Chevrolet Spark GT:  um dos carros mais vendidos do mercado no Chile no ano passado. Tem motor 1.2 e preço acessível
Glauco Lucena/AutoBuzz
Chevrolet Spark GT: um dos carros mais vendidos do mercado no Chile no ano passado. Tem motor 1.2 e preço acessível

Um laboratório de livre mercado. Assim é o Chile, país mais aberto da América Latina e um dos mais liberais do planeta: são 22 acordos de livre-comércio com 60 países, incluindo a China. De acordo com a revista Exame, importações e exportações representam mais de 68% doPIB chileno, ante apenas 26% do Brasil. O autor deste blog tirou 10 dias de férias e voltou impressionado não só com os vinhos e as belas paisagens andinas, mas também com a variedade de marcas e modelos à disposição dos consumidores chilenos.

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O Chile não produz carros desde 2008, quando a GM fechou sua fábrica. Num mercado tão pequeno (pouco mais de 360 mil unidades emplacadas unidades em 2017), nem compensa produzir. Melhor focar em outras atividades e liberar geral o mercado. Sem impostos de importação, as marcas competem em igualdade de condições. Vence quem tiver melhores custos de origem e de logística, ou melhores estratégias de marketing e comercial.

 E quem manda no mercado no Chile, afinal? Não há líderes disparados, como no Brasil, onde GM, VW e FCA dominam quase metade das vendas. Lá, é preciso juntar as seis marcas líderes para se chegar à metade do bolo. No fechamento de 2017, a líder foi a coreana Hyundai, com 33.136 carros emplacados, ou 9,2% do total, seguida bem de perto pela Chevrolet, com 32.385 (9%).

Completam o time das seis grandes a Kia (8,3%), a Nissan (8%), a Suzuki (7,5%) e a Toyota (7,4%). Portanto, um claro domínio de coreanos e japoneses, com uma marca americana infiltrada. O pelotão intermediário também conta com seis marcas: Peugeot (4,8%), Ford (4,8%), Mazda (4,4%), Mitsubishi (3,8%), Renault (3,7%) e Volkswagen (3,3%). Daí para baixo há uma infinidade de marcas com participação que varia de 0,5% a 2% (patamar de Citroën e Fiat).

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Hyundai Accent da nova geração é o automóvel que lidera o ranking de vendas do Chile atualmente

Entre elas, várias chinesas, lideradas pela Chery (1,8%) e pela JAC (1,7%). No Chile estão chinesas como Great Wall, Changan (lembra da Chana?), Brilliance e uma dezena deoutras. A indiana Mahindra tem lojas por lá, a inglesa MG (controlada por chineses) idem, assim como a alemã Opel, a gloriosa Alfa Romeo e até a Skoda, divisão tcheca da VW.

Entre as marcas premium, a liderança é da Mercedes, como no Brasil, seguida por BMW, MG, Volvo, Audi, Land Rover, Porsche, Lexus e Jaguar. A lista da ANAC (a Fenabrave chilena) traz o ranking das 52 principais marcas, mas há mais de uma dezena de outras atuando por lá.

 E os carros mais vendidos? A oferta é tão pulverizada que o campeão de 2017 não chegou a 10 mil unidades, caso do Hyundai Accent. Para efeito de comparação, o campeão brasileiro, Chevrolet Onix, vendeu quase 190 mil no ano passado. O pódio é completado pelo Chevrolet Sail, primo coreano do Prisma, e pelo Kia Morning (pelo jeito, Picanto soa em espanhol pior do que em português). O Prisma é o único carro brasileiro da lista.

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Apesar do acordo Mercosul, nossos impostos encarecem os carros frente à concorrência que chega de todo o globo. Apenas 6% das exportações brasileiras encontram o Chile como destino final, segundo a Anfavea.

Confira o Top 10 chileno dos carros de passeio em 2017:

1 HYUNDAI ACCENT - 9.534

2 CHEVROLET SAIL - 9.457

3 KIA MORNING - 8.152

4 KIA RIO - 7.682

5 SUZUKI SWIFT - 7.514

6 TOYOTA YARIS - 6.421

7 HYUNDAI GRAND I-10 - 6.238

8 MAZDA 3 - 4.359

9 RENAULT SYMBOL - 4.320

10 CHEVROLET PRISMA - 4.001

Picapes vendem muito bem no Chile, sobretudo nas regiões vinícolas (leia-se, quase todo o país). Por isso, a Mitsubishi L200 é o veículo mais vendido por lá, com 9.788 unidades em 2017, seguida pela Toyota Hilux (8.972). As médias e grandes dominam, quase não há picapinhas. Mas o maior mercado do Chile é o de SUVs. Eles representaram em 2017 32,3% do total, por isso merecem um ranking de vendas à parte.

Eis os 10 SUV mais vendidos do Chile hoje em dia

1 TOYOTA RAV4 - 7.171

2 NISSAN QASHQAI - 4.417

3 FORD ECOSPORT - 4.234

4 RENAULT DUSTER - 3.948

5 KIA SPORTAGE - 3.788

6 NISSAN X TRAIL - 3.757

7 MAZDA CX-5 - 3.682

8 HYUNDAI TUCSON - 3.572

9 NISSAN KICKS - 3.477

10 HYUNDAI CRETA - 3.180

Mais em conta que no Brasil

Chevrolet Prisma 1.4 LTZ: no Chile, sedã custa R$ 44.600, ante os R$ 63,2 mil cobrados pelo mesmo carro no Brasil
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Chevrolet Prisma 1.4 LTZ: no Chile, sedã custa R$ 44.600, ante os R$ 63,2 mil cobrados pelo mesmo carro no Brasil

Pelo menos entre os SUVs, o Brasil conseguiu colocar dois modelos bem posicionados, o EcoSport e o Duster. Mas e quanto aos preços? Mais uma vez, a comparação chega a ser covardia, já que a carga tributária chilena é muito mais baixa que a nossa. E a enorme competividade obriga todas as marcas e concessionárias a trabalhar com margens bem enxutas. O Prisma LTZ 1.4 parte de R$ 44,6 mil, já convertendo o peso chileno para nossa moeda. O similar nacional custa aqui R$ 63,2 mil. Já o EcoSport no Chile parte de R$ 60 mil, enquanto no Brasil ele sai por R$ 76,7 mil.

Achou grande a diferença? Pois saiba que esses preços sugeridos nunca são praticados. A concorrência é tão acirrada que geralmente os descontos são de ao menos 10%. Outra peculiaridade do mercado chileno: 80% das vendas se concentram na versão de entrada de cada modelo. Isso porque a variedade de carros é tão grande, que os compradores preferem migrar para um segmento superior a comprar uma versão mais completa de um modelo de porte inferior.

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Quer ficar com mais inveja dos hermanos chilenos? Rodei por boa parte do território em 10 dias, e só vi asfalto impecável nas cidades e nas estradas. Lá chove menos que aqui, é verdade, mas há tremores de terra com frequência. Há pouquíssimo controle de velocidade. Nas estradas maiores, a sugestão é 120 km/h, mas geralmente eles andam acima disso, e se enervam com quem anda na velocidade sugerida. Inclusive os caminhões.

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Mitsubishi L200 também está entre os modelos mais vendidos do Chile e chegou a ser líder de vendas em 2017

São afoitos no trânsito, buzinam demais e poucos usam cinto de segurança na cidade, embora respeitem absolutamente as faixas de pedestre. Não vi acidente algum nesses 10 dias, nem mesmo engarrafamentos causados por carros quebrados (notícias locais mostram que 2017 teve o menor índice de acidentes em três anos).

Por outro lado, beiradas de estradas com serras são repletas de santos, bandeirinhas do Chile e fotos em homenagem a motoristas mortos (o povo chileno é especialmente religioso e patriota). Entre prós e contras, minha impressão é que os chilenos têm um nível de liberdade muito elevado. O cultivo particular de maconha e seu consumo em locais privados são permitidos, por exemplo.

Também é possível ter arma em casa, exceto do tipo automático ou semi-automático. Mas jamais se pode circular com ela. Embora toda essa liberalidade econômica e de costumes seja uma conquista recente, me parece que o povo chileno está aprendendo rapidamente a lidar de forma responsável com ela. Um ótimo exemplo para o Brasil em vários aspectos.

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