
Lançado no Brasil em 1983 para ocupar o espaço do Corcel II, o Escort abriu a linha média da Ford com desenho moderno, portas de três ou cinco e opções que iam do básico às versões de apelo esportivo. Produzido até 2004, atravessou três fases nacionais, ganhou série conversível e marcou presença em diferentes carrocerias.
A história do modelo combina viradas técnicas e parcerias industriais. Primeiro, motores CHT nas versões de entrada e no XR3; depois, com a Autolatina, vieram os Volkswagen AP 1.8 e 2.0, que mudaram o desempenho do esportivo. A última safra adotou propulsores Ford Zetec e introduziu a station wagon, antes da "troca" de guarda para o Focus.
Nesta reportagem, o Portal iG Carros te conta tudo sobre um dos modelos com a história automotiva mais curiosa do Brasil, um panorama completo da evolução, de sua primeira geração até os últimos modelos fabricados, com detalhes sobre as mudanças e a relevância ao longo dos anos de produção.
Primeira geração (1983–1992) | estreia, XR3 e o primeiro conversível de fábrica
A fabricação começou com duas propostas de base (L e GL) e a topo Ghia. Os CHT 1.35 e 1.6 atendiam às demandas de preço e consumo, enquanto o Ghia mirava acabamento.

O desenho retilíneo, as cores fortes e a oferta simultânea de três e cinco portas eram diferenciais no lançamento.
Em 1984, a versão XR3 levou o visual a outro patamar: defletores aerodinâmicos, rodas de liga aro 14, teto solar e bancos de desenho esportivo.
Apesar do pacote, o 1.6 a álcool de então não acompanhava a expectativa de desempenho, o apelo maior vinha do conjunto estético e do acerto de suspensão.
Abril de 1985 marcou a chegada do XR3 Conversível, produzido em parceria com a Karmann-Ghia do Brasil.
Foi o primeiro cabriolet nacional com aval de fábrica desde o fim do Karmann Ghia, e logo virou vitrine da linha. No fim de 1989, já com capota eletro-hidráulica, o conversível passou a adotar a mecânica Volkswagen.
A reestilização de 1987 aproximou o carro do padrão europeu: para-choques envolventes, faróis sem grade tradicional e lanternas traseiras lisas; o interior ganhou painel mais arredondado.
Em 1989, já sob a Autolatina (uma joint venture da Ford e da Volkswagen), o Escort passou a oferecer os motores AP 1.8 (GL e Ghia) e 1.8S (XR3 e Conversível), o que deu um fôlego do conjunto e demonstrou o caráter esportivo.
Segunda geração (1993–1996) | Autolatina, injeção eletrônica e guinada do XR3
Apresentada no fim de 1992 como linha 1993, a nova carroceria manteve versões L, GL e Ghia com AE 1.6 e, opcionalmente, AP 1.8. O XR3 avançou ao AP 2.0 com injeção multiponto Bosch LE-Jetronic, e entregou o salto de desempenho que o posicionou melhor diante de Gol GTS e Kadett GSi.

A transmissão por cabos, da família MQ, suavizou engates e padronizou soluções entre Ford e Volkswagen na época.
Em 1994, a linha adotou injeção eletrônica nas versões de volume (monoponto) e o XR3 recebeu gerenciamento atualizado. Surgiu ainda a opção a álcool 2.0 com potência superior.
O modelo ainda ganhou mais itens de conforto: espelhos com controle elétrico nas versões superiores, nova linha de rádios Bosch e regulagem de altura do banco do motorista.
Em paralelo, a obrigatoriedade de catalisador a partir de 1992 reduziu emissões e, em alguns casos, potência declarada, numa adequação ao PROCONVE.
Em 1996, com a preparação da fábrica brasileira para o Fiesta, a produção do Escort foi transferida para a Argentina.
A mudança acabou coincidindo com o fim das configurações Ghia, XR3 e do Conversível. No lugar do esportivo, a versão Racer 2.0 tentou ocupar o espaço, mas sem aquela identidade que consagrou o XR3.
Terceira geração (1997–2004) | motores Zetec, perua inédita e despedida
A linha 1997 inaugurou a fase “Zetec”: o 1.8 16V de 115 cv, importado da Inglaterra, substituiu os AP e foi o marco do rompimento técnico com a Autolatina.

O portfólio ganhou a station wagon (SW) para disputar um nicho que estava em alta e o sedã de cinco portas, com o Verona absorvido pela família Escort.
Em 1998, voltou a carroceria de duas portas no hatch, inclusive com a configuração RS. O sedã saiu de cena ao fim do ano, e a linha se concentrou em hatch de 2 e 4 portas e na perua.
O acerto de câmbio e o conjunto de suspensão mantiveram a proposta de uso diário com estabilidade "pedida" pela categoria.
Em 1999, estreou o Zetec Rocam 1.6 de 95 cv nas versões de volume, de forma concomitante com o 1.8 16V nas configurações mais equipadas.
A inclusão de airbag duplo em parte da gama e ajustes de acabamento foram destauqes dos últimos ciclos de atualização antes da chegada do sucessor no segmento.
Com o Focus em produção no Mercosul a partir de 2000, o Escort foi sendo gradualmente reposicionado até encerrar a fabricação em 2004.
A SW teve vida útil um pouco mais longa em alguns mercados e estoques, mas a transição veio com uma nova plataforma e encerrou uma história de duas décadas no país.