Nos últimos anos, o mercado brasileiro recebeu uma enxurrada de lançamentos no segmento de SUVs compactos e médios. Ainda há novidades a caminho, mas as montadoras começam a perceber um potencial adormecido na categoria de picapes, também. E muitas já preparam suas armas para a próxima temporada, com um preview de gala no Salão do Automóvel de São Paulo, em outubro.
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Na verdade, a movimentação no segmento de picapes já começou no último mês com a chegada da versão Highline V6 da Volkswagen Amarok, com um turbodiesel 3.0 de 225 cv. Ela passa a ser o topo da gama, com preço de R$ 185 mil. Preço salgado, mas teve as 450 unidades de pré-venda arrematadas em um dia. E já ajudou a Amarok a superar pela primeira vez no ranking a Ford Ranger, no acumulado do primeiro bimestre.
Nessa categoria das médias, dificilmente alguém consegue ameaçar a supremacia da dupla Toyota Hilux e Chevrolet S10. A primeira vende em média 3 mil unidades por mês, a segunda 2,5 mil. Mas mesmo em menores volumes, esse é um dos segmentos mais lucrativos domercado, já que as picapes recolhem apenas 8% de IPI, quase os mesmos 7% dos 1.0. Um SUV diesel recolhe 25% de IPI, só para se ter uma noção de comparação.
Por isso tem tanta gente de olho nesse filé. A Nissan será a próxima a colocar lenha na fogueira. Até o fim do ano chega a Frontier produzida na Argentina. Hoje ela vem do México em cotas limitadas, apenas na versão topo de linha. Mas da Argentina virá uma família completa, com diversas configurações de cabine/caçamba, motorizações e versões. A marca japonesa quer brigar no patamar de Ranger a Amarok, que vendem em média 1,5 mil unidades por mês.
Mas o curioso é que essa plataforma da nova Nissan Frontier renderá outros frutos ao mercado. Dois, na verdade. Por um acordo estratégico da Aliança Renault- Nissan com a Mercedes-Benz, dessa base sairão ainda um modelo da Renault e outro da marca alemã. Ambos estarão no São Paulo Expo Center. A Renault Alaskan chega na virada do ano, e a Mercedes Classe X no primeiro semestre de 2019.
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Será a primeira incursão da Renault nesse segmento. Por aqui, a Alaskan deverá ter motor diesel 2.3 twinturbo (dois turbos, um para rotações baixas, outro para altas), além do 2.5 a gasolina. Serão duas configurações de cabine (provavelmente dupla e simples), tração 4×2 ou 4×4 com redução, e mimos como câmera de estacionamento 360 graus (como no Nissan Kicks).
Preços? Na faixa de R$ 110 a R$ 170 mil. Com um belo produto nas mãos, o desafio da Renault será fazer sua rede vender um veículo de maior valor agregado, algo que essa máquina de vender Logan, Sandero, Duster e Kwid não está habituada. E todos sabem que a venda de picapes exige um lado muito técnico das equipes de vendas – por isso a Amarok demorou tanto a embalar.
Isso não será problema para a especializada rede Mercedes com Classe X, variação de luxo dessa plataforma Renault-Nissan. Ela terá peças de estamparia e interior exclusivos. Serão duas as opções de motorização: 2.3 turbodiesel de 190 cv (X 250d), com dois turbos, câmbio automático de sete marchas e tração 4×4. A versão mais cara (X 350d) terá motor 3.0 V6 turbodiesel de 258 cv e 56,1 mkgf de torque. Estimam-se preços entre R$ 190 e R$ 240 mil.
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Depois desse trio, fica a expectativa para que a FCA (Fiat- Chysler) entre na briga. A candidata do grupo é a Ram 1500 feita no México. Viria em volumes não tão grandes, obviamente, mas aproveitaria o prestígio que a Ram 2500 já desfruta junto ao agronegócio. O que está atrasando sua vinda é a motorização. O Brasil quer motor turbodiesel, como ficou claro nas pesquisas feitas no último Salão do Automóvel, quando ela foi exibida. Mas o México tem mais disponibilidade para exportar versões a gasolina, que não teriam aceitação por aqui. Por isso, não espere pela 1500 antes de 2020.
Entre as marcas estrangeiras, a única novidade confirmada é a robusta coreana SsangYong Actyon Sports, prestes a chegar às lojas. A cabine dupla (carroceria sobre chassi) tem visual menos exótico que o o da geração anterior. E o novo motor turbodiesel 2.2 atende à rigorosa norma Euro VI de emissões e eficiência. Rende 178 cv, com torque de 41 kgfm, e aguenta 720 kg na caçamba. O câmbio é automático de seis marchas, e a tração 4x4 com reduzida. Os preços das duas versões vão de R$ 120 mil a R$ 135 mil.
E abaixo das picapes médias?
Com uma disputa tão ferrenha entre as picapes médias, como fica nos dois andares de baixo? Na base do mercado, nada vai acontecer. A líder Fiat Strada vende mais de 5 mil unidades com folga. O projeto de uma nova picape feita sobre a base Argo/Cronos continua no freezer, e uma decisão só será tomada na metade do ano. VW não vai mexer na Saveiro, nem a Chevrolet pensa numa sucessora para a Montana.
Onde o mercado pode aquecer é entre as picapes compactas mais parrudas, como Fiat Toro e Renault Oroch. Isso porque a VW desenvolve uma picape derivada da plataforma do Virtus, que teria o porte da Oroch, um pouco menor que a Toro. Com a VW não se brinca, como bem sabem os concorrentes. Coisa para 2019 ou 2020, fazendo a ponte entre Saveiro e Amarok. A Hyundai também tem um projeto para esta categoria, mas que depende do aval da matriz coreana para expansão da fábrica de Piracicaba (SP), que hoje opera no limite. O protótipo foi exibido no último Salão, batizado de Creta STC.
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