Com autonomia de 100 km, o elétrico Renault Twizy é voltado para o uso urbano - ideal para  atender clientes
Nicolas Tavares/iG Carros
Com autonomia de 100 km, o elétrico Renault Twizy é voltado para o uso urbano - ideal para atender clientes

Em uma viagem à Europa, o CEO da Porto Seguro, Fabio Luchetti, viu o conceito do compartilhamento de carros em funcionamento nas ruas francesas. E chamou sua atenção por encontrar um modelo bem diferente, o Renault Twizy. Com dimensões mais próximas de uma moto do que de um automóvel e motorização elétrica, o compacto logo deu uma ideia ao executivo. Assim que voltou ao Brasil, chamou sua equipe e foi falar com a Renault para conseguir algumas unidades para sua frota de atendimento.

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Alguns meses depois, a Porto Seguro apresenta seu projeto: Dezesseis unidades do Renault Twizy farão parte de seus veículos de atendimento. Seis deles são para reparos rápidos para veículos (troca de pneu, recarga de bateria e mais), enquanto os outros seis serão destinados à equipe que faz serviços domésticos do Porto Seguro Faz. Todos ficarão apenas em São Paulo, cada um cobrindo uma região específica.

O planejamento é importante, pois o Twizy é um elétrico que tem autonomia de apenas 100 km. “É um veículo que nasceu dentro da estratégia da Aliança Renault-Nissan de trabalhar apenas com elétricos e que tem a proposta de ser um citycar , isto é, voltado 100% para o uso na cidade”, explica Caique Ferreira, diretor de comunicação da Renault do Brasil. “Já entregamos unidades para Itaipu e para a polícia de Curitiba (PR), mas é a primeira vez que o Twizy circula nas ruas, emplacado.”

É um modelo tão básico que as portas são opcionais e podem ser retiradas. Vidros? Só se forem de plástico
divulgação/Renault
É um modelo tão básico que as portas são opcionais e podem ser retiradas. Vidros? Só se forem de plástico

Apesar de ter unidades do citycar elétrico há alguns anos, a marca encontrou um problema para homologá-lo, por ser diferente. Depois de muita discussão com o governo, conseguiram encaixá-lo na categoria de quadriciclo, finalmente permitindo que o Twizy rodasse nas ruas – Itaipu usava para circulação interna, enquanto a prefeitura de Curitiba restringiu seu uso para dentro dos parques da cidade.

Para a Porto Seguro, só há vantagens. “Investimos em veículos sustentáveis desde 2008, quando lançamos as bicicletas elétricas Felisa. Este ano, começamos a usar motos elétricas e agora temos o Twizy”, conta Ronaldo Celestino, gerente de marketing institucional da seguradora. Além de continuar com a iniciativa “verde”, ganha em imagem, pois o compacto da Renault tem um visual bem curioso e chama a atenção na rua. “Logo no primeiro dia, um dos motoristas disse que a polícia mandou que encostasse só para ver o carro. Outro contou que um motorista de ônibus parou no semáforo e saiu para tirar uma foto”, brinca Celestino.

E por que exatamente o Twizy, ao invés de outro elétrico? A Renault tem outros três modelos: Kangoo ZE, Fluence ZE e o hatchback Zoe. “O tamanho e facilidade para estacionar o Twizy foi essencial para sua escolha. Um furgão de serviço ou mesmo um hatch tem o problema de procurar lugar para estacionar e uma mobilidade mais restrita do que o Twizy. Precisávamos de um veículo mais ágil para enfrentar o trânsito e manter a rapidez do atendimento”, explica Richard Ferreira, gerente de serviços da Porto Seguro.

Dirigindo o Twizy

Não é um carro para viajar ou mesmo sair com os amigos. Pequeno, tem o papel de percorrer curtas distâncias na cidade
Nicolas Tavares/iG Carros
Não é um carro para viajar ou mesmo sair com os amigos. Pequeno, tem o papel de percorrer curtas distâncias na cidade

Andar em um carro elétrico é uma experiência diferente por si só, pelo silêncio causado pela falta de barulho do motor e pelo torque instantâneo ao pisar no acelerador. No Renault Twizy, ainda temos que somar o fato de ser um carro tão pequeno que só cabem duas pessoas – o passageiro vai sentado atrás, como em uma moto. Dependendo da versão, não tem nem janelas, que são oferecidas como opcional e são feitas de plástico.

Já tinha tido a chance de acelerar o pequeno antes da coletiva com Carlos Ghosn, chefão da Aliança Renault-Nissan, no ano passado (momento em que mostraram Captur, Kwid e Koleos pela primeira vez no Brasil). Já estava familiarizado com seu funcionamento e, ainda assim, tive que tirar alguns segundos para me reacostumar com o citycar. A cabine é espaçosa, já que não gasta com porta-objetos ou outros equipamentos. Só temos o velocímetro, os comandos dos faróis, setas e limpadores de para-brisa em hastes na coluna de direção, entradas 12V em alguns lugares e o comando do câmbio na parte esquerda do painel (acionado por botões). O freio de estacionamento é uma alavanca posicionada embaixo do painel.

É tão pequeno que, para poder carregar alguma coisa, tem que ser a versão Cargo, que elimina o espaço do passageiro
divulgação/Renault
É tão pequeno que, para poder carregar alguma coisa, tem que ser a versão Cargo, que elimina o espaço do passageiro

Ajusto o banco, que usa dois cintos de segurança. Não há espaço atrás, pois trouxeram a versão Cargo, que troca a área do passageiro por um porta-malas maior – o que não é problema, já que fico bem confortável. Fecho a porta (que abre para cima, da forma conhecida como “tesoura”) e ligo o Twizy. Silêncio total, só sei que está ligado porque o painel de instrumentos marca Go em verde. Solto o freio, aciono o D e acelero.

O motor elétrico de 17 cv e 5,8 kgfm logo começa a mover o Twizy com facilidade (embora tenha que pisar até a metade do curso do acelerador). Leve, pesa apenas 473 kg (mais a carga). Um motor a combustão vai ganhando potência e torque conforme vai aumentando as rotações. Em um elétrico, basta acelerar que seu desempenho é entregue imediatamente. São 6,1 segundos para ir de 0 a 45 km/h e tem velocidade máxima de 80 km/h. Como sua proposta não é ser rápido, não irá impressionar como um BMW i3, por exemplo, mas está dentro do esperado para um veículo que vai circular a maior parte do tempo em vias de 50 km/h.

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Essa foi a primeira vez que colocamos um Twizy nas ruas brasileiras. Antes, os jornalistas guiavam o citycar em ambientes controlados, com asfalto decente – algo bem diferente da região de Campos Elísios, em São Paulo. O chão desnivelado logo revela que não é muito confortável, transmitindo a baixa qualidade das ruas direto para a cabine. As rodas de 13 polegadas, aliadas à suspensão ajustada para compensar o peso distribuído na parte de baixo (baterias e motor ficam na altura dos eixos), fazem com que seja um pouco duro.

Para ficar leve, tirou tudo o que não fosse necessário da cabine. Só tem rádio porque colocaram um Bluetooth no teto
divulgação/Renault
Para ficar leve, tirou tudo o que não fosse necessário da cabine. Só tem rádio porque colocaram um Bluetooth no teto

Sua autonomia de 100 km pode parecer pouco, mas lembre-se que é um carro para ficar na cidade e poucas pessoas rodam mais do que isso ao longo do dia – muito menos em uma tacada só. Quando chegar em casa ou no trabalho, bastaria plugar o Twizy em uma tomada comum para recarregar as baterias, levando três horas para “encher o tanque” se plugado em 220V (ou o dobro disso em 110V). Ao contrário de outros elétricos, o pequeno Renault consegue usar uma tomada comum, sem pino aterrado. Ou seja, bastaria deixar o carro plugado enquanto vai trabalhar para ter autonomia máxima no fim do expediente.

Governo não se interessa

A grande barreira para esse tipo de carro no Brasil é o desinteresse do governo. Durante anos, diversas fabricantes tentaram fazer com que os políticos criassem algum tipo de incentivo para a venda dos automóveis sustentáveis. Após muita briga, finalmente veio: Imposto de importação zerado para elétricos e movidos à hidrogênio, e de 7% para híbridos. Só que, no caso do Twizy, o Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) é de 25%, quase o dobro dos modelos a combustão. E isso sem contar outras taxas como PIS/Confins.

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Isso inviabiliza a venda para pessoas físicas. O Renault Twizy um veículo muito barato lá fora, vendido por 7,4 mil euros (R$ 25,7 mil, em uma conversão simples ) na versão 45, que tem limite de 45 km/h e não exige habilitação. Por aqui, se aproximaria dos R$ 100 mil. As fabricantes querem vender elétricos por aqui, só falta o governo permitir que o brasileiro tenha uma chance de comprar esses carros. Quem sabe isso não aconteça, em breve, quando lançarem o novo regime automotivo?

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