A indústria automotiva está se transformando, em uma tentativa de adaptar-se aos novos tempos. Na próxima década, a queda do interesse dos jovens em ter um carro será acentuada, muitas pessoas descobrirão que podem ser proprietárias de veículos PCD e modelos elétricos terão mais destaque. É o que Sérgio Habib, presidente da JAC Motors do Brasil, prevê para 2020 e os anos subsequentes.
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Durante a apresentação do novo SUV T60 , o executivo revelou detalhes que normalmente ficam ocultos em análises de mercado mais rasas. Afinal, será que a indústria realmente está retomando o volume de vendas, ou os números estão equivocados? Habib propõe que o assunto seja avaliado por tópicos.
Mudança de comportamento
Um estudo divulgado pelo Denatran aponta que o número de jovens habilitados entre 18 e 21 anos caiu 20,61% no período de 2014 a 2017. Muitos atribuem o fenômeno à crise econômica, uma vez que tirar a habilitação exige um grande esforço financeiro por parte do cidadão. Mas a comodidade de apps de carona como Uber, 99 e Cabify também influencia na decisão de abandonar o carro.
Pedindo uma corrida por aplicativo, o usuário estará blindado do desgaste de pneus, manutenção, seguro, combustível e a desvalorização. Esses custos, na teoria, seriam repassados para o motorista que dirige pelo app. Por conta disso, muitos também abandonaram a ideia de ter um carro próprio e passaram a apostar nos veículos de locadora
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Fenômeno do carro alugado
“No período entre 2011 e 2014, veículos de locadoras representavam, em média, 5,4% das vendas nacionais”, destaca Habib. “Em 2019, este número já atingiu 18% do mix. O comportamento do consumidor mudou, e os números seguem a mesma lógica”.
Da mesma forma, Habib mostra que 73,9% dos carros emplacados entre 2011 e 2014 eram vendidos por concessionárias. Hoje, o número corresponde a apenas 56,2%. Se entre 2011 e 2014 as concessionárias venderam, em média, 2.580.024 automóveis, em 2019 o número caiu para 1.517.400.
Ou seja, com a crescente na preferência por carros alugados, as concessionárias estão emplacando cada vez menos. Isso acaba refletindo em outro fenômeno que influencia diretamente na arrecadação de imposto por parte da montadora, algo que Sérgio Habib classifica como uma “brecha” jurídica.
Pão de queijo e alfajor
Habib diz que as leis mais “mansas” para carros de locadora causam disparidade no emplacamento de veículos por Estado e, consequentemente, um impacto na arrecadação do Governo. É por conta da alíquota de 1% no IPVA para veículos dessa categoria que carros emplacados em Belo Horizonte (MG) ganharam as ruas de todo o Brasil.
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Enquanto os emplacamentos de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Salvador, Curitiba e Goiânia caíram na comparação entre 2014 e 2019, Belo Horizonte teve alta de 144%. Apenas neste ano, é estimado que a capital mineira contará com o emplacamento de 470 mil automóveis - superando por muito os 240 mil veículos de São Paulo (SP).
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Para se ter uma ideia da dimensão, Habib diz que Belo Horizonte, sozinha, deverá superar as vendas de toda a Argentina em 2019. Não à toa, o dono da Localiza bancou 44% da campanha do atual governador de Minas Gerais, Romeu Zema, de acordo com o jornal mineiro "O Tempo."
PCD
O levantamento divulgado pelo presidente da JAC Motors do Brasil também coloca uma luz sobre os números de vendas para pessoas com deficiência. “Praticamente qualquer um pode ser considerado PCD”, disse Habib aos jornalistas. “Tenho certeza que 90% de vocês poderia comprar um veículo PCD. Eu posso, pois sou idoso e minha mãe, que tem Alzheimer, depende de mim. Mas se você quebrar o pulso jogando bola, ou fizer cateterismo, também poderá comprar um carro para deficientes por dois anos”.
Veículos PCD são mais baratos, pois estão isentos de IPI, ICMS e IPVA. Entre 2011 e 2014, as vendas da categoria correspondiam a 1,6% dos emplacamentos nacionais (54 mil carros por ano). Em 2019, o número já atingiu 13,2% da fatia do mercado (356 mil, anuais). “Pela isenção de imposto, 360 mil brasileiros vão comprar carros PCD”, destaca Habib.
O futuro dos elétricos
No quarto semestre de 2019, carros elétricos correspondem a 10% das vendas na China, 2,5% nos Estados Unidos, 5% em Portugal e 80% na Noruega. No país escandinavo, a isenção de impostos na categoria faz com que um VW Golf 1.4 TSI tenha o mesmo preço de um e-Golf 100% elétrico.
Mas mesmo em um mercado emergente e cheio de complexidades como o brasileiro, Habib acredita na queda inexorável dos carros movidos apenas a combustão. E isso causará um novo impacto na indústria como conhecemos.
“O carro elétrico não tem caixa de transmissão, virabrequim, correias, pistão e outras partes móveis. Isso acarreta na profunda disrupção da cadeia automotiva como conhecemos, influenciando nos fornecedores de autopeças, serviços de pós-venda e na distribuição de combustíveis”, diz Habib. “Isso acontecerá em meados de 2040, quando carros elétricos corresponderem a 50% das vendas em todo o mundo”.
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O executivo também acredita que o preço dos elétricos deverá baixar com o tempo. “Vai demorar, mas um dia os elétricos terão o mesmo preço de carros térmicos, como já acontece nos países nórdicos” destaca Habib. “Muitos países estão comprometidos em eliminar gás carbônico de sua geração de eletricidade. Na Europa, fala-se muito sobre energia eólica e solar. É questão de tempo”.