Mini Next100
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O design automotivo define desde a aparência até a experiência de uso de um carro. Mais do que estilo, envolve proporções, ergonomia, interação tecnológica e identidade visual.

A atividade exige anos de pesquisas, testes e ajustes, em um processo multidisciplinar que equilibra criatividade, requisitos técnicos e expectativas do consumidor.

Segundo Rodrigo Leite, Head de UX & Design da GWM, cada projeto nasce de estudos de mercado e clínicas com usuários antes da validação final.

O ciclo, que pode durar até quatro anos, é marcado pelo contraste entre a liberdade criativa e as exigências de segurança, ergonomia e viabilidade técnica.

Nesta reportagem, o  Portal iG Carros apresenta o primeiro capítulo da série “Nos Bastidores do Automóvel”, que revela as etapas pouco conhecidas da criação de um carro, do conceito de design à escolha do nome e do catálogo de cores.

O papel do designer automotivo

No setor automotivo, o designer não atua apenas na estética. Seu trabalho impacta a ergonomia, a usabilidade e até a percepção emocional do veículo.

As funções se dividem em áreas como UX Designer, responsável pela experiência do usuário; Sketch Designer, que cria os primeiros esboços; e CMF Designer, focado em cores, materiais e acabamentos.

“A rotina de um designer automotivo vai depender da sua área de atuação. [...] é sempre importante realizar reuniões de alinhamento",   explicou Rodrigo Leite

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Ele ainda diz que é recorrente a revisão das tarefas, a partir da realização de pesquisas de tendências e comportamentos. Por isso a demora, porque é necessário ter um tempo de qualidade para criação, reuniões multidisciplinares com a Engenharia, Estratégia, Marketing e outros times relevantes no processo, além de prototipação (seja digital ou física) e avaliações de conceitos.

Para ele, o designer precisa estar em contato com diferentes equipes internas e também com o mundo externo, garantindo que as soluções reflitam tendências culturais e tecnológicas.

Essa multiplicidade torna a profissão desafiadora. Além da criatividade, exige habilidades em ergonomia, ferramentas digitais, visão estética, capacidade de síntese e curiosidade constante sobre hábitos de consumo e culturas diversas.

Etapas e desafios da criação

O processo de design se inicia com pesquisas de mercado e definição do público-alvo.

A partir daí, são produzidos desenhos iniciais que transformam conceitos de experiência em forma visual.

Fiat Centovenci
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Fiat Centovenci

Estudos de proporção e ergonomia refinam os traços antes de chegar à modelagem 3D e à prototipagem física.

Esses protótipos passam por clínicas com consumidores para validar hipóteses.

“Seguimos para a modelagem 3D e protótipos físicos, assim como acompanhando o trabalho de engenharia de produto e manufatura. Por último, os testes finais, validação e produção”, disse Leite.

Esse caminho pode durar de dois a quatro anos, especialmente em projetos globais, nos quais os modelos precisam atender legislações e expectativas culturais de diferentes países.

Conciliar inovação estética e exigências técnicas é um dos maiores desafios do designer. Componentes de uso direto, como o velocímetro, devem priorizar funcionalidade antes de receber acabamento estético.

“Tudo que proporciona um feedback ao usuário precisa ter prioridade funcional, o ‘básico bem-feito’”, afirmou Leite.

Essa relação gera debates frequentes com engenheiros. Designers partem de percepções subjetivas, enquanto engenheiros se apoiam em cálculos e fórmulas.

Muitas vezes é preciso ajustar linhas, proporções e vincos da carroceria até chegar a um consenso. Para Leite, esses embates são fundamentais para enriquecer o produto final.

As diferenças entre tipos de veículos também influenciam o processo. Modelos de trabalho priorizam robustez e funcionalidade; esportivos exigem performance e proporções marcantes; já carros de luxo valorizam exclusividade, status e conforto sensorial.

Em todos os casos, o ponto de partida é o mesmo: projetar soluções centradas no ser humano.

Inspiração e tendências

Hyundai Santa Cruz
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Hyundai Santa Cruz

As referências criativas do design automotivo vão muito além da indústria. Elementos da natureza, como cores e texturas, assim como manifestações artísticas e culturais, são fontes constantes de inspiração.

“O uso dos nossos sentidos é uma ótima forma de entender formas. A pesquisa de aspectos culturais, história, arte e comportamentos são de grande valia para a fase de criação”, afirmou Leite.

A influência do consumidor é igualmente decisiva. O estilo de vida e as demandas sociais orientam decisões sobre conforto, usabilidade e estética.

“Através do trabalho do Designer de Experiência do Usuário é possível entender questões comportamentais e responder à pergunta: quais são as experiências mais importantes que o veículo deverá entregar?”, explicou.

As tendências de sustentabilidade e eletrificação também remodelam o setor. O uso de compósitos naturais reduz impacto ambiental e agrega sofisticação tátil.

As novas tecnologias de propulsão permitem reorganizar o espaço interno, como a criação de porta-malas dianteiro, enquanto inovações em iluminação LED e integração de lanternas em vidros ampliam a liberdade criativa.

Para Leite, acompanhar processos produtivos emergentes é essencial para maximizar experiências positivas ao usuário e garantir que os modelos sigam relevantes em um mercado em transformação.

O futuro do design de carros

Mercedes Vision AVTR
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Mercedes Vision AVTR

O automóvel sempre refletiu a síntese tecnológica de sua época, e essa lógica deve se intensificar nas próximas décadas.

Para Leite, o design terá de integrar soluções de mobilidade inteligente, novos sistemas de propulsão, assistência de direção e conveniência digital.

“O foco será entregar um pacote de soluções para resolver tensões diárias, seja no aspecto estético e emocional, como a ‘roupa mais cara que vestimos’, ou funcional, como novas formas de interação no interior do veículo”, afirmou.

Ele lembra que projetos globais já evidenciam o desafio de conciliar culturas distintas, como a necessidade de espaço maior para turbantes na Índia ou porta-copos adaptados a garrafas de chá na China.

Antecipar essas necessidades culturais e tecnológicas será decisivo para o futuro do design.

Nos próximos 10 a 20 anos, muitas das soluções que hoje parecem dispensáveis devem se tornar diferenciais fundamentais.

O papel do designer automotivo será identificar essas mudanças antes de elas se consolidarem, mantendo o automóvel como símbolo de inovação, estilo e experiência de uso.

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