Cobrança por quilômetro rodado pode pesar sobre elétricos em 2028

Nova taxa coloca em xeque os benefícios dos EVs e impacta o custo real de uso diário

Mitsubishi Eclipse Cross Elétrico durante carregamento 2026
Foto: Divulgação/Mitsubishi
Mitsubishi Eclipse Cross Elétrico durante carregamento 2026

O mercado europeu  começa a dar sinais de que o futuro dos carros elétricos não será mais tão barato quanto parecia.

Uma proposta do Tesouro britânico (HM Treasury), incluída no plano orçamentário da chanceler Rachel Reeves, prevê que a partir de 2028 proprietários de veículos elétricos passem a pagar uma taxa por distância percorrida. O valor sugerido é de 3 pence por milha, o equivalente a cerca de R$ 0,13 por quilômetro, o que altera a conta de economia que sempre sustentou a adoção dos carros elétricos.

Para o motorista comum, especialmente países fora da Europa, a ideia parece distante. Mas o movimento serve como alerta. A transição para elétricos sempre foi vendida como forma de reduzir custos de combustível e manutenção. Se a conta começar a incluir pedágio por uso, esse argumento perde parte da relevância. A mudança pode alterar radicalmente o perfil de quem considera comprar um elétrico,  e também as estratégias das montadoras.

Por trás da proposta: perda de receita com combustíveis

A justificativa é simples e técnica. Com a popularização dos carros elétricos, receitas provenientes de impostos sobre combustíveis,  que antes bancavam infraestrutura, manutenção de estradas e subsídios,  estão secando. Sem gasolina ou diesel entrando no sistema, o Estado busca formas alternativas de arrecadação. A cobrança por quilômetro rodado surge como alternativa. 


Para híbridos plug-in (PHEVs), a proposta também prevê cobrança, embora menor, cerca de 1,5 pence por milha (cerca de R$ 0,07 por quilômetro rodado). 

O custo real para o motorista

Segundo estimativas iniciais, um dono de veículo elétrico que roda cerca de 13 mil km por ano (equivalente à média de uso urbano ou rodoviário moderado) poderia desembolsar algo em torno de 300 a 400 libras anuais (entre R$ 2,1 mil e R$ 2,8 mil),  antes mesmo de contar energia elétrica, seguro e manutenção. 

Em mercados como o Brasil, onde os  impostos de importação e a infraestrutura de carregamento ainda não é das maiores, essa taxa adicional teria um peso contra ainda maior. A promessa de “economia garantida” ao trocar um carro a combustão por um elétrico pode ficar comprometida.

Além disso, a taxa por quilômetro tende a afetar quem mais roda. Isso muda o perfil de público atraído pelos elétricos: de “usuário urbano que busca economia” para “usuário ocasional ou de baixo uso”.

O impacto sobre a adoção dos elétricos

A medida pode desacelerar a transição para veículos elétricos. Já há projeções de uma queda na demanda: o aumento do custo de propriedade pode desestimular quem considerava trocar o carro, mesmo com o apelo ecológico e de tecnologia.

Para as montadoras, o risco é perder um argumento forte de venda: o menor custo de uso. Elas podem ser forçadas a repensar preços, incentivos, subsídios ou até o desenvolvimento de modelos com maior eficiência energética e menor custo de uso por km.