“Sabemos do potencial dos SUVs e queremos muito participar deste segmento no Brasil de forma mais abrangente”, disse a AutoBuzz o CEO da Toyota para América Latina e Caribe,Steve St.Angelo. Estávamos em um espaço reservado logo após a apresentação à imprensa do Toyota Yaris, na última quinta-feira (7).
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Steve, como prefere ser chamado, é um executivo que foge ao padrão reservado dos seus colegas da Toyota, na maioria japoneses. Americano, de origem italiana, é sempre efusivo ao falar, sempre em inglês e gesticulando bastante. Ao ser questionado sobre SUVs, seus olhos brilhavam ainda mais. “O novo posicionamento do Toyota RAV4 no Brasil melhorou muito suas vendas, mas precisamos fazer mais neste importante segmento, sem dúvida”.
Por que falar de SUVs no momento em que a Toyota lança no Brasil o Yaris, um compacto premium que traz versões hatch e sedã? Justamente porque o Yaris fecha um ciclo importante na história da Toyota no Brasil. Um ciclo que se iniciou há exatos 20 anos, quando o Corolla começou a ser produzido em Indaiatuba (SP), e se mantém até hoje imbatível no segmento de sedãs médios.
De lá até surgir o compacto Etios (hatch e sedã), produzido em Sorocaba (SP), foram 14 longos anos de espera. E agora mais seis até a chegada do Yaris, que preenche a lacuna de preços entre o Etios e o Corolla. De R$ 48.400 a R$ 120 mil, a Toyota está muito bem servida com seus cinco modelos de passeio nacionais.
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O Yaris mostrou-se bem acertado em nossa avaliação, e tem preços que miram nos concorrentes mais fortes, como a dupla Polo e Virtus, da VW. De quebra, a marca japonesa tem a reputação de ser referência em atendimento e pós-vendas. Isso traz bom valor de revenda, segurança aos clientes e fidelidade à marca. O que a Toyota fará, a partir de agora, é ir atualizando seus modelos, como já faz há 20 anos com o Corolla.
Mas, como bem disse Steve, os SUVs são a grande tendência global. E a Toyota, marca que mais vende veículos no planeta, não pode deixar de atuar nessa categoria no Brasil e na América Latina. Afinal, ela chegou ao Brasil há exatos 60 anos produzindo exatamente um dos pais dos SUVs modernos, o saudoso Bandeirante.
Portanto, o que esperar da Toyota nesse segmento? Para começar, paciência oriental. Sim, a Toyota pode ser acusada de lenta nas decisões, mas ela tem um planejamento sólido de longo prazo, que lhe garante sucesso internacional e saúde financeira invejáveis. Ela criou a filosofia “lean”, copiada por várias empresas, cuja essência é a capacidade de eliminar desperdícios continuamente e resolver problemas de maneira sistemática. Isso implica repensar a maneira como se lidera, gerencia e desenvolve pessoas.
Para quem acha que a Toyota está parada no tempo, ela é a que caminha a passos mais largos para a ruptura com o atual modelo de negócios do setor automotivo. Em janeiro, ela foi a montadora que mais apresentou soluções para um novo modelo de mobilidade durante a CES de Las Vegas.
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Naquela oportunidade, o chefão global Akio Toyoda (neto do fundador da empresa) declarou que os novos concorrentes da Toyota não mais fabricam carros. “Empresas como Google, Apple e até mesmo Facebook são as que tiram meu sono, afinal, nós também não começamos fazendo carros”, disse. “A tecnologia está mudando rapidamente o nosso setor, e a corrida está só começando.”
Novo foco nos SUVs
Voltando aos SUVs no Brasil, vale lembrar que a Toyota gosta de começar atuando nos segmentos superiores, para depois atacar os segmentos de entrada. Aqui, ela começou com o Hilux SW4, modelo de grande porte derivado da picape Hilux e importado da Argentina. Agora, a tentativa é de aumentar as vendas do RAV4, do porte do Jeep Compass, que custa a partir de R$ 130 mil.
Mas para brigar para valer, ele teria de ser feito aqui ou vir de algum país com isenção fiscal, como México ou Argentina. Hoje ele é trazido do Japão. No ano que vem chega a nova geração global do RAV4 (a quinta), feita sobre a nova arquitetura modular TNGA, a mesma do híbrido Prius, e que também será usada na próxima geração do Corolla. Não seria tão complicado produzir o novo SUV médio em Indaiatuba (SP), que hoje opera em dois turnos, e pode ir para três.
Falando em turnos, a planta de Sorocaba vai para três turnos em novembro, para produzir em maior ritmo todas as variações dos modelos Etios e Yaris. Esta seria a fábrica ideal para produzir um SUV compacto para brigar com Honda HR-V e grande companhia. Para isso, a Toyota teria de fazer um investimento para aumentar a capacidade (já gastou R$ 1,1 bilhão para o projeto Yaris).
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Ou, em última instância, reduzir a produção do Etios para abrigar um SUV derivado do Yaris. O mais cotado no momento é um modelo com logo Toyota derivado do Daihatsu DN Trec, apresentado como conceito no Salão de Tóquio, do ano passado.
Vale lembrar que o C-HR chegou a ser cogitado como importado, mas a conta não fechou. Sua plataforma sofisticada (também na base TNGA) deve fazer com que a Toyota desenvolva um outro SUV, de menor custo, para mercados emergentes como o Brasil. O DN Trec, com plataforma mais convencional, deve ser a resposta, Coisa para o início da próxima década. Como já dissemos, a Toyota não tem pressa, mas planeja com calma cada um de seus passos. E raramente erra o alvo.
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