
O que para muitos representa liberdade, independência e autonomia, para outros tantos, assumir o volante de um automóvel é a porta de entrada para uma verdadeira tortura emocional. Dados recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS), apontam que no Brasil, para cerca de 2 milhões de brasileiros, a simples ideia de assumir o volante provoca medo, angústia e até crises de pânico. Esse quadro, que atinge aproximadamente 6% da população, é conhecido como amaxofobia, uma fobia incapacitante relacionada à direção de veículos. Segundo a psicóloga especialista em trânsito, Adalgisa Lopes, o medo de dirigir vai muito além da relação com o carro: “É uma questão multifatorial que envolve aspectos psicológicos, sociais e culturais. Experiências traumáticas no trânsito, baixa autoestima, insegurança e falta de prática são alguns dos gatilhos mais comuns”, explica.

Mulheres são as mais afetadas
Estima-se que 80% das pessoas com amaxofobia sejam mulheres. A estatística revela um reflexo de questões estruturais e históricas, pois o trânsito sempre foi um espaço predominantemente masculino (e ainda é). “Existe uma pressão social forte e o medo de ser julgada ou humilhada, principalmente em situações de erro. Isso desestimula e afeta a autoconfiança de muitas mulheres que estão aprendendo a dirigir”, afirma Adalgisa. Além disso, algumas mulheres enfrentam cobrança familiar, críticas por não dirigirem ou são sobrecarregadas com outras responsabilidades, o que dificulta a dedicação à prática e à superação do medo.
Sintomas vão além da ansiedade
A amaxofobia pode se manifestar de formas intensas, com sintomas físicos e emocionais como, taquicardia, suor excessivo, tremores, respiração ofegante, dificuldade de raciocínio ou tomada de decisão, sensação de desmaio ou descontrole. Em muitos casos, a simples antecipação de um trajeto ao volante já é suficiente para gerar crises de ansiedade.
Caminhos para superar o medo
Apesar dos desafios, a amaxofobia tem tratamento. Especialistas indicam a psicoterapia, especialmente a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), como uma das abordagens mais eficazes. A TCC trabalha com a reestruturação de pensamentos distorcidos, desenvolvendo estratégias práticas para lidar com o medo e estimular a recuperação o controle emocional. Outra alternativa é buscar autoescolas especializadas em condutores com medo de dirigir, que oferecem aulas práticas em ambiente acolhedor e acompanhamento psicológico. “Com o suporte adequado e sem julgamentos, é possível reconquistar a liberdade que a direção proporciona”, reforça a psicóloga.
Superar o medo é possível e libertador
É importante lembrar que o medo de dirigir não é frescura, nem preguiça. Trata-se de uma condição legítima, que exige empatia, apoio e informação. À medida que mais pessoas reconhecem esse problema e buscam tratamento, cresce também o entendimento de que autonomia não é privilégio, é um direito. A jornada para superar a amaxofobia pode ser desafiadora, mas o resultado é transformador, trazendo a desejada segurança, recuperando a autoestima e a independência na rotina de milhares de brasileiros.