Ao olharmos para o cenário das vendas de SUVs médios , é fácil se deixar levar pela grande ascensão do Jeep Compass e do Toyota Corolla Cross , o que pode levar ao esquecimento de outros modelos que também merecem nossa atenção, como o Honda ZR-V e o Volkswagen Taos . Embora esses modelos não alcancem os mesmos números de vendas que seus concorrentes, eles oferecem características que não devem ser subestimadas.
Ao analisarmos os dados da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores) até abril de 2024, podemos observar a disparidade entre os C-SUVs: o Jeep Compass lidera com 15.550 unidades vendidas, seguido pelo Toyota Corolla Cross com 13.041 exemplares. Atrás, vem o BYD Song Plus com 6.569 vendas, seguido do CAOA Chery Tiggo 7 com 5.580 e o GWM Haval H6 na cola com 5.452. Aí lá embaixo o Volkswagen Taos com 3.887 emplacamentos, enquanto o Honda ZR-V fica ainda mais atrás, com 1.949 unidades vendidas.
Porém, o que justifica essa disparidade? Será que os SUVs da VW e Honda não oferecem qualidades comparáveis aos seus concorrentes? Nós, do iG Carros , decidimos comparar os modelos topo de linha, com preços de R$ 214.500 para o ZR-V e R$ 210.900 ao Taos e saber suas respectivas diferenças e quem leva a melhor, além de entender as razões por trás das vendas consideravelmente menores.
DIMENSÕES E ESPAÇO INTERNO
Estes SUVs têm a tarefa de proporcionar espaço, e embora os números sejam bem próximos, a diferença na prática é grande. Direto ao ponto, o Taos apresenta um entre-eixos e porta-malas maiores e melhor aproveitados.
VW Taos X Honda ZR-V
Comprimento: 4,46 m, 4,56 m
Largura: 1,84 m, 1,84 m
Altura: 1,62 m, 1,61 m
Entre-eixos: 2,68 m, 2,65 m
Porta-malas: 498 litros, 389 litros
Altura do Solo: 185 mm, 178 mm
Ângulo de Entrada,19°,16,4°
Embora os números sejam comparáveis e até mesmo projetados em termos de comprimento, o espaço interno traseiro do Taos é maior. O SUV da VW oferece três dedos de folga entre as pernas e o banco dianteiro, enquanto o ZR-V já coloca os joelhos em contato. Lembrando que os bancos estavam ajustados para mim de 1,88 m (quase tudo regulado para trás).
Além disso, o banco traseiro é mais reclinado para o SUV da Honda , o que não traz muito conforto, assim como o espaço limitado para a cabeça no ZR-V , algo que não ocorre no carro da VW. Alguns detalhes adicionais incluem o apoio de braço escamoteável no Taos , que falta no ZR-V . Porém, o túnel central no SUV japonês é praticamente plano, enquanto no alemão é mais alto.
Ambos os veículos possuem entrada USB-C na traseira, mas a Honda deixa a desejar ao não incluir saídas de ar; embora afirmem tê-las localizado debaixo dos bancos, sua eficácia é questionável. Além disso, a Honda não equipou este modelo com o conhecido Magic Seat presente no HR-V, o que poderia dar uma grande vantagem, porém, não é o caso.
Já na frente, ambos apresentaram uma boa ergonomia com os bancos elétricos para o motorista nos dois carros, mas senti um apoio lateral mais confortável no ZR-V . Além disso, o console central elevado dá mais conforto e sofisticação no SUV japonês.
Os botões espalhados pelo veículo também estão mais acessíveis no carro da Honda , sem a necessidade de se esticar muito para alcançá-los, algo que ocorre no SUV da VW. Mas, o Taos oferece um campo de visão melhor devido aos vidros mais ampliados.
MOTORIZAÇÃO
Em relação ao conjunto mecânico, as diferenças são grandes. De um lado, temos um motor turbo, enquanto do outro lado, um motor aspirado. O Volkswagen Taos é equipado com o conhecido motor 1.4 TSI (turbo), EA888, flex, que produz 150 cv e 25,5 kgfm de torque em ambos os combustíveis. O câmbio é automático de dupla embreagem de seis velocidades.
O desempenho é sólido, porém não espere um comportamento esportivo, já que não é o foco do carro. No entanto, oferece bom torque em baixas rotações (1.500 rpm), o que leva uma condução ágil na cidade, apesar do leve atraso no acelerador comum nos carros da Volkswagen, o que pode ser um pouco inconveniente em cruzamentos.
O Honda ZR-V utiliza o motor 2.0 aspirado a gasolina, pertencente a uma família diferente daquele utilizado no Civic G10 . Por exemplo, a propulsão apresenta duplo comando de válvulas no cabeçote (DOHC), proporcionando uma potência de 161 cv e torque de 19,1 kgfm a 4.200 rpm. Essa configuração está associada ao câmbio CVT, capaz de simular até sete marchas.
No entanto, o torque do ZR-V demora mais para ser entregue, o que pode causar certa dificuldade em situações específicas, especialmente quando o veículo está carregado, apesar de oferecer maior potência. Na condução urbana, com uma pressão leve no pedal do acelerador (e sem o atraso encontrado no Taos), o desempenho é satisfatório. Porém, ao pisar com mais intensidade, o ruído do câmbio CVT torna-se perceptível dentro da cabine.
Na estrada, é onde o Taos se destaca em relação ao ZR-V . O SUV da montadora alemã mantém uma boa calibração na leveza do volante. Além disso, ele é mais firme em altas velocidades, conseguindo ser mais estável que o ZR-V , sem comprometer o conforto, mas nada absurdo. No entanto, o Taos pode apresentar certa falta de equilíbrio ao desviar de obstáculos em alta velocidade, necessitando de uma maior correção na direção, algo comum em SUVs. Porém no ZR-V senti mais segurança ao fazer a mesma manobra.
Nas ultrapassagens, mesmo com o Taos alcançando 0 a 100 km/h em 9,6 segundos e o ZR-V em 11 segundos, em nossos testes, ambos demonstram boa capacidade de ultrapassagem e aceleração, porém o ZR-V mostra-se mais lento e sofre mais nestes momentos. Para quem gosta de maior contato com mais esportividade, entre esses dois SUVs, sem dúvida o Taos irá superar o veículo da Honda, especialmente devido às suas trocas de marchas rápidas.
Um dos aspectos que afirmam mais a diversão ao volante, é seletor de modos de condução (ECO, NORMAL, SPORT e INDIVIDUAL) no Taos , que oferece uma experiência de condução mais personalizada, ajustando diversos fatores como a rigidez do volante, o comportamento do motor e do câmbio e até mesmo o ACC (Controle Adaptativo de Cruzeiro). Já o ZR-V conta apenas com o modo “S” (Sport) no seletor de câmbio, que deixa apenas a simulação da trocas de marchas em rotações maiores.
Ambos os modelos utilizam suspensão independente sob a plataforma modular, o que leva uma condução suave e atende ao requisito de conforto. No entanto, a calibração é mais firme no Taos , lembrando até mesmo carros de categoria mais premium, pois absorve bem os solavancos e não transmite muita vibração para dentro da cabine. Essa sensação é mais perceptível no ZR-V devido à sua suspensão mais macia, que tende a causar mais balanços, mas não chega a ser negativa.
Em curvas de alta velocidade, o Taos se destaca, permanecendo mais estável devido aos pneus 235/45 R19 ( ZR-V usa 215/60 R17) e à suspensão mais firme, o que permite uma melhor resposta nas curvas. O ZR-V também desempenha bem nessas situações, embora a resposta ao volante seja um pouco mais lenta e seu peso seja maior, 1.420 kg para o Taos e 1.446 kg para o ZR-V, mas ainda assim mantém uma bela estabilidade. Ambos os veículos estão equipados com freios a disco nas quatro rodas, que oferecem excelente poder de frenagem.
Mesmo sem manta, o motor do Taos é notavelmente mais silencioso. Além disso, o isolamento acústico do Taos é mais refinado, com pouco ruído vindo do exterior. Por outro lado, o ZR-V gera bastante ruído ao acelerar, com o câmbio CVT produzindo bastante barulho dentro da cabine. Embora o isolamento acústico seja bom no ZR-V , não chega ao mesmo nível do Taos.
CONSUMO
O Volkswagen Taos é um veículo flex, então aceita gasolina e etanol, já o Honda ZR-V é apenas a gasolina. Isso acaba sendo uma vantagem para o Taos também. Vamos aos números: com gasolina na cidade, o Taos faz 11,1 km/l versus 10,2 km/l do ZR-V , na estrada 13,1 km/l versus 12,2 km/l, respectivamente. Ou seja, o Volkswagen é mais econômico. No etanol, ele faz 6,8 km/l no ciclo urbano e 8,5 km/l no rodoviário.
ERGONOMIA
Ambos os veículos oferecem um conjunto completo de equipamentos, gerando segurança, conforto e conveniência. Mas, existem ressalvas e diferenças.
Os bancos do motorista, que são elétricos em ambos os SUVs , agradam pelo bom conforto, porém o assento do ZR-V abraça melhor nas laterais. No entanto, durante viagens mais longas, notei um desconforto maior na região lombar, mesmo com os reforços de resina aplicados pela Honda para proporcionar mais comodidade. Por outro lado, no Taos , percebi uma pressão menor na região lombar, o que levou a um maior conforto.
Em termos de acabamento, é decepcionante notar o Taos , pois quem desembolsa R$ 210 mil por um veículo espera encontrar um acabamento mais premium. E aqui, mais uma vez, é onde a Volkswagen deixa a desejar.
As partes superiores das portas têm acabamento macio, assim como o apoio de braço, porém o tabelier é de plástico, e de uma qualidade que não condiz com o preço do veículo (lembrando o plástico do VW Polo). Em outros mercados, o Taos
oferece a mesma peça com um acabamento suave ao toque. Todavia as peças são bem montadas.
Já o ZR-V ganha nesse quesito, e por uma boa margem. As peças de montagem são bem ajustadas, com acabamento macio por todo o interior do carro, tanto nas portas, com bom acolchoamento, quanto no painel e até mesmo no console central elevado, o que demonstra um cuidado especial, especialmente para quem apoia as pernas, já que também é acolchoado.
Porém, um ponto que chamou bastante atenção na unidade de teste do Honda ZR-V, que já havia percorrido mais de 20 mil km, foi que o sistema multimídia emitia um ruído um pouco irritante ao andar, mesmo em superfícies planas. Ao tocar para sentir a firmeza, parecia mal encaixado, um pouco solto, deixando uma má impressão. Outros veículos da Honda , que possuem o sistema multimídia flutuante, não senti esse descuido.
Os porta-copos e os compartimentos para objetos são pequenos no Taos , com pouco espaço para guardar itens do dia a dia. O ZR-V leva também vantagem nesse cenário, com um grande espaço sob o console central e um espaço amplo à frente do câmbio, onde fica o carregador por indução, como no Taos , que pode ser desativado para evitar danos. O compartimento central também oferece um espaço mais generoso no veículo da Honda.
INTERIOR, EQUIPAMENTOS E SEGURANÇA
Começando pelo Volkswagen Taos , o SUV apresenta o painel de instrumentos Active Info Display (100% digital) de 10,25”, com várias informações do veículo, além de ser bem intuitivo e completo. No ZR-V, é utilizado uma tela de 7”, porém não totalmente digital, pois a metade é ocupada por um velocímetro físico. Apesar de também ser intuitivo e fácil de usar, não é tão completo quanto o SUV da VW.
As telas centrais de ambos os modelos possuem boas resoluções e interatividade, com 10,1” para o Taos e 9” para o ZR-V . Quanto ao emparelhamento, o Apple CarPlay é sem fio para ambos, mas o Android Auto no ZR-V requer conexão com fio, enquanto no VW Taos é sem fio. Ambos os SUVs oferecem interfaces rápidas e fáceis de usar, mas a resolução do Taos é um pouco superior, e ele fornece mais informações e opções de personalização do veículo em comparação com o ZR-V.
O VW Play está integrado ao Taos , oferecendo uma loja virtual e um ambiente exclusivo para os clientes baixarem aplicativos sem precisar conectar o celular. Além disso, o software pode ser atualizado como um smartphone, tornando o sistema multimídia mais completo do que o do ZR-V.
Ambos os modelos possuem ar-condicionado automático de duas zonas. No entanto, o Taos possui aquecimento nos bancos, com três intensidades para dias mais frios. O volante do Taos possui botões físicos, embora pareçam ser sensíveis ao toque. Apesar das críticas, a experiência de uso foi normal para mim. No entanto, achei os comandos do volante do ZR-V mais fáceis de usar. Ambos os volantes apresentam boa empunhadura e são ajustáveis em altura e profundidade, com aletas atrás do volante para troca de marchas.
O Honda ZR-V possui um equipamento a mais que pode ser considerado um ponto importante para alguns consumidores, o Auto Hold, conhecido por impedir o veículo de se mover quando parado e o pé é retirado do pedal do freio, na Volkswagen é conhecido como Brake Hold. Achei estranho este equipamento estar omisso do Taos , já que este possui freio de estacionamento eletrônico, porém a VW esqueceu deste item.
Da mesma forma, a Honda poderia ter incluído o sensor de ponto cego no ZR-V , como nos Estados Unidos, onde é vendido como HR-V e possui sensores em ambos os retrovisores. No entanto, a Honda argumenta ter implementado o LaneWatch, função que é ativada ao acionar a seta para a esquerda ou ao pressionar um botão na alavanca de seta, que exibe uma câmera apenas no lado esquerdo, mostrando o ponto cego.
Embora pareça útil, no dia a dia acabou me atrapalhando e eu desativei, pois a câmera exibe a imagem no multimídia inteiro, o que fez eu perder as rotas no GPS. Já o Taos possui sensores de ponto cego em ambos os lados.
Aproveitando o tema dos retrovisores, é bom mencionar o retrovisor esquerdo do ZR-V, que tem uma ampliação muito grande, o que me fez perder completamente a noção do que está ao meu lado, resultando em momentos em que quase encostei em outro carro. Parece que ele tem um zoom, o que é bem desagradável. Isso é típico em carros americanos e visto até em veículos da Ford.
Mas tirando essas diferenças, os modelos apresentam bastante similaridade em termos de equipamentos. Temos chave presencial para os modelos (no ZR-V , ao se afastar, ele fecha sozinho, um ponto a mais), sensores dianteiros e traseiros, retrovisores fotocrômicos, câmera de ré, acendimento automático dos faróis, pacote de sistema autônomo com controle automático de velocidade e adaptativo, stop & go, que faz o carro parar totalmente e andar sozinho, ótimo no trânsito, alerta e frenagem automática, alerta de saída de faixa, assistente de partida em rampa, detector de fadiga e assistente de tráfego cruzado com freio (esses dois últimos apenas no Taos). O Taos ainda leva a melhor por trazer o Park Assist, que faz o carro estacionar sozinho nas vagas.
Porém, o ZR-V leva a melhor no assistente de centralização na faixa, que é muito mais eficaz do que o do Taos , que acaba saindo um pouco e não centralizando perfeitamente como o carro da Honda . Ambos pilotos automáticos adaptativos funcionam bem, sem freadas bruscas quando um carro entra à frente inesperadamente.
Por fim, em termos de segurança, ambos os modelos levam cinco estrelas (nota máxima) no teste de batida do Latin NCAP. No entanto, em termos de airbags, o Taos possui seis, enquanto o ZR-V leva oito , dois a mais para joelhos na parte da frente.
RESUMO DA ÓPERA
Ambos os SUVs apresentaram boas características, equipamentos, dirigibilidade e espaço, cada um com suas peculiaridades: o Honda mais conservador e a Volkswagen buscando uma abordagem mais esportiva. Ambos têm seu lugar no mercado e atrativos fortes. No entanto, a falta de variedade de versões torna os modelos limitados para o público, o que impacta nas vendas.
O Jeep Compass , por exemplo, oferece cinco versões, incluindo duas novas com o motor 2.0 turbo de 272 cv, enquanto o Toyota Corolla Cross conta com cinco versões, incluindo as híbridas. Isso oferece ao consumidor diversas opções, levando muitos a escolherem as versões intermediárias desses modelos, sendo mais acessíveis que o Taos e o ZR-V.
No entanto, ambos os veículos conseguem satisfazer o consumidor. Em nosso teste, o Volkswagen Taos levou vantagem. Ele oferece mais espaço, melhor aproveitamento, diversão ao volante mais garantida e calibrada do que o ZR-V, além de contar com mais equipamentos.