Visões políticas à parte, há uma crise financeira no Brasil que vem afetando a maioria das áreas. Um dos poucos que que escapa é o agronegócio, que cresceu em 2015 e especialistas acreditam que deve render mais US$ 2,5 bilhões neste ano apenas em exportações. E o que isso tem a ver com a Ford Ranger ? Tudo. É nesse público que a marca está de olho, em quem trabalha no campo e está muito bem financeiramente.

Foi nisso que a Ford baseou sua estratégia, aproveitando o momento da renovação da Ranger para recheá-la de equipamentos e atrair quem quer uma picape pelo status que seu porte traz, sem abrir mão de um interior com mais requinte. Para os que estão dispostos a pagar bastante, temos a versão Limited com motor diesel, por R$ 179.900.

Só que a Ranger com motor flex não entra nessa jogada. Não é um carro voltado para o campo, por ter menos torque e tração 4x2. É para quem quer se impor nas ruas da cidade com um veículo grande. Mesmo que seja voltada para esse público, a Ranger mostra ser bem competente e que tem tudo para satisfazer seus compradores.

Em sua forma mais básica XLS, ela custa R$ 99.500. É dinheiro o suficiente para comprar um carro premium, ainda que de entrada. Por isso a obrigação de ser um carro bem completo. Vem com vidros e travas elétricas, 7 airbags, controle de estabilidade e tração, assistente de partida em rampa, ar-condicionado, rodas aro 17” de liga leve e pneus 265/65, piloto automático e o sistema multimídia Sync, ligado a uma tela de 4,2 polegadas.

Por R$ 109.500, é possível passar para a XLT, com o novo painel de instrumentos com duas telas digitais de 4 polegadas (igual do sedã Fusion), ar-condicionado digital de duas zonas, sensor de estacionamento traseiro e tela de 8 polegadas sensível ao toque para a central multimídia. Por fim, no topo da gama com motor flex, estará a Limited, por R$ 118.500, com piloto automático adaptativo, alerta de colisão, sensor de estacionamento dianteiro e outros mimos – porém, a Ford deu preferência para a Limited diesel, então essa versão só chega daqui a dois meses.

Valente, pero no mucho

Comparar uma picape a diesel com uma a gasolina não dá certo, tanto é que o test-drive que fiz em Puerto Iguazú (Argentina) foi voltado quase que exclusivamente para a versão Limited diesel. O trajeto foi feito através da reserva florestal, usando uma trilha que o exército argentino abriu especialmente para o evento – e isso não é conversa da Ford para chamar a atenção, havia restos de árvores e galhos nas laterais da trilha, que será usada depois para treinamento de direção na selva. Considerando as situações que vimos no teste (semelhantes aos que passei na prévia do dia 9 de abril), a Ranger com tração traseira não chegaria ao final.

A alternativa foi pegar a caminhonete depois do almoço, para voltar ao hotel. Foi um caminho curto, de quase 50 km, e quase que completamente na estrada, com exceção do pequeno trecho atravessando a pequena cidade de Puerto Libertad. Tão pequena que apenas 17 quarteirões separavam a entrada da saída da cidade.

Quando alcancei a Rota Nacional 12, estrada que liga Puerto Libertad a Puerto Iguazú e a fronteira com o Brasil, aproveitei para acelerar. Não tem como negar que sair do motor diesel para o flex causa uma estranheza. O motor 2.5 Duratec mostra bravura, porém não podemos esperar por um milagre, considerando que são 173 cv e 25 kgfm de torque batalhando para empurrar uma picape de 1.902 kg. Precisamos trabalhar com o motor em giros altos para conseguir o máximo de agilidade possível, a 4.500 rpm para que o torque atinja seu limite. Ainda bem que o câmbio manual, de cinco marchas, é bem ajustado, facilitando o trabalho – nada de Ranger flex com transmissão automática.

Estava com mais três pessoas de peso médio, sem carregar nada na caçamba. Ao contrário de alguns concorrentes, como a Chevrolet S10 , a Ranger agora só conta com versões de cabine dupla, aumentando seu peso. Tenha isso em mente se pretende usar a caminhonete como forma de transportar alguma carga, pois será necessário puxar mais o motor.

Quando troquei de lugar com o outro jornalista, aproveitei para dar uma olhada no acabamento e equipamentos. Infelizmente, a Ford não trouxe nenhuma Ranger XLS, então guiava a intermediária XLT. As impressões foram tão boas quanto a do modelo Limited, com alguns detalhes a menos. O ajuste dos bancos, por exemplo, é feito com alavancas. É uma cabine agradável, embora cometa deslizes bobos, como o ajuste elétrico dos espelhos laterais, que fica atrás do lado esquerdo do volante, posição pouco intuitiva. E o acabamento do teto poderia ser mais caprichado, com aquela cara de plástico revestido (e que faz um som oco).

No curto período de tempo em que fiquei com a Ranger XLT flex, a picape mostrou que tem tudo para impulsionar a venda de toda a linha e destronar a Toyota Hilux . O problema é que a Chevrolet  S10 está prestes a mudar também, aparecendo cada vez mais nas ruas  e com lançamento previsto ainda para abril. Se é de picape média que você gosta, o momento é bem interessante.

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