A produção de carros no Reino Unido em 2024 caiu para 780.000 unidades. Este é o menor volume registrado desde 1954, descontando o período da pandemia. A indústria lida com baixa demanda e se prepara para a mudança dos combustíveis fósseis para os veículos elétricos.
O declínio na produção foi parcialmente causado por pausas em fábricas durante a transição para a produção elétrica. A demanda global fraca e o crescimento abaixo do esperado nas vendas de carros elétricos também impactaram negativamente os números.
Em 1954, a indústria automobilística britânica era dominada pela British Motor Corporation. A empresa nasceu da fusão das marcas Morris e Austin. Naquela época, o Reino Unido ainda vivia sob racionamento pós-Segunda Guerra Mundial, que só terminou em julho daquele ano.
Hoje, os consumidores têm acesso a veículos tecnologicamente avançados de todo o mundo. Entretanto, o Reino Unido enfrenta dificuldades para manter sua posição como um grande fabricante automotivo em meio à forte concorrência internacional.
Decisões industriais e produção de vans
A mudança de produção de carros para vans pela Stellantis em Ellesmere Port, em 2021, influenciou os números. Considerando a produção de vans, o Reino Unido fabricou 905.000 veículos em 2024, uma queda de 12% em relação a 2023.
A desaceleração da produção também ocorreu devido a pausas em diversas montadoras durante a adaptação de suas linhas para fabricar veículos elétricos. A Jaguar Land Rover, por exemplo, interrompeu toda a produção da marca Jaguar para relançar-se como uma marca totalmente elétrica.
Impacto nas principais montadoras
A Nissan manteve-se como a maior fabricante de automóveis no Reino Unido. No entanto, a produção em sua fábrica de Sunderland caiu 13%. Jaguar Land Rover foi a segunda maior produtora, com receita recorde de £7,5 bilhões no último trimestre de 2024.
Apesar das receitas recordes, a Jaguar Land Rover alertou sobre um "cenário econômico desafiador". A empresa, de propriedade da Tata Motors da Índia, também relatou os maiores lucros na última década, mas ainda enfrenta desafios no mercado automotivo.
Preocupações tarifárias e regulamentações
Os fabricantes britânicos temem mais interrupções se Donald Trump impuser tarifas sobre importações para o segundo maior mercado do Reino Unido. A indústria espera evitar essas tarifas, mas muitos de seus veículos exportados são de luxo, cujos compradores podem absorver os custos adicionais.
A indústria automotiva do Reino Unido também busca que o governo relaxe as regras do mandato de veículos de emissão zero. Essa política força os fabricantes a vender um número crescente de carros elétricos a cada ano, pressionando ainda mais o setor.
Perspectivas futuras e apoio governamental
Mike Hawes, diretor-executivo da Society of Motor Manufacturers and Traders (SMMT), em entrevista ao jornal The Guardian, destacou a possibilidade de garantias de empréstimos governamentais para estimular a demanda por carros elétricos. Ele mencionou que as subsídios precisam ser substanciais para ter impacto significativo no mercado e ajudar a cumprir o mandato de veículos de emissão zero.
Previsões da consultoria AutoAnalysis indicam que pode levar até 2028 para a produção de carros e vans no Reino Unido superar um milhão de unidades novamente. Em 2017, a meta de produção era de 2 milhões, mas incertezas políticas e a pandemia influenciaram no fechamento de várias fábricas.
A Stellantis anunciou em novembro de 2023 o fechamento de sua fábrica de vans em Luton, chocando a indústria. As dificuldades políticas e econômicas enfrentadas pelo Reino Unido desde o voto do Brexit têm impactado a capacidade do país de manter altos níveis de produção automotiva.