
Interesse dirigido
Preço médio dos carros populares sobe 7,8% no 1º semestre
Modelos de entrada somem do mercado
por Lucas Geremias
O mercado automotivo brasileiro vem passando por transformações significativas, e isso tem impacto direto em consumidores de todo o país. Quem busca carros em Piracicaba, por exemplo, percebe cada vez mais a escassez de modelos de entrada e a alta nos preços dos veículos novos. Dados recentes mostram que o preço médio dos carros populares subiu 7,8% apenas no primeiro semestre de 2025, reforçando uma tendência já observada nos últimos anos: os modelos mais baratos estão desaparecendo do mercado.
A escalada dos preços dos veículos – De acordo com levantamento da Jato Dynamics, consultoria especializada em mercado automotivo, o preço médio dos carros 0 km no Brasil atingiu cerca de R$ 134 mil em junho de 2025. Há cinco anos, esse valor girava em torno de R$ 86 mil, o que representa uma alta acumulada de aproximadamente 55%. Esse aumento é muito superior à inflação do período, mostrando que os automóveis vêm se tornando cada vez menos acessíveis para a população.
Os modelos considerados de entrada, aqueles que custavam até R$ 50 mil há alguns anos, praticamente sumiram das concessionárias. Hoje, os veículos mais baratos do país ultrapassam facilmente a faixa dos R$ 70 mil, restringindo o acesso ao carro 0 km a uma parcela menor dos consumidores.
Fatores que explicam a alta – Diversos fatores contribuem para o aumento nos preços dos carros populares. Entre eles:
- – Câmbio desfavorável: grande parte das peças e insumos utilizados na fabricação de veículos é importada, e a valorização do dólar pressiona os custos.
- – Exigências tecnológicas: a obrigatoriedade de itens como controle de estabilidade, airbags e sistemas de segurança encarece a produção.
- – Mudanças no perfil dos modelos: as montadoras têm priorizado SUVs compactos e modelos mais equipados, de maior margem de lucro, em vez de versões básicas.
- – Custos logísticos e tributários: o Brasil continua entre os países com carga tributária mais elevada sobre veículos, o que pesa no preço final ao consumidor.
Segundo a Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), só no primeiro semestre de 2025, mais de 930 mil veículos leves foram emplacados no Brasil, mas grande parte corresponde a SUVs compactos, enquanto hatches pequenos perdem espaço.
O desaparecimento dos carros de entrada – A tendência de desaparecimento dos carros de entrada é cada vez mais clara. Modelos que marcaram gerações, como Volkswagen Gol, Fiat Uno e Ford Ka, deixaram de ser produzidos nos últimos anos. Hoje, a porta de entrada para quem deseja comprar um carro zero geralmente é ocupada por compactos como Renault Kwid, Fiat Mobi e Chevrolet Onix em suas versões mais básicas, todos acima de R$ 70 mil.
Esse fenômeno reflete uma mudança de estratégia das montadoras, que preferem investir em veículos com maior valor agregado. Para o consumidor, porém, isso representa um obstáculo: a dificuldade em adquirir um carro novo com preço acessível.
Impactos no mercado de usados – Com o encarecimento dos carros novos e a redução de opções de entrada, o mercado de seminovos e usados ganhou ainda mais relevância. Em cidades como Piracicaba, há grande procura por carros com poucos anos de uso, considerados uma alternativa mais viável financeiramente.
Segundo a OLX Autos, os veículos com até três anos de fabricação representam hoje mais de 40% das buscas por automóveis usados no país. Além disso, o valor de revenda tem se mantido em patamares elevados, mostrando que o usado se tornou uma opção segura para quem não quer ou não consegue investir em um 0 km.
Desafios e perspectivas – A elevação dos preços dos carros populares levanta debates sobre mobilidade no Brasil. Para muitos, o transporte público e as alternativas de mobilidade compartilhada, como aplicativos de carona e locação de veículos, podem ser caminhos para suprir a demanda deixada pela perda de acesso ao carro próprio. No entanto, especialistas apontam que as montadoras ainda podem encontrar oportunidades na eletrificação.
Embora os carros elétricos e híbridos ainda sejam caros, há expectativa de que, nos próximos anos, a produção local e os incentivos fiscais tornem essa tecnologia mais acessível, podendo abrir espaço para novos “modelos de entrada” com foco em sustentabilidade.
Conclusão – O aumento de 7,8% no preço médio dos carros populares no primeiro semestre de 2025 reflete um cenário de mudanças estruturais no setor automotivo brasileiro. O desaparecimento de modelos de entrada, aliado à priorização de veículos mais caros, cria desafios para consumidores que buscam alternativas acessíveis, como os carros em Piracicaba e em outras cidades. Enquanto isso, o mercado de usados ganha força, e o futuro aponta para transformações que podem passar pela mobilidade elétrica e por novas formas de consumo. O certo é que, por enquanto, o carro popular como conhecemos já não existe mais.
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