
Foco no alto
O luxuoso Zeekr X7 esbanja tecnologia e põe Porsche Macan e BMW iX3 na mira
por Eduardo Rocha
Auto Press
No imediatismo do lucro, as fabricantes ocidentais podem ter pavimentado o caminho da própria perdição. Na virada do século, os chineses eram vistos com certo desdém e a indústria automotiva não pensou duas vezes antes de trocar know-how pela redução de custos na produção. Hoje, a eficiência das fabricantes chineses aparecem em todos os segmentos. Até mesmo naquele em que eram mais subestimados, como no mercado de luxo. A novata Zeekr, com pouco mais de quatro anos de mercado, vem dando provas disso a cada lançamento. E o SUV médio de luxo X7, que acaba de chegar ao Brasil, é o que modelo que deixa essa nova condição mais clara.
O X7 está inserido no segmento de SUVs médios de luxo, de baixo volume, em torno de 60 unidades por mês, e tem dimensões semelhantes aos rivais diretos: Porsche Macan Eletric, BMW iX3, Audi Q6 e-tron. Ele tem 4,79 metros de comprimento, 1,93 m de largura, 1,65 m de altura e 2,90 m de entre-eixos. Mas há uma boa diferença no preço. Enquanto o SUV da Zeekr sai a R$ 448 mil em sua versão única, Flagship, o Macan e o Q6 custam R$ 560 mil nas versões de entrada, enquanto o iX3 começa em R$ 520 mil. A diferença poderia muito bem ser debitado pela fama e status das marcas. Só que, além de serem mais caros, os rivais trazem menos equipamentos e são menos potentes que o X7.
Ou seja: a Zeekr aplica no segmento de luxo o conceito de custo/benefício normalmente usado em segmentos nos quais dinheiro não constitui uma grande preocupação do público-alvo. A questão é que nesse segmento, são os detalhes de requinte que fazem diferença. O X7 traz equipamento sofisticados como sistema de áudio com 2.080 Watts de potência e 21 alto-falantes, teto solar panorâmico com cortina retrátil eletricamente, central multimídia com tela de 16 polegadas, painel digital com 13 polegadas, head-up display com realidade aumentada e porta com abertura e fechamento elétricos.
Na parte mecânica, o X7 traz dois motores elétricos síncronos com ímã permanente. Um de 224 cv e 35 kgfm fica no eixo dianteiro e outro de 422 cv e 44,9 kgfm no traseiro. Eles se combinam em 646 cv e 72,4 kgfm no total e são gerenciados por uma transmissão automática de uma marcha com tração integral on demand. Esse conjunto permite o crossover acelerar de zero a 100 km/h em 3,8 segundos, com velocidade máxima limitada a 200 km/h.
O desempenho de esportivo é acompanhado por recursos dinâmicos como suspensão a ar com ajustes em cinco níveis de rigidez e altura, com distância livre do solo entre 16 e 23 cm. O coeficiente de arrasto aerodinâmico é também muito baixo, com 0,247 Cx – os SUVs mais eficientes ficam pouco abaixo de 0,30 Cx. O X7 também conta com discos de freios ventilados e perfurados na dianteira – com ventilados na traseira. Na medição da Zeekr, o SUV é capaz de ir de 100 km/h à imobilidade em 34,9 metros.
Um efeito colateral do desempenho mais forte está na menor autonomia. Não à toa, a marca de luxo do Grupo Geely instalou uma bateria de lítio-níquel-manganês-cobalto da CATL, com 100 kW de capacidade, que promete uma autonomia de 423 km no ciclo do InMetro. A plataforma elétrica é de 800 V e aceita carga de até 22 kWh em corrente alternada e de 400 kWh em corrente contínua. Em um carregador com essa capacidade (o mais potente do Brasil tem 350 kW), o X7 recuperaria 100 km de autonomia em 5 minutos, usando como referência o padrão do InMetro.
Na parte de segurança, o X7 traz 13 radares e 12 câmeras que monitoram permanentemente o entorno do veículo e que alimentam de informações recursos ADAS nível 2. Entre eles controle de cruzeiro adaptativo, monitoramento de fadiga do motorista, de faixa de rolamento e de ponto cego, alerta de colisão dianteira e traseira, de tráfego cruzado com frenagem autônoma, inclusive em baixas velocidades, assistente de estacionamento e câmera 360º.
Um ponto que a Zeekr aposta para seduzir consumidores para seu SUV de luxo é o design. Sem a obrigação de fazer referência a modelos anteriores, como ocorre com as demais marcas de luxo, os designers comandados por Stefan Sielaff – instalados em um estúdio vizinho ao utilizado pela Volvo, subsidiária do grupo chinês, em Gotemburgo, na Suécia – ganham certa liberdade de criação. E o resultado é um de linhas limpas, arredondadas e fluidas com detalhes que dão um ao futurista ao modelo.
Alguns exemplos: a frente é cortada por uma guarnição em preto brilhante acima de uma linha de led com discretos faróis em led nas extremidades. De perfil as proporções fazem o modelo parecer bem menor do que é. Essa impressão é reforçada pelas rodas de 20 polegadas e pela linha superior dos vidros em arco, com linha de cintura alta, com uma curva sutil. Atrás, as lanternas e a barra de led que corta a tampa de fora a fora forma um só conjunto. As saias inferiores em preto brilhante em todo o entorno do carro reduzem visualmente a altura, o que dá um toque esportivo e aerodinâmico.
Primeiras impressões
Além do limite
O luxo e o requinte do Zeekr X7 são marcantes. E vão desde os materiais utilizados, o cuidado na montagem, o volume de equipamentos até a quantidade de recursos – que como em um bom automóvel de luxo, é recheado de detalhes que, pela lógica pura e simples, seriam absolutamente dispensáveis. Por outro lado, ninguém toma um vinho caríssimo só para matar a sede. Mas além da sofisticação, o espaço provido pelo entre-eixos de 2,90 metros é generoso para todos os quatro ocupantes. E o porta-malas é gigante. Em posição normal, acomoda 616 litros. Com o rebatimento, é quase um furgão: 1.978 litros.
Na parte dinâmica, é preciso considerar que um SUV com 646 cv de potência e 72,4 kgfm de torque, com aceleração de zero a 100 km/h em 3,8 segundos, a despeito de seus 2.460 kg, merece estar em uma pista para ter seus limites testados. Foi o que aconteceu no Circuito Panamericano, no município de Elias Fausto, em São Paulo. Com retas de bom tamanho e curvas de raios curtos, longos e em sequência, foi possível avaliar pelo menos dois aspectos do SUV: a estabilidade impressionante e a aceleração explosiva, daquelas que cola as costas dos ocupantes no encosto do banco.
Obviamente, no contorno das curvas, três aspectos elevam o nível de neutralidade do SUV. A primeiro é o bloco de aproximadamente 700 kg instalado no piso, entre os eixos, que contém a bateria de 100 kW com seus 500 kg e a blindagem que responde pelos 200 kg. Esse componente, que corresponde a quase 30% do peso do modelo, rebaixa o centro de gravidade e neutraliza boa parte da rolagem, por mais apertada que seja a curva.
Sem rolagem, a tendência do carro é escorregar quando se aproxima do limite. É nesse ponto que aparece os outros dois elementos dessa equação: o primeiro é a suspensão a ar, que rebaixa a carroceria e pressuriza as bolsas de ar quando necessário. O outro é o sistema de tração integral, que além de distribuir o torque de acordo com a ocasião, tem um tempo de resposta de 6 milissegundos – em geral, um esportivo a combustão leva de 20 a 50 milissegundos para a reação alcançar as rodas. Essa presteza faz com que o X7 compense as desgarradas, corrija a trajetória e agarre no asfalto de forma impressionante.
Obviamente, todos estes aspectos na condução têm um toque excessivamente sintético. Mas isso é sinal dos tempos e é, de fato, um incremento na segurança. Mas acontece que a eletrônica tem invadido as funções nem sempre como facilitador. É caso dos ajustes mais simples, que passam a exigir um roteiro entediante pelos menus do computador de bordo. No caso do X7, isso acontece no ajuste do espelho, do volante e até para abrir o capô. Pode ser que, com o tempo, esse procedimento seja visto como normal, mas pelo menos nessa época de transição se mostra bastante aborrecido.
The post O requinte do X7 appeared first on MotorDream.