Mortes em acidentes de trânsito custam R$ 20 bilhões por ano ao Brasil

Custo anual de vidas perdidas entre 2012 e 2020 chega a R$ 180 bilhões, uma média de R$ 536 mil reais por óbito; tendência de mortes está em queda

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Motociclistas estão entre as principais vítimas de acidentes de trânsito. Uso do capacete é fundamental para evitar lesões e óbitos.

A imprudência de motoristas, motociclistas e pedestres no trânsito é algo muito grave. Por isso, a Organização das Nações Unidas (ONU) criou o maio amarelo , utilizando o mês para alertar dos perigos no trânsito.

Uma pesquisa do aplicativo Gringo realizada em parceria com o Centro de Liderança Pública apontou que os acidentes causam um desfalque de cerca de R$ 20 bilhões por ano aos cofres públicos

O cálculo levou em consideração o modelo desenvolvido por órgãos internacionais e utilizado pelo IPEA , que leva em conta a sobrevida esperada dos acidentados e a trajetória de renda privada esperada dos mesmos . Para os cálculos de rendimentos, foram utilizados os dados do DataSUS e da PNAD Contínua de 2020.

Em termos práticos, os 335.424 óbitos causados pelo trânsito entre 2012 e 2020 poderiam gerar R$ 180 bilhões de reais aos cofres públicos , cerca de 0,2% do PIB brasileiro em 2022, segundo a pesquisa.

“Diante do alto custo para o governo, os danos causados pelas perdas de vida no trânsito afetam toda a sociedade. Durante a campanha Maio Amarelo, temos a oportunidade de abrir o diálogo entre gestores públicos, empresas privadas e a sociedade para construir, em conjunto, soluções para uma mobilidade mais segura dos cidadãos”, explica Joelson Vellozo, Diretor de Public Affairs do Gringo. 

Segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde , acidentes de trânsito ou lesões relacionadas a esses acidentes foram a sétima principal causa de morte em países de baixa renda e a décima em países de classe média-baixa.

Ainda de acordo com a OMS , 1 milhão e 300 mil pessoas são mortas no trânsito ao redor do mundo , e cerca de 50 milhões sofrem lesões decorrente desses acidentes a cada ano. Essa é a principal causa de morte de pessoas de cinco a 29 anos, sendo que uma em quatro mortes no trânsito é de pedestres ou ciclistas .

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Em 2021, o total de sinistros graves envolvendo com ciclistas no Brasil aumentou 11% em relação a 2020.

O Brasil está reduzindo a quantidade de mortos no trânsito. Em 2012, foram 24,83 mortes por grupo de 100 mil habitantes e em 2019, a taxa de mortalidade caiu para 16,05/100 mil habitantes.

"Um conjunto de políticas públicas, como campanhas educativas, tolerância zero ao álcool na direção, além da redução na circulação de veículos devido à crise econômica entre 2014 e 2016, contribuem para a tendência de queda. A partir de 2020, é provável que a taxa seja ainda mais reduzida, devido às restrições de mobilidade durante a pandemia”, explica Joelson.  

O estudo do CLP aponta que os homens têm quatro vezes mais chances de perderem a vida no trânsito do que as mulheres . De 2012 a 2020 foram 277.487 óbitos masculinos contra 57.937 femininos , enquanto a idade média dos óbitos é de 39 anos para os homens e 41 anos para as mulheres.

A pesquisa ainda mostrou os municípios brasileiros que mais apresentam mortalidade no trânsito. A líder no quesito é Sobral (CE) com 114,37 mortes por 100 mil habitantes, seguida de Redenção (PA) , com 94,67; Cacoal (RO) , com 91,91; Arapiraca (AL), com 73,38; Santo Antônio de Jesus (BA), com 62,51.

A menor mortalidade no trânsito é de Santa Luzia (MG) , com nenhuma morte por 100 mil habitantes, seguida de Poá (SP) com 0,84; São João de Meriti com 0,85, Novo Gama (GO) com 0,85 e Ibirité (MG) com 1,10.

Entre os estados, o Mato Grosso (MT) é o que apresenta maior índice de mortalidade no trânsito 31,51/100 mil habitantes, seguido de Tocantins (TO) 30,81/100 mil e Piauí (PI) 29,02/100 mil. 

Entretanto, quando o assunto é morbidade, ou seja, internações provocadas por acidentes de trânsito, o Estado mais perigoso é Goiás (GO) com 255,22 internações por 100 mil habitantes em 2023, enquanto o Rio Grande do Sul (RS) é o que apresenta menos casos, com 36,06/100 mil.

Mas como é possível reduzir a mortalidade no trânsito brasileiro?

Segundo a OMS, a velocidade está diretamente relacionada à probabilidade de acidente e às suas consequências. No choque entre carros, o risco de morte para os ocupantes é de 85% em colisão a 65 km/h .

Além disso, dirigir ou até mesmo conduzir uma bicicleta sob influência de álcool  ou substâncias psicoativas aumenta o risco de acidente. A OMS afirma que o risco de uma pessoa que utilizou anfetaminas é cinco vezes maior do que alguém que não o fez.

Ainda segundo a organização, o uso correto de capacetes reduz em 42% o risco de mortes e 69% o risco de lesões graves em acidentes de trânsito . O cinto de segurança também salva vidas, reduzindo o risco de morte em até 50% para os ocupantes dianteiros e em 25% para quem viaja no banco de trás.

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Cadeirinhas infantis protegem as crianças em caso de acidente, mas devem estar bem instaladas

Segundo dados do Infosiga-SP (Sistema de Informações Gerenciais de Acidentes de Trânsito do Estado de São Paulo), em 2022 foram registrados 5.651 óbitos no trânsito no estado , sendo que 38,94% das mortes aconteceram em acidentes envolvendo motocicletas .  

O uso de celulares também causa preocupação para os agentes de segurança no trânsito. Usar o aparelho enquanto conduz aumenta em até quatro vezes as chances de envolvimento em acidentes . Além de tirar os olhos da via, reduzindo o tempo de reação para frear ou realizar uma manobra evasiva, o condutor pode acabar mudando o carro de faixa e causar um acidente. 

Atualmente, diversos modelos têm centrais multimídia que podem reproduzir mensagens e ligações, mas, mesmo assim, ainda representam risco de acidente. Alguns veículos contam até com o ar-condicionado controlado pela central multimídia, e nesses casos, o ideal é deixar que o carona controle, ou estacionar em local seguro.

O comportamento impróprio dos usuários da via atrapalha muito a segurança , mas a falta de conservação das mesmas , e até mesmo falhas no projeto, também causam acidentes. Diversas rodovias federais e estaduais não possuem iluminação suficiente ou passarelas para os moradores atravessarem , sem falar no asfalto esburacado, que pode resultar em furo de pneu, ou até mesmo quebra de algum outro componente mecânico do veículo, causando um acidente.