Donald Trump começou 2016 comprando briga com Ford, General Motors e Toyota.
PAUL J. RICHARDS / AFP
Donald Trump começou 2016 comprando briga com Ford, General Motors e Toyota. "Produzam carros nos EUA ou pagarão mais impostos", ameaçou o político.

Donald Trump poderia usar “polêmica” como seu nome do meio. O novo presidente dos Estados Unidos, que ainda nem assumiu o cargo (o que acontece apenas no dia 20 de janeiro), comprou briga com as fabricantes nos últimos dias pelo Twitter. Em seus posts, o executivo reclamou que as marcas estão investindo para produzir no México e, por isso, iriam pagar por “grandes impostos de importação”.

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O primeiro alvo de Trump foi a General Motors , em uma reclamação sobre a produção do Chevrolet Cruze no México. “General Motors está mandando o modelo mexicano Chevy Cruze para as concessionárias dos EUA isentas de impostos pela fronteira. Produza nos EUA ou pague um grande imposto de importação!”, disse o novo presidente.


A GM se defendeu com o argumento de que o Cruze sedã, seu modelo de maior volume, é produzido em Lordstown, Ohio, e que o modelo mexicano que Trump fala é a versão hatch Sport6, que tem um volume muito pequeno de vendas para justificar sua produção local. O Cruze hatch mexicano é enviado a diversos mercados além do norte-americano. Esqueceram de dizer que, durante os três primeiros meses do sedã nos EUA, algumas unidades vieram sim do México. A defesa deu certo, já que as ações da GM subiram levemente depois do embate.

Pequena vitória

Para a Ford a situação não foi tão boa assim. Trump criticou os planos da Ford de erguer uma nova fábrica no México, fruto de um investimento de US$ 1,6 bilhão, e que seria a nova casa do Focus . Pouco depois, a fabricante anunciou que iria cancelar a estratégia para o México e que iria usar US$ 700 milhões desse valor para erguer um novo prédio no complexo Flast Rock Assembly Plant, em Michigan.

Segundo Mike Fields, CEO da empresa, o investimento será usado para produzir veículos elétricos e autônomos, além do novo Mustang e Lincoln Continental . Fields afirma em entrevista para a CNN que a decisão teria sido tomada independentemente dos posicionamentos de Trump pelo Twitter. Ainda assim, o novo presidente dos EUA comemorou a decisão como uma vitória de sua política.

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Como a Ford recuou, Trump ganhou confiança e foi atrás da Toyota. “Toyota Motor disse que irá produzir uma nova fábrica em Baja, México, para produzir o Corolla para os EUA. DE JEITO NENHJM! Ergam fábrica nos EUA ou pague um grande imposto de importação”, afirmou Trump pela rede social. Foi o suficiente para as ações da Toyota caírem US$ 0,75 na bolsa de valores, mesmo que a mensagem esteja cheia de informações erradas.

A Toyota já possui uma fábrica em Baja, onde produzem a picape grande Tacoma. O Corolla é produzido grade parte nos EUA, na fábrica em Mississippi, complementado por unidades vindas de Ontario (Canadá). A ideia da fabricante é erguer uma nova fábrica em Guanajuato (México), para onde será transferida a montagem feita no Canadá, sem que afete a produção norte-americana. Em comunicado, a empresa diz que aguarda Trump assumir o cargo para colaborar com a nova administração.

Guerra contra o México

O Toyota Corolla norte-americano é diferente do modelo internacional. Atualmente, é feito nos EUA e no Canadá,  sendo que a produção canadense será transferida para o México em 2019.
Divulgação/Toyota
O Toyota Corolla norte-americano é diferente do modelo internacional. Atualmente, é feito nos EUA e no Canadá, sendo que a produção canadense será transferida para o México em 2019.

Em todos os casos, há um denominador comum: México. As reclamações feitas por Trump sempre envolvem o investimento das fabricantes para produzir no país vizinho ao invés de gerar empregos nos EUA.  A mídia norte-americana já começa a questionar por que o novo presidente não questionou as marcas sobre a produção no Canadá, outro país que faz parte do bloco econômico NAFTA e que isenta de impostos os veículos importados do México e Canadá, desde que tenham 62,5% de conteúdo norte-americano.

Trump quer barrar de qualquer jeito a “invasão” dos carros mexicanos e já afirmou que quer colocar uma tarifa de 35% sobre os veículos importados do México. Como comparação, o governo brasileiro colocou os 30% de IPI sobre veículos importados acima da cota de 4.800/ano, medida que é criticada e, segundo a associação de importadoras de veículos, fez as vendas despencarem.

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Caso o novo presidente dos EUA cumpra sua ameaça e coloque os 35% de imposto, o país irá enfrentar uma batalha na Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre a medida protecionista. Novamente, o Brasil serve de exemplo. Japão e outros países entraram com uma reclamação na OMC contra o Inovar-Auto e o nosso IPI de 30%. A entidade deu ganho de causa para a acusação e cobra por uma mudança por parte do governo brasileiro – ou seja, há jurisprudência para que México e Canadá entrem contra a EUA.

Salve-se quem puder

Um dos carros da Nissan mais vendidos nos EUA é o sedã Sentra. Assim como o modelo brasileiro, ele é produzido na fábrica mexicana de Aguascalientes.
Divulgação
Um dos carros da Nissan mais vendidos nos EUA é o sedã Sentra. Assim como o modelo brasileiro, ele é produzido na fábrica mexicana de Aguascalientes.

Enquanto Trump não assume, a pergunta do momento é: Qual será a próxima vítima? Muitas montadoras, como Audi , BMW , Mercedes-Benz e Nissan , já anunciaram grandes investimentos no México e, em alguns casos, já estão erguendo novos complexos no país. A Toyota , por exemplo, já iniciou a construção da fábrica em Guanajuato. Algumas, como a Nissan e a Honda , estão no país há anos e sempre atualizam suas fábricas.

A Nissan é uma que pode enfrentar um grande problema caso a barreira de 35% de imposto vire realidade. Há 50 anos no México, a montadora japonesa produz mais de 800 mil carros no país e quase um quinto de suas vendas nos EUA são de modelos mexicanos. Se adiantando a uma possível reclamação de Trump, a fabricante divulgou um infográfico mostrando qual é o volume de sua produção norte-americana e o quanto já investiu no país.

Outra marca que tem motivos para ficar preocupada é a Fiat-Chrysler Automóveis . Dos 926.376 veículos que o grupo vendeu nos EUA em 2016, 386 mil deles tem origem mexicana (cerca de 42%). Podem acalmar o político com o argumento de que a fábrica em Ohio irá produzir mais Wrangler  e, com o novo Compass sendo transferido para o México, a planta em Illinois poderá focar no Cherokee.

Tudo pode acontecer, desde a criação de um imposto de importação específico para carros até o fim do bloco NAFTA. Analistas adiantam que, independente da decisão, as fabricantes terão que rever seus planos para o México nos próximos anos. Com tanta polêmica, a indústria automotiva só conseguirá iniciar suas estratégias para 2017 depois do dia 20 de janeiro, dia em que o novo presidente dos EUA irá assumir o cargo.

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