Reestilizada, a Ford Ranger está com uma cara mais agressiva, ganhou vários equipamentos e teve uma leve melhora no desempenho. Porém, o custo disso tudo é um pouco alto: R$ 179.900 na versão Limited, R$ 16.090 a mais do que seu equivalente pré-facelift.
A Ranger tenta passar um pouco da mera mudança de design. Os motores receberam novos bicos injetores, as válvulas foram redesenhadas e o turbo compressor é novo. No caso do 3.2 Duratorq da versão Limited, a que testamos, não houve mudança na potência nem no torque, apenas no consumo de combustível. Combinado à direção com assistência elétrica e aos pneus de baixa resistência a rolagem, o rendimento melhora até 15%.
Claro que as novas linhas ajudam muito, ainda mais no contato ao vivo. A grade hexagonal integrada aos faróis deu um novo aspecto à picape, mais robusto. Até mesmo as rodas transmitem essa impressão, com um design inspirado em ferraduras.
Entre mato e café
Meu contato com a Ranger foi na Fazenda Dona Carolina, em Itatiba (interior de São Paulo). Uma antiga fazenda de café de 1872, transformada em hotel e que agora conta também com uma pista para testes off-road – cortesia da Land Rover . Apesar de ter feito o trecho mais curto, deu para sentir bem como a Ranger está preparada para atravessar qualquer terreno.
Logo que entro na trilha, ativo o modo 4x4 high, sem parar a picape, pois essa mudança pode ser feita a até 120 km/h. É o suficiente para que a Ranger passe com tranquilidade pela estrada de terra. Ao chegar a primeira descida, mudo para a reduzida (essa sim precisa do carro parado para ativar). Ligo também o auxilio de descida em rampa, acelero um pouco e deixo que a picape cuide de tudo. Com o sistema funcionando, ele irá controlar a velocidade automaticamente, para descer com segurança.
Subidas e descidas depois, aparece a dupla de obstáculos mais interessante do percurso: uma curva fechada e inclinada no asfalto, seguida pelo trecho de imersão. A picape fica em um ângulo de 45°. De dentro, parece até que vai capotar. Mas não, a Ranger segue em frente. Mal saio da curva e a picape mergulha na água, demonstrando sua capacidade de atravessar trechos alagados com até 800 milímetros de altura (e quase dei um banho em um rapaz desatento da organização que estava próximo demais da água). O próximo trecho é o banco de areia. O diferencial traseiro blocante trabalha sem parar e assim evita que a Ranger patine no solo fofo. E logo acaba o test-drive na terra.
A estrada é longa
Ao dirigir a picape na estrada, tive 100 quilômetros para testar a enorme quantidade de equipamentos. Por R$ 179.900, é obrigação que a Ranger Limited venha com o máximo de tecnologia possível e isso a Ford tratou de cumprir. Temos tudo o que um sedã executivo oferece: ar condicionado digital de duas zonas, faróis automáticos, banco do motorista elétrico com oito posições, câmera de ré com sensor de estacionamento e travas Isofix para cadeirinhas infantis. Tem até piloto automático adaptativo, alerta de colisão e de permanência de faixa – motivo de orgulho para a Ford .
O interior mudou bastante e ficou mais harmonioso, graças à adoção do sistema Ford Sync II, substituindo a horrorosa telinha monocromática da picape atual. O cluster é o mesmo do Fusion , com duas telas digitais entre o velocímetro, e que podem ser personalizadas com a informação que quiser. A central multimídia também levou o volante a mudar, com mais botões para controlar todo o sistema.
Começo a acelerar a picape, aproveitando que estou em uma estrada com mais pistas e de maior velocidade. O motor 3.2 gera 200 cv e 47,9 kgfm de torque. Como toda essa força aparece a 1.750 rpm, a picape dá a impressão de que sempre está andando com força. O lado ruim dessa brutalidade é que o motor é bem barulhento, mesmo considerando que é uma característica comum para os carros que usam diesel. Pelo menos as vibrações diminuíram consideravelmente.
É na cidade que a Ranger mostra que continua a errar em alguns aspectos. Toda a preparação para vencer a natureza deixa a picape arisca para o dia-a-dia urbano. A suspensão é muito dura, então passar por buracos é uma experiência dolorida. Ainda bem que os bancos de couro ajudam a reduzir um pouco o desconforto.
O preço da Ranger está meio salgado, culpa de um segmento que cobra caro. Ainda assim, é um bom negócio pela lista de equipamentos. A Ford está de olho em quem pode comprar um carro premium, mas precisa de uma picape. Para o resto de nós, talvez a versão flex seja mais interessante. Vamos torcer para que sim.