Posto de combustível
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Posto de combustível

A nova mistura obrigatória de 30% de etanol na gasolina, que entra em vigor no dia 1º de agosto, pode representar desafios para veículos fabricados antes de 2003 ou que não foram projetados para operar com combustíveis de alta concentração alcoólica.

Embora os testes técnicos tenham atestado a viabilidade da medida, especialistas alertam para riscos em veículos fora do padrão flex, como corrosão de componentes, maior consumo de combustível e necessidade de manutenção mais rigorosa.

Impactos para veículos fora do padrão flex

Modelos não flex ou produzidos antes da popularização dessa tecnologia podem sofrer desgaste prematuro com a nova composição da gasolina.

Em entrevista ao  Portal iG Carros, Juliano M. Lourenco, consultor em postos de combustíveis da Fuel Consultoria e Assessoria Ltda, explicou que os efeitos variam conforme o estado de conservação do veículo, mas há pontos críticos que merecem atenção.

“Peças metálicas podem sofrer corrosão, e componentes como mangueiras, juntas e vedações tendem a ressecar ou vazar, especialmente em veículos que não foram projetados para operar com E30”, a lerta Lourenco.

Segundo ele, motores antigos sem sistemas modernos de partida a frio podem ter dificuldade em regiões frias.

"A menor eficiência energética do etanol pode levar a um consumo maior de combustível", explica Lourenco.

Na prática, isso representa um aumento estimado entre 1% e 2% no gasto, especialmente sentido por motoristas que percorrem grandes distâncias diariamente.

Veículos com manutenção negligenciada são os mais suscetíveis a falhas, como entupimento de filtros e bicos injetores. Nesses casos, cuidados extras serão fundamentais.

“Consumidores precisarão estar mais atentos à manutenção preventiva, especialmente em veículos mais antigos, para evitar problemas como entupimentos e vazamentos. Troca regular de filtros de combustível e limpeza do sistema de injeção serão ainda mais importantes”, afirma Lourenco.

Como funciona e o que muda na prática

A decisão de elevar o teor alcoólico da gasolina de 27% para 30% foi aprovada pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) na última quarta-feira (25) e passa a valer em todo o país no dia 1º de agosto.

Aumento da proporção do diesel foi anunciado pelo Governo Federal
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Aumento da proporção do diesel foi anunciado pelo Governo Federal

A medida, segundo o governo, busca reduzir a dependência externa, estimular investimentos no setor de biocombustíveis e gerar empregos.

O Ministério de Minas e Energia estima que só o aumento da mistura de etanol deve atrair mais de R$ 10 bilhões em investimentos e gerar cerca de 50 mil novos empregos.

Estudos do Instituto Mauá de Tecnologia, com participação de montadoras e importadores, concluídos em março, embasaram tecnicamente a mudança.

“Vivemos no único ecossistema avançando na descarbonização da matriz auto intensiva de mobilidade e transporte”, afirmou o ministro Alexandre Silveira.

Além da gasolina, a proporção de biodiesel no diesel também aumentará, passando de 14% para 15%.

A medida contribui para os objetivos de sustentabilidade do governo federal e reduz as emissões no setor de transporte pesado, segundo o ministro.

Brasil lidera o uso de etanol no mundo

Comparado a outras regiões, o Brasil lidera com folga o uso de etanol na composição da gasolina.

Segundo Lourenco, o país possui uma das frotas mais adaptadas do mundo, com veículos flex e produção de etanol a partir da cana-de-açúcar, considerada ambientalmente mais sustentável que o milho utilizado nos EUA.

País/RegiãoTeor de EtanolFrota CompatívelFonte de Produção
Brasil27% para 30%AltaCana-de-açúcar
EUA10%ModeradaMilho
UE5% a 10%BaixaCereais/beterraba
Índia10%BaixaCana/melaço
ChinaAté 10%BaixaMilho e grãos

Ainda assim, o consultor reforça que a transição exigirá cuidado, especialmente por parte dos motoristas com veículos antigos ou sem histórico de manutenção.

“Será necessário conscientizar os motoristas sobre os cuidados adicionais com veículos mais antigos e a importância de abastecer em postos confiáveis para evitar problemas relacionados à qualidade do combustível”, completa Lourenco.


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