
Lançada em 1950 na Alemanha, a Volkswagen Kombi surgiu como solução para transporte leve e acessível no pós-guerra europeu. A carroceria simples, a mecânica compartilhada com o Fusca e a capacidade de se adaptar a diferentes funções tornaram o modelo um ícone global.
Com o tempo, ultrapassou fronteiras e se consolidou como um dos utilitários mais longevos da história automotiva. O modelo, inclusive, virou um símbolo pop.
Nesta reportagem, o Portal iG, nesta reportagem, lança mais um capítulo da série "Geração sobre rodas", em que conta a história dos modelos mais icônicos do Brasil e do mundo, da primeira à última geração.
Kombi no Brasil
Considerada perfeita para o contexto brasileiro, a Kombi começou a produção nacional em 1957, inaugurando a fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo (SP), a primeira fora da Alemanha.
Desde então, passou por constantes mudanças, como a introdução da versão de seis portas em 1961, que trouxe mais praticidade no embarque e desembarque.
Nesse mesmo período, foram feitas melhorias importantes, como a adoção do marcador de combustível no painel, o fim das “bananinhas” de sinalização e a transmissão com todas as marchas sincronizadas.

Embutidos nas colunas laterais, as bananinhas eram braços mecânicos que se projetavam para fora da lataria sempre que o motorista acionava a seta, indicando a mudança de direção.
Na década de 1960, a Kombi recebeu aprimoramentos estéticos e técnicos: lanternas traseiras maiores (1962), mais janelas nas laterais e tampa traseira (1963), além do motor 1.500 de 44 cv e barra estabilizadora (1967), que melhoraram seu desempenho.
Em 1968, adotou sistema elétrico de 12 volts, para-choques sem vincos e diferencial travante como opcional, recurso útil em estradas de terra. Esses avanços ajudaram a consolidar o modelo como peça-chave na mobilidade urbana e rural do país.
O fim da Kombi, em 2013, marcou não apenas o encerramento de um ciclo industrial, mas o desaparecimento de um símbolo popular.
Veja a seguir todas as gerações da Kombi que chegaram ao Brasil, as principais mudanças, variantes e o impacto na cultura automotiva.
1ª Geração (1950–1967) | A origem do transporte versátil
Denominada internamente como T1, a primeira geração da Kombi foi baseada em um esboço feito por Ben Pon, um importador holandês da Volkswagen.
O modelo original tinha para-brisa dividido em duas partes, carroceria com costuras aparentes e motor traseiro 1.2 litros refrigerado a ar com apenas 25 cv.
A tração traseira e o câmbio de quatro marchas compunham uma mecânica simples, mas resistente.
Havia versões passageiros, carga (Panel Van), "Samba Bus" com janelas panorâmicas e teto solar de lona, e também variantes para ambulância e pick-up com cabine simples.
O chassi era monobloco, o que conferia leveza, mas também fragilidade estrutural.
No Brasil, o modelo passou a ser montado a partir de CKD (kits desmontados) em 1953 e teve produção integralizada em 1957.
Em 1961, o motor foi ampliado para 1.2 de 30 cv. Em 1964, a Kombi brasileira recebeu motor 1.5 com 42 cv, melhorando o desempenho urbano.
Prós:
- Projeto inovador para época
- Variedade de versões e configurações
- Simplicidade mecânica e manutenção acessível
Contras:
- Baixa potência e aceleração limitada
- Pouca estabilidade em curvas
- Fragilidade em colisões
2ª Geração (1967–2013) | Permanência e adaptação
A geração T2, lançada na Alemanha em 1967, chegou ao Brasil em 1976 com diversas melhorias estruturais.
O visual abandonou o para-brisa dividido, adotando superfícies curvas e melhor aerodinâmica. O chassi monobloco foi reforçado, e a suspensão dianteira passou a ser do tipo McPherson com barras de torção.
A Kombi brasileira recebeu motor 1.6 refrigerado a ar de 46 cv, passando para 50 cv em 1983. A partir de 1981, houve introdução do motor a álcool.
Em 1997, veio a versão com motor 1.6 refrigerado a água de 58 cv, com radiador visível na dianteira. Em 2005, o modelo ganhou motor 1.4 flex de 80 cv, herdado do Fox.
As configurações incluíam Standard, Escolar, Lotação, Furgão, Pick-up e, nos anos 2000, a Kombi Clipper.
Ao longo dos anos, pequenas mudanças estéticas foram feitas, como novos faróis, lanternas retangulares e painel mais moderno.
O fim da produção foi motivado pela obrigatoriedade de freios ABS e airbags a partir de 2014, inviáveis no projeto original.
Prós:
- Versatilidade incomparável
- Resistência em uso comercial
- Histórico de longa produção e peças disponíveis
Contras:
- Pouca evolução em ergonomia e segurança
- Direção não assistida
- Cômodo apenas em trajetos curtos
3ª Geração? (2022 em diante) | Renascimento elétrico com a ID. Buzz
Revelada oficialmente em 2022, a ID. Buzz representa o retorno da Kombi como veículo elétrico.
Produzida na Alemanha sobre a plataforma MEB, a van utiliza motor elétrico traseiro de 204 cv, baterias de 77 kWh e autonomia estimada em 415 km (WLTP).
Com design retrô e funções autônomas de nível 2+, o modelo conta com assistente de permanência em faixa, frenagem autônoma, assistente de manobras, conectividade com software OTA (over the air) e painel digital com multimídia de 12 polegadas.
Internamente, o assoalho plano e os bancos corrediços ampliam a praticidade.
A ID. Buzz chegou ao Brasil em 2023 em formato de assinatura, em versão de passageiros, com opção de carroceria longa e mais espaço para bagagem.
Prós:
- Motorizacão limpa e silenciosa
- Design que remete à tradição
- Equipamentos avançados de conforto e assistência
Contras:
- Alto custo de aquisição
- Infraestrutura de recarga incipiente
- Disponibilidade restrita
Propaganda da chegada do ID. Buzz ao Brasil
A nova "Kombi" foi apresentada em um evento que marcou os 70 anos da empresa, em 2023, quando apresentou um vídeo emocionante do encontro de diferentes gerações.
Uma IA reproduziu a cantora Elis Regina ao volante de uma Kombi, enquanto a filha dela, a cantora Maria Rita, controlava a ID. Buzz. Com o auxílio da tecnologia, elas fizeram um dueto com a música Como nossos pais, canção de Belchior.
Com o recurso do encontro entre mãe e filha, que compartilham a música como um traço em comum, esse foi um recado da Volkswagen que os modelos tratam-se de uma mesma família, que agora ganha um novo "rosto".
Legado atemporal
A Kombi atravessou transformações tecnológicas, políticas e culturais. Serviu como ambulância, transporte escolar, food truck, motorhome e palco de movimentos sociais e artísticos.
Em eventos como o Festival de Woodstock , se tornou emblema do movimento hippie. No Brasil, marcou presença em feiras livres, escolas e oficinas móveis.
É referência de identidade visual e afetiva. O design funcional, aliado à confiabilidade da engenharia alemã e à adaptação ao cotidiano latino-americano, garantiu um espaço no imaginário coletivo.
O retorno em formato elétrico sinaliza não apenas nostalgia, mas também reinvenção.
Em um cenário de pressão ambiental e reconfiguração urbana, a nova Kombi volta como resposta ao futuro, e sustenta o espírito de mobilidade simples e compartilhada que a originou.