
Montadoras chinesas enviaram pelo menos 14 navios carregados de automóveis à Europa, no último mês, segundo o The New York Times, passando pelo Mar Vermelho e Canal de Suez, apesar de ataques de rebeldes houthi no Iêmen.
A escolha reduz tempo e custos logísticos, mas expõe tripulações e cargas a risco de violência armada.
Segundo a Lloyd’s List Intelligence, a rota encurta em até 18 dias o trajeto em relação ao contorno pela África e economiza centenas de dólares por veículo.
Analistas afirmam que europeias e japonesas evitam o corredor por segurança e seguros mais caros, enquanto especialistas suspeitam de acordo tácito entre Pequim e Teerã para proteger embarcações chinesas.
O retorno dos “piratas”
Os houthis, apoiados pelo Irã, afundaram ou sequestraram diversos navios desde 2023, alegando agir em solidariedade à população palestina na guerra em Gaza.
Entre os alvos, o cargueiro Galaxy Leader, retido por 14 meses no Iêmen, simbolizou a ousadia das ações, comparadas por analistas a ataques de corsários em rotas comerciais vitais.
Apesar da escalada, navios de montadoras como BYD e SAIC Motor – alguns recém-construídos e capazes de transportar até 5.000 veículos – continuam a atravessar o estreito de Bab el-Mandeb.
Cada viagem carrega até US$ 100 milhões (R$ 544 milhões na cotação atual) em automóveis, transformando-os em prêmios flutuantes para os novos “piratas” do século 21.
Competição e custo-benefício
A economia de tempo reduz gastos com combustível, tripulação e aluguel de embarcações.
Esse ganho logístico ajuda as chinesas a compensar tarifas adicionais impostas pela União Europeia a veículos elétricos importados da China em 2024, além de competir com japonesas, coreanas e europeias que usam rotas mais longas.
Ainda assim, especialistas como Rob Willmington, da Lloyd’s List, alertam para custos indiretos:
“Viajar pela África aumenta o gasto de combustível, mas atravessar o Mar Vermelho, hoje, é como dirigir por uma estrada com bandidos armados esperando a próxima vítima”.
Suspeita de acordo político
Segundo o NYT, parte da comunidade marítima acredita que a China tenha negociado com Teerã ou diretamente com os houthis para evitar ataques.
A relação estratégica inclui a compra quase integral do petróleo bruto exportado pelo Irã, equivalente a 6% da economia iraniana e metade do orçamento do governo. Pequim não comenta negociações, mas afirma “atuar para restaurar a paz” no Mar Vermelho.