No mesmo dia em que o Novo Polo era apresentado à imprensa, com seus preços finalmente divulgados, a Toyota fazia um evento em Sorocaba (SP) para anunciar investimentos pesados no país (R$ 1,6 bilhão), entre eles o que dará origem ao Yaris nacional, feito naquela fábrica do interior paulista. Com chegada prevista para a metade do primeiro semestre de 2018, ou seja, daqui a um ano. Em comum, Polo e Yaris mostram a disposição das duas gigantes globais em conquistar espaço no segmento dos compactos premium.
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A questão que se coloca é a seguinte: seria este um bom segmento para se apostar num momento em que muitos clientes de hatches estão migrando para os SUVs compactos? Não deixa de ser ousado, mas tem seus riscos. Embora, nos casos de Novo Polo e Toyota Yaris, esperam-se variações SUV para brigar (tardiamente) no segmento mais quente do mercado.
Vamos aos fatos. Quem esperava por preços salgados demais para o novo VW Polo deve ter se surpreendido. A versão de entrada, com motor 1.0 aspirado, de 84 cv, chega por R$ 50 mil. Mas a versão que a VW mais espera vender é a 200 TSI Comfortline, a intermediária superior, de R$ 65 mil, posicionada entre a MSI 1.6 (R$ 55 mil) e a 200 TSI Highline (69 mil). Os TSI vêm com 1.0 turbo de 128 cv. O MSI, com 1.6 de 117 cv. O carro está em linha com o que de melhor a VW produz na Alemanha. É belo, bem equipado, econômico e seguro, com seus quatro airbags de série e nota máxima nos testes de colisão do Latin NCAP. Desta vez, a VW acertou ao simplificar a oferta de versões, embora ainda aposte muito em opcionais. Fez tudo como manda o figurino, num bem executado lançamento.
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Do Yaris, pouco se sabe oficialmente, além do fato que ele chega para ocupar um gap entre o Etios e o Corolla. A Toyota anunciou a ampliação da fábrica de motores em Porto Feliz (SP), certamente para equipar o Yaris com os bons motores VVTi 1.3 e 1.5, que são o que de melhor tem o Etios. Talvez daí surja um novo propulsor. O modelo escolhido para o Brasil é o mesmo vendido na Ásia, de visual um pouco menos arrojado que o do Yaris europeu. Mas a marca japonesa mantém a coerência de apostar num público um pouco mais conservador no Brasil. E dá muito certo com o Corolla (assim como o Polo, recém-coroado com nota máxima pelo Latin NCAP) e com a picape Hilux.
Mas o que seria o segmento de hatches compactos premium no Brasil? São modelos que fazem a ponte para os médios (aliás, o Polo é muito semelhante ao Golf), com porte um pouco maior que o dos modelos de entrada, além de acabamento mais esmerado, lista de equipamentos recheada e motores mais fortes que conferem um ar de esportividade. O auge deles foi do final dos anos 90 até o fim da década seguinte, época em que despontaram modelos como Citroën C3, Peugeot 206, Ford Fiesta, Fiat Punto, Honda Fit (esse mais um monovolume, mas na mesma faixa de preço) e também a primeira encarnação do Polo nacional, produzida entre 2002 e 2015.
Mas a fase não anda muito boa para essa categoria. C3 e Peugeot 208 andam mal das pernas, assim como o Fiesta. O Fit perdeu muito espaço, mas foi uma perda caseira, para o seu derivado SUV, o HR-V. O Punto saiu de linha, assim como o Chevrolet Sonic, que teve curta trajetória. Você pode argumentar que o Chevrolet Onix é um fenômeno, e que o Hyundai HB20 também vende muito bem. Mas a dupla não pode ser chamada exatamente de premium, pois tem versões de entrada que garantem os bons volumes de venda, e brigam no andar logo abaixo com Fox, Sandero, Ka, Etios e mais recentemente o Fiat Argo. Este chegou com posicionamento premium para o lugar do Punto, mas tende a ganhar preços mais acessíveis para ocupar o lugar que foi do Palio.
O Polo é assumidamente premium. O Yaris também o será. E eles apostam que há uma faixa de preço a ser explorada entre os hatches campeões de venda (Onix e cia) e os SUVs compactos de entrada (EcoSport, Duster, 2008 e até as versões de entrada de HR-V, Renegade, Kicks e Creta). Algo na faixa de R$ 55 mil e R$ 65 mil. O gap realmente existe, mas dificilmente vai gerar volumes de venda tão expressivos assim.
A receita do sucesso
É sempre bom lembrar que 1/3 dos compradores de SUVS compactos estão migrando de hatches (um pouco dos médios, muitos dos compactos). O cliente de um hatch pequeno se sente fazendo um belo upgrade ao passar para um SUV. Pular para um compacto premium não garante essa sensação de forma tão evidente. Vale lembrar também que a onda aventureira não distingue porte. O Renault Kwid chegou com jeitinho de SUV e já é o segundo carro mais vendido do país, feito que seus irmãos subcompactos VW Up e Fiat Mobi não chegaram nem perto de lograr.
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O fato é que tanto VW este ano, quanto Toyota no ano que vem, estão apostando em modelos de alta qualidade e de ótima dirigibilidade, e que certamente servirão de ponto de partida para novas famílias de veículos. O Novo Polo vai gerar o sedã Virtus no início do ano que vem e um SUV na linha 2019 (a VW anunciou outros 19 lançamentos até 2020). A Toyota, embora mais cautelosa, também poderá ter o Yaris sedã e uma derivação SUV. As duas gigantes estão com o caixa recheado e dispostas a repetir no Brasil o papel de liderança que desempenham globalmente. No lugar dos rivais, eu ficaria bastante preocupado...
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