tiggo 7, todos com preços em torno de R$ 240 mil. O SUV da Jaecoo tem duas versões: Luxury por R$ 229.990 e Prestige por R$ 249.990.
As dimensões são semelhantes às do Tiggo 7, com quem divide a plataforma TX1, e um pouco menor que Haval H6 e Song Plus. Ele tem 4,50 metros de comprimento, 1,87 m de largura, 1,76 m de altura com distância entre eixos de 2,67 m. O modelo conta com kit de reparo, o que garantiu um volume de 500 litros para o porta-malas chega a 500 litros – nas configurações com estepe, a capacidade cai para 340 litros. O peso total é de 1.795 kg.
O design do 7 é imponente e valoriza a imagem de robustez – na estética, se aproxima de modelos mais brutos como Land Rover ou mesmo Ford Bronco Sport. São formas simples, sem firulas, com volumes equilibrados e com muita personalidade. A frente quadrada é dominada por uma grade com linhas verticais marcantes e conjunto luminoso tracejado – chamado de grid pela marca. De perfil, chamam a atenção as alças das maçanetas eletricamente retráteis e as rodas de liga leve de 19 polegadas. Na traseira, as lanternas repetem o esquema visual da frente vão de fora a fora na traseira.
Por dentro, a atenção aos detalhes é notável. Os revestimentos em couro sintético em bancos e estofamento são de boa qualidade e o teto panorâmico de com mais de um metro quadrado enriquece a experiência a bordo. O ar tecnológico é dado pela tela central de 14,8 polegadas de alta resolução, que faz espelhamento através de Apple CarPlay e Android Auto. O painel de instrumentos digital tem 10,3 polegadas. Na versão Prestige, ele trabalha em conjunto com o head-up display para monitorar a dinâmica do SUV. A configuração top traz ainda o mesmo arsenal de recursos ADAS 2.5 do Omoda E5 – versão de entrada Luxury perde diversos desses sistemas.
Sob o capô, o Jaecoo 7 traz um motor a gasolina 1.5 TGDi com 135 cv e 20,4 kgfm, combinado com um motor elétrico de 150 kW (204 cv) e 31,6 kgfm, com um pouco menos torque que o usado pelo Omoda E5. Ele é alimentado por uma bateria de 18,3 kWh, gerenciados por uma transmissão híbrida, que promete uma autonomia de 79 km. A potência somada é de 339 cv, mas como se trata de um modelo com tração dianteira, a potência combinada fica sempre abaixo de 250 cv. Tanto que o zero a 100 km/h é mais lento que do Omoda E5, com 8,5 segundos.
Impressões ao dirigir
Pegada controlada
Apesar da modernidade dos seus carros e até de uma certa ousadia no design, a engenharia da Omoda & Jaecoo adotaram uma postura conservadora em relação ao crossover E5 e ao SUV 7. Nos dois modelos, a liberação de potência é suave e gradual, mesmo que o condutor pise fundo no acelerador. Não é o caso de dizer que têm reações lentas, afinal o zero a 100 km/h são, respectivamente, 7,6 e 8,5 segundos. Mas são modelos que não apresentam aquele empuxo típico de carros elétricos. A ideia foi tornar os modelos mais sociáveis, mas tirou um pouco da graça.
O Omoda E5 é um pouco mais ágil. Afinal, embora tenha uma bateria maior, não carrega um motor a explosão. Com isso, acaba ficando quase 100 kg mais leve, embora ainda seja pesado para um crossover médio, com mais de 1.700 kg. É justo dizer que nas acelerações não dá para perceber todo esse peso, que nas curvas fica bem evidente. Como tem um centro de gravidade rebaixado, o limite de aderência é difícil de alcançar. As suspensões firmes controlam bem a rolagem lateral, mas tem o efeito colateral de filtrar pouco as irregularidades.
Já o SUV 7 tem uma suspensão de curso maior e sofre mais o efeito da aceleração lateral nas curvas e apresenta uma certa rolagem de carroceira – o que faz com que retomada de trajetória possa dar um pouco de trabalho quando se anda no limite. Em compensação, oferece conforto maior e uma filtragem de irregularidades mais eficiente. Tudo isso tem a ver com a própria proposta SUV do modelo, embora seja difícil entender a opção de trazer apenas a configuração com tração dianteira e não a AWD.
Por dentro, ambos os modelos seguem um mesmo padrão de acabamento e equipamentos. São cheios de recursos e trazem muita tecnologia, mas são lotados de comandos indiretos. A ponto de até mesmo a regulagem do espelho ter de ser feita numa combinação de achar o menu correto na tela central para que as teclas no volante assumam a função de ajuste. E esse é só um exemplo. Ou seja: uma confusão trágica entre modernidade e funcionalidade.
Já em relação ao espaço interno, ergonomia e recursos, há pouco a criticar nos dois modelos. Mas em pelo uma coisa o E5 e o 7 superam os conterrâneos: nos revestimentos. São os primeiros carros chineses que trazem um couro sintético com alguma rugosidade, que dá uma textura mais agradável. Até aqui, o revestimento dos modelos chineses lembra o daqueles sofás de vinil vendidos em lojas populares.
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