Foi muito comentado entre os especialistas o fato de a Renault ter elevado a suspensão de todos os Sandero e Logan equipados com câmbio CVT, a novidade da linha 2020. Não exatamente pela elevação em si, necessária devido ao tamanho e peso da transmissão continuamente variável em relação ao câmbio manual e ao automatizado de embreagem simples que a marca utilizava (Easy’R), mas sim pela discreta explicação. Não foram poucos os jornalistas que publicaram que todos os Sandero CVT agora têm uma altura elevada do solo.
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Só que não. O Sandero CVT e o Logan CVT foram elevados em 40 mm, mas ficaram apenas 5 mm mais altos do que o Sandero MT e o Logan MT em relação ao vão livre do solo. As versões do Sandero e do Logan com câmbio manual têm 140 mm de vão livre do solo; as versões com câmbio CVT têm 145 mm. E o Renault Stepway , apresentado como modelo e não como versão do Sandero, porque ganhou status de utilitário esportivo, na verdade só tem uma versão com 185 mm de vão livre do solo (a manual), pois as outras duas têm os mesmos 145 mm do Sandero e do Logan sem a “grife” SUV.
A Renault não é a única marca que só pensa naquilo, ou seja, nos SUVs . Outras marcas também classificam carros aventureiros como utilitários esportivos, aproveitando que a regra do Inmetro exige o cumprimento de apenas três de cinco itens para dar a um carro o status de SUV. Para o marketing das montadoras, é uma boa sacada, pois o público deseja possuir um SUV, mesmo que seja apenas aparente.
Na verdade, a linha tênue que separa os legítimos SUVs dos crossovers (mistura de qualquer carroceria com a de um utilitário esportivo) praticamente desapareceu. Ninguém mais chama os carros de crossovers – nome que cairia melhor em veículos como o Nissan Kicks, o Audi Q3, o Honda HR-V e tantos outros de quase todas as marcas.
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O problema é que agora, com a nova onda dos aventureiros (rebatizados de CUVs, ou seja, Crossovers Utility Vehicles), fica uma verdadeira confusão na cabeça do consumidor. Muitas vezes as pessoas acabam comprando gato por lebre, como se diz popularmente. E se os jornalistas automotivos não fazem essas críticas, os fabricantes vão na onda do marketing. Para a publicidade, o que interessa é vender, por isso o papel social dos especialistas é importante. Embora se trate de poucos milímetros, nem tudo que é oferecido pelos publicitários pode ser comprado como produto real.
Renault Kwid é mais elevado do que o Honda HR-V
Para o marketing , o Renault Kwid é o SUV dos compactos. Isso porque ele tem 180 mm de vão livre do solo e ângulos de ataque/saída que estão dentro dos parâmetros exigidos pelo Inmetro. Uma estratégia de marketing genial, mas que não pode ser considerada ao pé da letra, pois o Kwid não tem nenhuma aptidão off-road.
Estão erradas a Renault e as demais montadoras? Provavelmente não. Afinal, se está na regra e a regra diz que pode, então por que não fazer? Talvez seja uma visão muito cartesiana de nossa parte, pois contestamos o Renault Kwid como “SUV dos compactos”, com seus 180 mm de vão livre, mas aceitamos tranquilamente o Honda HR-V como SUV, apesar de seus 177 mm de distância do solo. Para se ter uma ideia, até o WR-V, também da Honda, tem mais: 207 mm para sermos exatos.
Outros carros, como Fiat Weekend (190 mm) e o Hyundai HB20X (206 mm), também têm altura mais elevada do solo. Mas, a bem da verdade, a Fiat e a Hyundai nunca posicionaram esses carros como utilitários esportivos, mas sim como aventureiros. Por isso, a Renault talvez pudesse ser um pouco mais comedida na questão do Renault Stepway (uma vez que não é toda a linha que obteve o “selo” de utilitário esportivo compacto).
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Até porque, dentro da própria família, ela tem o Duster (210 mm do solo) e o Captur (212 mm) como SUVs incontestáveis. Se a própria montadora capaz de produzir bons SUVs descaracterizar esse termo, no final das contas estará dando um tiro no próprio pé.