Novo Honda Civic mudou da água para o vinho
Luiz Forelli Santana/iG
Novo Honda Civic mudou da água para o vinho

A competição acirrada entre montadoras sempre foi a essência do mercado de carros. O embate entre Honda Civic e Toyota Corolla , lutando pelo título do sedã médio mais vendido, é uma história antiga. Porém, tudo mudou em janeiro de 2023, quando a Honda surpreendeu ao lançar o novo Civic Hybrid importado da Tailândia. A iniciativa audaciosa rompeu a mentalidade tradicional de simplesmente superar o concorrente em volume de vendas, adotando uma abordagem ousada para o já conhecido Civic. 

A décima primeira geração do modelo representa uma evolução gigantesca em relação aos seus antecessores. Com um preço atual de R$ 265.900, o sedã médio oferece conforto, uma pitada de esportividade e uma economia comparável à de uma moto, desafiando muitos carros com motores 1.0. Agora, o Civic se posiciona como um sedã premium de luxo, e isso tem seu preço. 

VISUAL E DIMENSÕES

O Civic passou por grandes mudanças, mas as linhas permanecem fiéis ao modelo. A grade dianteira permanece horizontal e pequena, mas agora transmite uma impressão bicuda. Os faróis foram alongados e ganharam uma aparência mais agressiva. Na traseira, o modelo lembra o Accord da geração anterior, mas com novas linhas. No geral, o sedã parece mais robusto e imponente do que o modelo anterior.

Além das mudanças visuais, o Civic também cresceu um pouco em relação ao antecessor. Agora possui 4,68 metros de comprimento (4 cm a mais), 1,80 m de largura (1 cm a mais), 1,43 m de altura (1 cm a menos) e 2,73 m de distância entre eixos (3 cm a mais). Isso resultou em um bom espaço na parte traseira, com dois dedos de sobra entre o banco da frente e os meus joelhos, (banco regulado quase tudo para trás) mesmo para uma pessoa alta como eu, de 1,88 m. Porém, a cabeça pode raspar um pouco no teto. Mas no geral, o resultado é bom. 

Lanternas lembram a geração anterior do Accord
Luiz Forelli Santana/iG
Lanternas lembram a geração anterior do Accord

No entanto, o porta-malas diminuiu, passando de 519 litros para 495 litros, sendo menor que o do Jetta GLI , que possui 510 litros. Também é preciso ter cautela ao passar por valetas, pois o Civic é um pouco baixo, com um ângulo de entrada de 15º, o que pode resultar em raspagens em diversas situações.

MOTORIZAÇÃO E SENSAÇÃO AO VOLANTE 

A motorização do Civic é semelhante à do  Accord e ao CR-V . Embora tenha suas peculiaridades, é em essência similar. O sedã médio utiliza um motor 2.0 aspirado de 143 cv e 19,1 kgfm de torque, combinado com dois motores elétricos - um gerador e outro de tração - ligados a uma bateria de 1,05 kWh. O conjunto total entrega 184 cv de potência e 32,1 kgfm de torque - a impressão ao acelerar   o Civic é a sensação de torque quase instantâneo, semelhante à de um carro elétrico.

Na cidade, é muito agradável e confortável de dirigir. O Civic a presenta características de um carro premium, com suspensão independente nas quatro rodas que é macia e bem calibrada, dando uma condução suave, sem solavancos ou batidas secas nos buracos, embora não seja tão suave quanto a do Accord.

Modelo é confortável e é apenas pisar no acelerador que a potência vem
Divulgação
Modelo é confortável e é apenas pisar no acelerador que a potência vem

Na estrada, é extremamente estável e confortável. Sua altura baixa, de apenas 15 cm em relação ao solo, e os pneus largos (215/50 R17) contribuem para a estabilidade, mantendo o modelo firme sem oscilações. O Civic possui potência mais do que suficiente para ultrapassagens, graças ao bom torque e às retomadas rápidas e fáceis. As retomadas de 80 a 120 km/h são feitas em 4 segundos, enquanto o 0 a 100 km/h é alcançado em 7,2 segundos, um excelente tempo.

Destaca-se também em curvas, sendo muito estável e aderente ao solo, não exigindo correções mesmo em curvas mais fechadas e mesmo entrando mais forte. A direção precisa e responsiva do veículo contribui muito para essa sensação de segurança e controle.

CONSUMO

Consumo é de impressionar
Luiz Forelli Santana/iG
Consumo é de impressionar

E é aqui que o Honda Civic talvez faz jus ao seu preço. Assim como todos os modelos híbridos da Honda no Brasil, o sedã é equipado com dois motores elétricos - um gerador e outro de tração - que são os principais responsáveis pela propulsão na maioria das situações, superando a contribuição do motor a combustão. 

Isso significa que o Civic opera principalmente com o auxílio das baterias, semelhante a um carro elétrico, resultando em uma excelente economia de combustível. Consegui alcançar impressionantes 19 km/l na cidade e 16,1 km/l na estrada, números excepcionais para um veículo de 1.449 kg e dessa categoria. Aliás, esses números superam o divulgado pelo Inmetro - 18,3 km/l na cidade e 15,9 km/l na estrada. 

MAS COMO A ECONOMIA É TÃO BOA? 

Essa eficiência se deve ao fato de que o Civic não é um híbrido comum. Apesar de ser considerado um híbrido convencional, a abordagem da Honda de entregar um comportamento de propulsão quase elétrico é grande aqui. Ao contrário dos híbridos tradicionais, nos quais o motor a combustão são diretamente ligado às rodas para mover o veículo quando a energia da bateria se esgota, no Civic, Accord e CR-V, o motor a combustão, em vez de ser ligado diretamente nas rodas na maioria dos momentos, ele ligado às baterias, e desta forma carrega elas. 

O motor a combustão, quando acionado, é feito de maneira suave e quase imperceptível para carregar as baterias, enquanto estas continuam a tracionar as rodas. O motor de tração é responsável pelo movimento, enquanto o segundo motor (gerador) recarrega as baterias. 

O motor a combustão é utilizado diretamente nas rodas apenas em duas situações: quando o veículo está em velocidade de cruzeiro, onde é mais eficiente que a bateria, ou quando o condutor acelera bruscamente, exigindo potência máxima.

Todo esse sistema funciona de forma automática, dando uma experiência de condução suave e silenciosa, graças ao excelente isolamento acústico da cabine e ao ANC (Cancelador de Ruído nos vidros e portas). Embora não seja tão perfeito quanto o do Accord, o isolamento acústico do Civic é bem realizado, com boas mantas entre as portas. No modo Sport, o som do motor a combustão é amplificado pelos alto-falantes, o que dá uma sensação de esportividade, incluindo a simulação da troca de marchas do câmbio.

INTERIOR, EQUIPAMENTOS E ERGONOMIA

Acabamento é de primeira linha
Luiz Forelli Santana/iG
Acabamento é de primeira linha

O Honda Civic também conta com ótimos equipamentos, o que não é nada surpreendente, dado o seu preço. A central multimídia possui 9” com Apple CarPlay sem fio, porém, infelizmente, o Android Auto requer conexão por cabo. Ela responde rapidamente e fornece diversas informações do veículo, além de ser intuitiva. O painel de instrumentos também é TFT (100% digital) de 10,2” e fácil de usar, com boas visualizações das informações e diversas opções de personalização.

O console central é alto e os bancos dianteiros, que possuem regulagem elétrica, geram grande comodidade e conforto em viagens mais longas. A posição de dirigir é bem confortável e oferece boa visibilidade. Todos os ajustes estão facilmente acessíveis, incluindo a regulagem do ar-condicionado automático de duas zonas, os modos de condução, o carregador por indução de 12 W e o sistema auto hold. 

O acabamento também é muito bem feito, com soft-touch em todo o painel, na parte superior das portas dianteiras e traseiras. No entanto, a parte inferior do console central não possui revestimento, como no Accord, mas isso não chega a ser um incômodo.

O Honda Civic também oferece chave presencial com partida remota do motor, regulagem de altura e profundidade para o volante, vidros elétricos com função one touch, saídas de ar-condicionado para ocupantes traseiros, direção com assistência elétrica progressiva, retrovisores elétricos com função de rebatimento, sistema de som Bose de excelente qualidade por sinal, com seis alto-falantes, faróis de LED com acendimento automático e sensores de comutação para evitar ofuscar outros motoristas, teto solar e câmera de ré.

O carro em si é bem completo pelo preço, como era de se esperar. No entanto, há algumas ressalvas que parecem ser um atraso por parte da Honda, considerando o preço e a modernidade do veículo. A ausência de uma câmera 360° é algo que faz falta, especialmente considerando que esse recurso tem se tornado padrão em veículos atuais dessa faixa. 

Embora a Honda ofereça o Lane Watch como assistente de ponto cego, utilizando uma câmera no espelho direito que é ativada ao acionar a seta, há um problema: a câmera é exibida no sistema multimídia, o que pode atrapalhar quando se está seguindo uma rota no GPS, já que a imagem desaparece. Felizmente, é possível desativá-lo.

Um aspecto que causa confusão é o sistema auto hold, que mantém o carro parado ao retirar o pé do freio, mas desativa automaticamente ao desligar o veículo, ao contrário do que acontece com outros modelos da Honda que mantêm o sistema ativado. 

Além disso, os sensores dianteiros são outro ponto de questionamento: embora sejam ativados normalmente quando se aproxima de um objeto e emitem alertas sonoros, não há opção para desativá-los, o que pode ser irritante. Em outros modelos da Honda equipados com sensores dianteiros, é possível desligá-los, o que torna essa falta de opção ainda mais desagradável.

Faróis são automáticos e possuem regulagem
Luiz Forelli Santana/iG
Faróis são automáticos e possuem regulagem

SEGURANÇA 

O pacote de segurança do Civic é extremamente rigoroso e eficaz. O sedã médio possui oito airbags (dois frontais, dois de cortina, quatro laterais e dois na traseira). O sistema ADAS também é muito completo e eficiente. Por exemplo, o Civic evita freadas bruscas quando um carro entra à frente com o controle automático de velocidade adaptativo (ACC) ativado. Além disso, o assistente de permanência na faixa é bastante eficaz e corretivo, mesmo durante a noite.

Ele oferece as seguintes funções: 

- ACC (Controle de Cruzeiro Adaptativo): Auxilia o motorista a manter uma distância segura em relação ao veículo à frente, incluindo o recurso Low Speed Follow para baixas velocidades.

- CMBS (Sistema de Frenagem para Mitigação de Colisão): Aciona os freios ao detectar uma possível colisão frontal, identificando pedestres, veículos, bicicletas e motocicletas.

- LKAS (Sistema de Assistência de Permanência em Faixa): Detecta as faixas de rodagem e ajusta a direção para manter o veículo centralizado nas linhas de marcação.

- RDM (Sistema para Mitigação de Evasão de Pista): Detecta a saída da pista e ajusta a direção para evitar acidentes.

- AHB (Ajuste Automático de Farol): Comuta automaticamente entre os fachos baixo e alto dos faróis de acordo com a situação noturna.

Honda Civic 2024
Luiz Forelli Santana/iG
Honda Civic 2024

RESUMO DA ÓPERA 

O Honda Civic hoje é R$ 51 mil mais caro que o Toyota Corolla e entrega uma experiência completamente diferente. O luxo e o conforto são muito superiores ao velho Civic e do atual Corolla. Estamos falando de outro patamar. Se você procura um sedã médio que ofereça conforto, tecnologia, dirigibilidade, boa resposta ao pisar no acelerador e excelente economia de combustível, o Civic é, sem dúvida, uma ótima escolha.

Se você está considerando um sedã médio zero quilômetro nessa faixa de preço, encontrará também o VW Jetta GLI, que oferece um pouco mais de tecnologia e uma pegada mais esportiva, embora a economia de combustível não seja comparável à do Civic. Em vários aspectos, o Civic lembra o Accord , sendo até mais ágil de guiar, embora não ofereça o mesmo nível de conforto do sedã grande. Poderíamos até chamar o Civic de "Mini Accord" . É um baita carro.

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