Quem esteve no Sambódromo do Anhembi na última terça-feira testemunhou um dos encontros mais engajados entre os entusiastas brasileiros. A ocasião também marca o aniversário de 50 anos de um ícone da indústria nacional, sendo até os dias de hoje o modelo que ficou mais tempo em linha. O Chevrolet Opala, agora cinquentão, mobilizou até mesmo uma pequena caravana de fãs do Rio de Janeiro que cruzaram a Dutra de ponta a ponta só para o encontro.
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Em meio ao cheiro de gasolina que sai destes borbulhantes motores de quatro e seis canecos, a reportagem do IG Carros marcou presença para entender mais sobre o ecossistema dos “opaleiros”. Os perfis e idades podem ser diferentes, mas a paixão pelo Chevrolet Opala
conecta todos os apaixonados pelo modelo de luxo.
Paixão pelo Opala
Se você acompanha apenas um pouco das discussões de entusiastas da web, sabe que o Brasil vive um tremendo Fla x Flu quando falamos de Opaleiros e os fãs da linha AP, da Volkswagen. O microempresário Márcio, de 38 anos, conta que viveu os dois lados depois de ter um Santana, mas acabou dando preferência pelo Opala.
“Aos 17, tive a primeira oportunidade de dirigir o Opala do meu vizinho. Desde então, fiquei com aquilo na cabeça. Prometi que, quando tivesse um carro, seria um Opala. Acabei comprando o primeiro no ano seguinte. Hoje, 20 anos depois, estou no meu décimo quinto”, conta o microempresário. “Tive quase todos os modelos de Opala já lançados. Só não sou muito fã dos modelos a partir de 1988”, continua ele, posando ao lado de seu modelo 1974, branco.
Opaleiro desde a infância, Márcio está experimentando a paternidade há pouquíssimo tempo. Levou o filho de apenas três meses para o evento, ainda que não tenha idade para saber o que está acontecendo ao seu redor. “Tem que contaminar desde cedo. Para a paixão pegar na veia, sentir o ronco dos motores desde a infância para aprender a gostar de coisa boa”, brinca o microempresário, que faz parte da Escuderia 4100, do Ipiranga (SP).
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“O filho de um mecânico muito conhecido no bairro tinha a intenção de criar uma equipe, mas sem a intenção de se transformar em um clube. Era pra ser algo entre os amigos. Hoje nós temos 25 integrantes, o que pode parecer pouco comparado aos clubes que têm mais de 400 associados. Mas considerando apenas um bairro, trata-se de um número respeitável”, finaliza.
Lembranças de infância
Alexandre, administrador de 46 anos, conta que é apaixonado por Opala desde criança. “Eu tinha seis anos quando meu avô comprou um modelo 1978 Comodoro, zero quilômetro. Consigo lembrar até hoje! A paixão vem dessa época”, diz ele.
“Décadas depois, comecei a manter este Opala 1972 com um amigo. Levamos um ano e meio para reformar e deixá-lo do jeito que você está vendo. É um mundo maravilhoso que eu não quero sair nunca mais. Foi muito triste ver o Opala sair de linha. Moro perto da GM, em São Caetano do Sul (SP), e doeu ver o Omega substituindo a nossa paixão nos caminhões cegonha que passavam pela Estrada das Lágrimas”, finaliza.
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Paixão antiga
Denny, 42 anos,comerciário, é um dos organizadores do clube que Alexandre também faz parte, e conta que seu irmão teve quinze Opalas. “Praticamente fui criado dentro de um Opala”, diz o entusiasta.
“Este modelo 1989 automático pertenceu ao presidente da Associação Brasileira de Veículos Antigos, e já havia passado por mim há aproximadamente dezoito anos. O antigo proprietário ficou com ele por mais doze, antes que eu o comprasse de volta. Não fiz restauração pesada, pois o carro estava íntegro no geral. Foram apenas detalhes”, continua Denny. “É um carro que continua extremamente confortável. Já fui três vezes para Curitiba (PR) com ele e não tive nenhum problema”.
“Faço parte do Opala Clube do ABC desde 2012. Começou como um encontro modesto de cinco ou seis carros que foi crescendo cada vez mais. Hoje, nós temos praticamente 700 associados”.
Zé do Opala
José, mais conhecido como Zé do Opala, tem 41 anos e conta que sua paixão por Opala começou há mais de duas décadas. “Meu tio foi proprietário de um. No casamento da minha mãe, ela foi levada para a igreja de Opala SS. A partir disso veio a paixão”, diz Zé.
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“Atualmente, minha família tem dez Opala, sendo que seis deles são meus. Para este evento, decidi trazer meu SS 1977 que tem uma história muito engraçada. Ele ficou abandonado em um galpão por muitos anos e eu decidi comprá-lo para desmontar e vender algumas peças. No meio desse processo, descobri que se tratava de um Opala SS. Abortei o desmanche e decidi restaurá-lo. Foram dois anos na oficina até deixá-lo do jeito que está hoje. Está rodando há apenas quatro meses”.
Zé também é presidente e membro-fundador da Equipe do Opala, nascida em 1996. “Temos catorze integrantes no clube, entre amigos e familiares. Todos são de São Paulo, com a exceção de um membro que é de Minas Gerais.”
Azul imperial
O publicitário Rodrigo, de 40 anos, não exerce sua profissão. Trocou as ideias e computadores pela oficina de restauração do seu irmão, na Vila Guilherme. “Meu pai sempre teve Opala, mas comecei a gostar de verdade por conta da influência de amigos”, diz ele. “Comprei este carro em 2004, e desde então é meu único Opala”.
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“Ele está perfeito em sua estrutura. A pintura tinha alguns retoques e eu precisei uniformizar o visual com funilaria geral. Comprei este Chevrolet Opala 1973 em uma agência, mas sei que o dono anterior era um militar aposentado que o deixou parado em uma garagem por muito tempo. Ele foi se desgastando, e algumas pessoas chegaram a saquear o modelo por conta da ociosidade. Roubaram plaquinhas, arremates e até mesmo o volante”, diz Rodrigo. “Esta cor se chama azul imperial, e foi exclusiva do ano de 1973. Por conta disso, ele chama muita atenção em um evento como este”.