Salão do Automóvel 2025
Fernando Naccari/Portal iG
Salão do Automóvel 2025

Salão do Automóvel de 2025  não apenas mostrou novidades nos estandes do Distrito Anhembi. Exibiu um novo mapa de poder na indústria. Pela primeira vez, o protagonismo ficou nas mãos das marcas chinesas e de suas alianças com nomes tradicionais, enquanto algumas das montadoras que construíram a história do evento optaram por ficar de fora.

O movimento revelou uma verdade desconfortável para o setor: a velocidade da transformação global está favorecendo quem domina eletrificação, cadeia de baterias e capacidade de investimento. E esse grupo hoje tem nome, origem e estratégia muito claras.

A ascensão chinesa não é acaso

A China passou duas décadas construindo liderança em baterias, semicondutores automotivos e plataformas modulares elétricas. Investiu pesado em pesquisa, subsidiou montadoras nacionais, atraiu engenheiros globais e aperfeiçoou sua escala industrial.

Esse esforço gerou players de alcance mundial: BYD, SAIC, GWM, Changan,  que agora competem em pé de igualdade com gigantes centenárias. O Salão 2025 foi a vitrine dessa virada no Brasil.


MG, Denza e Caoa Changan: três estratégias diferentes, um mesmo objetivo

MG Motor – a tradição inglesa turbinada pela eficiência chinesa

Fundada em 1924 no Reino Unido, a MG era símbolo do automobilismo esportivo britânico. Hoje, sob controle da SAIC, a marca combina design europeu e engenharia chinesa, criando produtos competitivos com custos menores.

Estande da MG Motor no Salão do Automóvel 2025
Pedro H. Lopes/Portal iG
Estande da MG Motor no Salão do Automóvel 2025


Esse hibridismo cultural a coloca numa posição única: uma marca com história centenária renascida com o dinheiro e tecnologia chineses.

Denza – a junção do luxo alemão com a tecnologia da BYD

A parceria Mercedes-Benz + BYD não é mero acordo comercial. A marca alemã buscava eletrificação ágil; a BYD buscava reputação premium. A Denza foi o caminho.

Denza B5
Pedro H. Lopes/Portal iG
Denza B5


No Salão, a marca se posicionou como alternativa direta a BMW e Audi,  com produtos de luxo, como o SUV Denza B5 e com o  shooting brake Z9 GT.

Caoa Changan – engenharia chinesa com inteligência industrial brasileira

A Changan é uma das montadoras mais tecnológicas da China, mas precisava de capilaridade no Brasil. A CAOA precisou modernizar seu portfólio.

Avatr 012 no Salão do Automóvel
Pedro H. Lopes/Portal iG
Avatr 012 no Salão do Automóvel


A união cria eficiência logística e industrial, permitindo trazer modelos competitivos e até fabricar no país.

Essas três frentes explicam por que a coalizão chinesa ocupou espaço que antes era dividido por dezenas de montadoras.

Por que Volkswagen, GM, Nissan, Ford e Audi ficaram de fora

A ausência das tradicionais não é simples economia de custos. É sintoma de um choque tectônico na indústria.

1. A transição elétrica atropelou o planejamento ocidental: marcas como Volkswagen e GM anunciaram metas agressivas de eletrificação, mas enfrentaram dificuldades práticas: baterias caras, plataformas atrasadas, padronização global complexa e pressão por lucro. Enquanto isso, BYD, SAIC e Changan já dominam toda a cadeia com mineração, baterias, semicondutores, software, motores, plataformas.

Participar do Salão significaria dividir palco com quem hoje está dois passos à frente.

2. A crise global muda prioridades: com margens pressionadas, as montadoras priorizam eventos próprios, lançamentos online e experiências segmentadas. Feiras tradicionais perderam relevância porque já não são instrumentos eficientes de ROI. Montadoras preferem investir em infraestrutura de software, eletrificação e inteligência artificial automotiva, áreas que consomem bilhões.

3. Ausência estratégica para evitar comparações diretas: para montadoras que ainda não têm elétricos competitivos no Brasil, aparecer ao lado de sedãs, SUVs e esportivos chineses de última geração seria arriscado. A ausência é, em parte, uma escolha para evitar uma disputa em que, neste momento, perderiam em preço, autonomia, conectividade e tecnologia.

A nova ordem do Salão: menos tradição, mais ruptura

Com as tradicionais fora, o Salão se tornou um retrato fiel da indústria como ela será nos próximos anos: tecnológica, eletrificada, conectada e liderada por quem entrega inovação com escala e velocidade.

O público percebeu isso. A narrativa dominante deixou de ser nostalgia e passou a ser mobilidade do futuro. Isso reposiciona o evento e marca a entrada definitiva das chinesas em um território que antes era só dos europeus e japoneses.

O que isso significa para o mercado brasileiro

O Brasil vira laboratório estratégico para a expansão global das montadoras chinesas.  Com rede de concessionárias crescendo, presença industrial aumentando e aceitação do público melhorando, a China passa a disputar diretamente espaço antes monopolizado por gigantes tradicionais.

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