A triste notícia sobre o fim da produção dos modelos da Ford no Brasil , o que inclui o compacto Ka, reforça a tese de que o segmento tende se transformar no País. Não é de hoje que as fabricantes têm preferido apostar em algo mais lucrativo para compensar o chamado "custo Brasil", daí a invasão dos SUVs e picapes. Apesar dos compactos ainda serem importantes para minimizarem o custo fixo e dar volume de vendas para as fabricantes, já estão mudando de formato.
Com a crise econômica desencadeada pela pandemia do novo coronavírus, alguns fatores têm exercido uma enorme pressão para que as fabricantes deixem de apostar nos hatches e sedãs compactos tradicionais e passem a jogar suas fichas em outros segmentos. A alta do dólar é um deles, o que contribuiu com o aumento de preços, fator delicado para carros que precisam caber no bolso da grande maioria do consumidor brasileiro.
De maneira geral, o ticket médio subiu ultimamente e beira o limite do suportável. Para se ter uma ideia, o hatch compacto mais vendido hoje em dia, o Chevrolet Onix , não sai por menos de R$ 58.290 na versão mais simples, a Joy. Nessa faixa de preço, o comprador não aceita mais ficar sem itens como ar-condicionado e direção assistida, algo que não acontecia há pouco tempo.
Além disso, a participação dos hatches compactos nas vendas têm caído. Conforme dados da Fenabrave (Federação dos Distribuidores de Veículos), em 2019 tinham 33% do mercado e, em 2020, passaram para 29,4%. Seguindo caminho inverso, os SUVs ganharam espaço, indo de 26,6% para 32,7% no mesmo período.
Hatches com jeito de SUVs
Por isso, o formato de hatch compacto tradicional está mudando, conforme o consultor automotivo Paulo Garbossa, da ADK Automotive. "Agora as fabricantes começarão a lançar os compactos com jeito de SUV, como já acontece com o Renault Kwid", diz ele." E virão outros modelos do gênero, com o SUV do Fiat Argo ", completa ele, que ainda explica que a questão é a onda da moda, antes das minivans e que passou recentemente para os SUVs.
A Ford bem que tentou se virar com o Ka FreeStyle, mas o carro acabou sendo apenas uma versão do hatch compacto tradicional, apesar das mudanças na suspensão, mas isso não é mais suficiente. A tendência é um carro nascido com o jeito de SUV, como deverá acontecer com o novo Citroën C3 que será fabricado em Porto Real (RJ), com a plataforma CMF. O carro já chegou a ser flagrado em testes no Brasil.
Será uma aposta importante da PSA no Brasil para tentar aumentar sua participação nas vendas e sobreviver no País, onde outro compacto tradicional do conglometarado francês ainda está patinando nas vendas, o Peugeot 208. O carro é fabricado na Argentina e teve 1009 unidade emplacadas em dezembro útimo, ante 3.801 de um dos principais rivais, o VW Polo, ou seja, quase quatro vezes menos.
Outros hatches compactos rivais do Ford Ka estão para sair de linha no Brasil, mas por razões específicas. Um deles é o Toyota Etios, que embora a fabricante não confirme, está para sair do mercado no País. Com isso, a marca ficará com o Yaris renovado entre os compactos. Futuramente, a marca japonesa também deverá apostar o SUV do Yaris no Brasil, feito com a nova base que também será usada no Corolla Cross.