O efeito Tera
Eduardo Rocha
O efeito Tera

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Volkswagen Tera Highline mostra estofo para virar um fenômeno de vendas

por Eduardo Rocha

Auto Press

O Volkswagen Tera nasceu para ser nessa Era dos SUV, típica desse milênio, o que o Gol na Era dos Hatches, dominante nas últimas décadas do milênio passado. Os hatches, é claro, ainda são relevantes, mas vêm perdendo espaço a cada ano. Hoje no Brasil, eles representam 31,4% do mercado de carros de passeio, contra 54,2% dos SUVs. Exemplo desse domínio: o Tera, um SUV de entrada como o Fiat Pulse e o Renault Kardian, logo nesse início de carreira abocanhou a liderança entre os todos os SUVs vendidos no país e provocou uma razia dentro das próprias concessionárias Volkswagen.

O então líder do segmento T-Cross perdeu duas de cada cinco vendas entre agosto e setembro – com queda de 7.702 para 4.736. Todas essas quase 3 mil unidades perdidas e mais algumas, vindas de Polo e Nivus, migraram para o novo SUV da marca, em um movimento que é conhecido no setor como autofagia. E há pelo menos dois bons motivos para isso. O primeiro é a novidade e o frescor que o Tera traz, com um design mais moderno e alinhado com as tendências da marca na Europa. O outro é o mais óbvio: o preço.

O Tera custa apenas 10% a mais que o Polo, mas é 15% mais barato que um Nivus e sai 23% menos que um T-Cross, todos com configurações semelhantes. A gama Tera começa em R$ 105.890 na versão 1.0 MPI, aspirado e manual, e chega aos R$ 141.890 da top de linha Highline 170 TSI Automática, que vai a R$ 147.890 se configurado como a unidade avaliada, com pintura metálica e pacote Outfit, que inclui pintura em dois tons, rodas diamantadas e alguns detalhes estéticos.

Essa diferença de preço é justificada pela motorização 170 TSI, enquanto Nivus e T-Cross comparáveis usam a 200 TSI. Trata-se basicamente do mesmo bloco de motor, mas com diferenças na turbina e nos ajustes da central eletrônica. No Tera, o motor 1.0 de três cilindros rende 109 e 116 cv, com gasolina e etanol, e torque de 16,8 kgfm (a rigor, 165 Nm, e não 170 como induz o nome). Ele é gerenciado por um câmbio automático de seis marchas mais leve, o AQ160, enquanto o 200 TSI é acoplado à transmissão AQ250, que suporta torques maiores e é usado também no propulsor 1.4, o 250 TSI.

O Tera Highline traz um bom arsenal de equipamentos, o que também aumenta o poder de atração do modelo não só no campo doméstico, mas também em relação aos rivais. Em segurança, a versão traz controle de cruzeiro adaptativo, alerta de colisão com frenagem autônoma, sensores dianteiros e traseiros com câmera de ré, sensor de luz e de chuva, seis airbags, iluminação em led, espelho interno eletrocrômico e freios a disco nas quatro rodas.

Na parte de conforto e usabilidade, este Tera traz ar condicionado automático, revestimento interno em couro sintético (com identificação no encosto no pacote Outfit), chave presencial para travas e ignição, paddle shifts no volante, porta-malas com 350 litros de capacidade, painel digital configurável com tela de 10,25 polegadas, carregador de celular por indução e central multimídia com espelhamento de celular sem fio na tela de 10,1 polegadas (Fotos de Eduardo Rocha, Auto Press).

Ponto a ponto

Desempenho – A transmissão automática de seis velocidades explora bem o motor 170 TSI, 1.0 de três cilindros, de 109/116 cv e 16,8 kgfm com gasolina/etanol. Como é destinada a propulsores de menor torque que a usada no 200 TSI, tem peças internas mais leves e uma inércia menor. Ou seja: é ágil e bem elástico. O peso menor – é mais leve 69 kg do que o Nivus e 90 kg do que o T-Cross – também ajuda na disposição do modelo. Mesmo o que zero a 100 km/h seja feito em 11,7 segundos – 1,7 s mais lento – as arrancadas são tão vigorosas quanto, com aceleração até 60 km/h em 5 segundos, apenas 0,3 s que os outros dois SUVs. Dentro da proposta urbana do modelo, é bem satisfatório. Nota 8.

Estabilidade – O Tera traz o mesmo conjunto suspensivo que os companheiros de plataforma, mas pesa menos, é mais curto, mais largo e mais baixo. Isso desemboca numa rolagem lateral mais controlada e numa qualidade de rodagem mais neutra. Embora a suspensão tenha acerto rígido, a filtragem das irregularidades é bem eficiente, até por conta do flanco de 11,3 cm dos pneus 205/55 R17. Nota 9.

Interatividade –A central multimídia é a VW Play Connect, padrão da marca para seus modelos nacionais. Ela é rápida e simples de conecta, mas não tem usa navegação muito intuitiva. É preciso dedicar um tempo para desvendar os meandros das funções. Por outro lado, é flutuante e um pouco elevada em relação ao painel digital, o que facilita a visualização e o manuseio por toque – até porque, não há botões, mas a interação pode ser feita pelas teclas no volante multifuncional. A Volkswagen disponibiliza alguns serviços remotos vinculados a este sistema. Nota 8.

Consumo – Apesar de ser mais leve que os outros dois SUVs compactos da marca, Tera Highline 170 TSI tem um consumo próximo, mas ligeiramente menor. Segundo o InMetro, o modelo percorre 9,0 e 12,9 km/l na cidade e de 10,3 e 14,8 km/l na estrada, respectivamente com etanol e gasolina. No Inmetro, isso equivale às notas A na categoria e C no geral. Nota 8.

Conforto – A suspensão durinha, bem ao estilo da Volkswagen, é um pouco incômoda em pisos irregulares. A configuração de carroceria, que combina hatch e SUV, gera um bom espaço interno – embora tenha exatamente o mesmo entre-eixos do Nivus, o teto plano gera mais conforto para quem vai atrás. Os bancos são confortáveis, apesar de não serem exatamente macios, e isolamento acústico é aceitável. Nota 7.

Tecnologia – O Tera usa a mesma versão da modular MQB A0, aplicada ao Polo e Nivus, lançada em 2017. É uma arquitetura eficiente, com boa rigidez estrutural e flexível na aplicação. Ela também tem uma base eletrônica que aceita diversos recursos ADAS, embora nem todos estejam disponíveis no Tera. A versão menos potente do motor 1.0 turbo, lançada originalmente no Up!, combina economia com boa dinâmica. O modelo tem um bom nível de conectividade e conta com carregador de celular por indução. Nota 8.

Habitabilidade – As dimensões internas do Tera são as mesmas do Polo, com a vantagem de ser um pouco mais alto, o que cria uma área de habitáculo mais ampla. Ele recebe bem quatro ocupantes, mas exige um pouco de sacrifício com a presença de um terceiro elemento no banco traseiro. O porta-malas é coerente com o segmento, com 350 litros. A altura do modelo oferece um acesso facilitado à cabine. Nota 7.

Acabamento – Na renovação de sua gama, a Volkswagen vem dando mais atenção aos materiais e texturas de seus revestimentos. O Tera não chega a transmitir a ideia de requinte, mas é bem nascido nesse aspecto. E o pacote Outfit causa uma melhor impressão. No caso dessa versão Highline, há couro nos bancos, volante, coifa do câmbio, apoio de braço, painel das portas e no console frontal. Nota 8.

Design – As linhas do Tera parecem inspirado em diversos modelos diferentes, sem ser cópia de nenhum. A frente segue o estilo dos modelos elétricos da marca, ID, mas numa versão mais geométrica. A traseira lembra a do Peugeot 208, com lanternas altas e luzes concentradas nas extremidades, interligadas por uma guarnição com acabamento preto brilhante. O ângulo mais original do Tera é o perfil, com linha de cintura alta que para-lamas salientes na frente e atrás. O conjunto passa a ideia de robustez, o que é reforçado pelas proporções do carro, mais largo e curto que outros SUVs compactos. Nota 9.

Custo/benefício – O Tera Highline completo, como o avaliado, custa R$ 147.890 e tem um ótimo custo/benefício dentro da lógica autovalorizada da Volkswagen. E mesmo em relação aos rivais, tem uma diferença de preços a favor. Na comparação com o Pulse Impetus Hybrid, o Tera é menos potente, mas traz mais equipamentos de tecnologia e é R$ 6 mil mais barato. Já no confronto com o Kardian Iconic, perde tanto em motorização quanto em recursos, mas custa R$ 4 mil a menos. O fim das contas, o Tera tem um bom poder de atração no segmento. Nota 8.

Total – O Tera Highline Outfit somou 80 pontos de 100 possíveis.

Impressões ao dirigir

Razão e bom humor

O Tera nasceu com a missão de representar como deve ser um carro popular hoje em dia: um SUV robusto, simpático e acessível. Ele não é tão barato quanto um hatch, mas está próximo. E tem as vantagens dimensionais da categoria, como maior espaço interno, porta-malas maior e acessibilidade facilitada pela altura do modelo – item que vai ganhando valor na medida que a população envelhece.

Com uma abordagem mais racional, o Tera traz sob o capô a versão mais mansa do motor 1.0 turbo de três cilindros, o 170 TSI nas versões intermediárias e de topo e a versão aspirada no modelo de entrada – a mesma configuração da gama Polo. Trata-se de um propulsor ágil e elástico, que se vale da menor inércia interna – tanto da turbina menor quanto do câmbio mais leve – para mostrar um comportamento em ambiente urbano bem semelhante ao de modelos com o motor 200 TSI, como Nivus e T-Cross. Já na estrada, o fôlego do turbo maior se faz valer.

A potência de até 116 cv gera, na melhor das hipóteses, uma relação peso/potência de 10,1 kg/cv. Não é esportivo, mas não abusa da paciência de ninguém. Na estrada, embora não fique tão à vontade nas retomadas em velocidades mais altas, tem uma boa capacidade de encarar curvas de médias e altas velocidades sem dar sinais de rolagem lateral. Nas retas, é também bastante neutro, sem exigir correções de trajetória – mérito também do ajuste de suspensão e da excelente plataforma MQB A0. Se não fossem os ruídos aerodinâmicos a partir de 100 km/h, não daria para perceber a velocidade.

Por dentro, o Tera traz bons recursos tecnológicos, como telas digitais para painel e central multimídia. Mas o mais interessante é que este SUV já nasce em uma nova fase da Volkswagen, de maior cuidado com o acabamento interno de seus modelos. E novo SUV de entrada traz texturas mais modernas, sem o velho padrão que imita orvalho, que existe desde os tempos do Gol Bolinha. Além disso, faz uma composição de materiais agradável, combinando detalhes em preto brilhante, cromados e prata acetinado. O revestimento da versão Outfit combina preto com cinza claro e friso em azul, exibindo um bom humor pouco comum em modelos da marca.

Ficha técnica

Volkswagen Tera Highline Outfit 170 TSI

Motor: Gasolina e etanol, dianteiro, transversal, 999 cm³, com três cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro e turbocompressor. Acelerador eletrônico e injeção direta de combustível.

Transmissão: Câmbio automático com seis marchas à frente e uma a ré com paddle shifts no volante. Tração dianteira. Possui controle eletrônico de tração e bloqueio automático do diferencial.

Potência máxima: 109/116 cv a 5 mil rpm com gasolina/etanol.

Aceleração 0 a 100 km/h: 11,7/11,8 segundos (etanol/gasolina).

Velocidade máxima: 184/180 km/h (etanol/gasolina).

Torque máximo: 16.8 kgfm a 1.750 rpm.

Diâmetro e curso: 74,5 mm X 76,4 mm. Taxa de compressão: 10,5:1.

Suspensão: Dianteira independente do tipo McPherson, com amortecedores hidráulicos e barra estabilizadora. Traseira por eixo de torção com molas helicoidais, amortecedores hidráulicos e barra estabilizadora. Oferece controle eletrônico de estabilidade.

Freios: Discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira.

Pneus: 205/55 R17.

Carroceria: Utilitário esportivo em monobloco com quatro portas e cinco lugares. Com 4,15 metros de comprimento, 1,78 m de largura, 1,48 m de altura e 2,57 m de distância entre-eixos. Oferece airbags frontais, laterais e de cabeça de série.

Peso: 1.169 kg em ordem de marcha.

Capacidade do porta-malas: 350 litros.

Tanque de combustível: 49 litros.

Produção: Taubaté, São Paulo.

Preço da versão Highline: R$ 141.890.

Preço da versão avaliada: R$ 147.970.

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