
Uma loja de revenda de veículos de luxo pode ter movimentado mais de R$ 16 milhões em fraudes e falsificação de documentos, como aponta a investigação da polícia de Jacksonville, na Flórida.
A unidade, inaugurada há pouco mais de um ano, encerrou suas atividades nas últimas semanas, ao mesmo tempo em que surgiram denúncias envolvendo a venda duplicada de automóveis de alto padrão, não registro de títulos e retenção indevida de valores.
O caso atrai atenção das autoridades em dois estados norte-americanos. Além da polícia de Jacksonville, o Departamento de Polícia de Colonie, próximo a Buffalo, no estado de Nova York, também apura irregularidades semelhantes em outra unidade associada à mesma operação comercial.
Ambas as lojas estão atualmente fechadas e seus sites informam: “Lamentamos informar que encerramos nossas operações”.
Segundo relatório do Gabinete do Xerife de Jacksonville, três denúncias formalizadas apontam para práticas fraudulentas na venda de veículos, além da apreensão de cinco automóveis de luxo no pátio da loja no início de junho.
Superesportivos como McLaren 720S, Porsche 911 e Corvette ZR1 estavam entre os modelos comercializados. Os estacionamentos hoje estão vazios.
Vladimir “Val” Ranguelov, diretor da operação, não foi localizado pelo portal Jax Today, responsável pelas informações.
Também não houve resposta a e-mails enviados à sede da empresa na Califórnia nem ao presidente da marca, Marques McCammon, que participou da inauguração da unidade na Flórida em março de 2024.
Golpes somam valores milionários
As perdas reportadas pelos clientes ultrapassam os R$ 16 milhões. Em Nova York, o empresário Michael Abatecola afirma ter comprado um Lamborghini por US$ 250.000 (cerca de R$ 1,375 milhão), mas descobriu que o mesmo carro havia sido vendido para outro cliente.
“Meu copo está cheio, mas outra pessoa teve que se tornar vítima, infelizmente” , disse em vídeo. “A vítima nº 2 agora está em dívida por US$ 250.000.” , relatou o portal.
Outro caso relatado envolve um homem de 62 anos, da região de Mandarin, na Flórida. Ele pagou US$ 260.000 (R$ 1,43 milhão) por um McLaren 720S e utilizou o carro por três meses, sem saber que o veículo nunca havia sido transferido legalmente para seu nome.
Posteriormente, acreditando ter vendido o McLaren, aceitou adquirir um Rolls-Royce por mais US$ 300.000 (R$ 1,65 milhão). O total da perda foi estimado em US$ 560.000 (R$ 3,08 milhões).
Em outra ocorrência, um homem de 63 anos entregou um Porsche 911 de 1994 para que fosse revendido. Segundo ele, o carro teria sido negociado por US$ 155.000 (R$ 852.500), mas não há registros de transferência.
Já no Texas, um comprador afirmou ter transferido US$ 235.000 (R$ 1,29 milhão) para a aquisição de um Corvette. Viajou a Jacksonville para buscar o veículo e descobriu que ele havia sido apreendido.
Abatecola, que também participou de outra transação com Ranguelov, relatou ter vendido um Rolls-Royce em agosto. O empresário ficou responsável por quitar o saldo de financiamento, o que não ocorreu.
“Você não acha que vai ser enganado”, afirmou em vídeo. “Agora é novembro, dezembro; o banco ainda está cobrando. Continuamos pagando por um carro que já foi entregue.”
Empresa foi relançada após falência da antecessora
A operação em Jacksonville fazia parte da nova estrutura da Karma Automotive, montada a partir dos ativos da extinta Fisker Automotive.
Fundada em 2007 por Henrik Fisker, a empresa original produziu o sedã esportivo híbrido Karma, mas entrou em colapso em 2014 após a falência do fornecedor de baterias.
Os ativos foram adquiridos pelo grupo chinês Wanxiang, que rebatizou a marca e reestruturou sua linha de produção.
A loja investigada foi aberta oficialmente em março de 2024 com um investimento de mais de US$ 5 milhões (R$ 27,5 milhões) em reformas e aquisição do imóvel na Beach Boulevard.
O plano comercial incluía a venda de modelos elétricos de luxo e a presença em outras cidades da Flórida, como Orlando, Naples e Miami.
Apesar da suspensão das atividades, a licença comercial da unidade na Flórida segue ativa, com Vladimir Ranguelov ainda listado como agente registrado. As investigações continuam em andamento.