A inteligência artificial, que desperta tantas teorias e fascinação no mundo atual, ganhou novos capítulos esta semana na indústria automotiva. A Uber interrompeu seus testes com carros autônomos depois da morte de uma mulher, nos Estados Unidos. Diante do acidente, a Toyota quis passar longe de polêmicas e anunciou que também suspendeu por tempo indeterminado a circulação nas ruas dos automóveis sem motoristas. Outras montadoras
ainda não divulgaram mudanças de seus planos.
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A Ford anunciou em fevereiro a realização de testes com veículos autônomos nas
ruas de Miami O assunto foi parar no Congresso americano, que discute leis sobre o tema. No caso da Uber, a mulher atropelada por um Volvo XC90 atravessava a rua fora da faixa, mas isso não diminui a discussão da segurança.
Estes avanços tecnológicos, que despertam preocupação e admiração, fazem parte da chamada Indústria 4.0, que está na moda e veio para ficar. As montadoras fazem parte desses planos. Mais do que um meio de locomoção, o automóvel mudou e continuará mudando a sociedade, o comportamento e as atitudes das pessoas.
Por isso, a história da indústria automotiva é cultuada em muitos países commuseus e acervos particulares de colecionadores como arte. Os veículos “antigos” recebem distinções e mesmo atenções especiais das autoridades de trânsito praticamente em todos os continentes.
Existem museus incríveis. Uma pena que quase todos fora do Brasil. Inclua alguns deles na sua lista para visitar um dia. No nosso País há também algumas importantes iniciativas, mas que praticamente não têm apoio nem mesmo das montadoras locais.
A história na Europa
A Alemanha, provavelmente, é campeã neste quesito. Tem o Musueu da BMW, em Munique, Museu da Mercedes-Benz e da Prosche, os dois em Stuttgart, e o da Audi, em Ingolstadt, além da espetacular Autostadt – a cidade do carro da Volkswagen, em Wolfsburg. Esta última tem até um hotel para os fãs da marca se hospedarem e realizarem a visita com calma.
Se você não tem planos ou condições de viajar, em breve, pode sentir o gostinho desses passeios em tours virtuais. A Porsche e a Audi possibilitam a visita pelo computador, tablet ou celular de qualquer parte do planeta.
A história nos EUA
Todos eles mereceriam textos inteiros descrevendo as raridades, mas quero me concentrar em um que conheço muito bem: o Museu Henry Ford, um dos complexos dedicados a história da indústria norte-americana. É uma verdadeira mostra da revolução industrial nos últimos 100 anos. Tem até o Apple 1, o computador que mudou a vida de Steve Jobs e Steve Wozniak.
Ou melhor, ele mudou, provavelmente, toda nossa história. Afinal, foi apenas a primeira invenção da Apple que deu origem a tantas outras.
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O Museu Ford está instalado numa área de 91 mil metros quadrados na cidade americana de Dearborn, próxima a Detroit, em meio a um parque, chamado Greenfield Village. Essa área verde também é muito interessante porque tem o objetivo de preservar a história com a
reconstituição em tamanho original de edifícios históricos dos Estados Unidos, visitando em carruagens, automóveis antigos e barco a vapor. Uma espécie de “Disney” que traz a história.
O museu recebe 1,6 milhão de visitantes anualmente. Detroit também é um destino turístico pela fama musical. Conhecida como “Rock City, lá nasceu a famosa gravadora americana “Motown Records”, além de ser a terra da cantora Madonna.
A mostra contém os veículos presidenciais americanos do século passado desde as carruagens até o Lincoln Continental de 1961, modelo SS-100- X que o presidente John Kennedy foi assassinado. Outra raridade é o ônibus de Montgomery em que Rosa Parks, uma costureira negra, foi presa por recusar dar seu assento a um homem branco, em 1955, tornando-se símbolo dos direitos civis nos Estados Unidos.
O hall das Belas Artes Mecânicas conta a história de mais de 100 anos da indústria automotiva mundial desde os primeiros experimentos do alemão Karl Benz, o inventor do automóvel movido a gasolina, como conhecemos atualmente, além do quadriciclo de Henry Ford.
A extensa coleção exibe também representativos modelos de várias marcas, conceitos incríveis, carros de corrida que quebraram recordes de velocidade e até um Folker avião trimotor, fabricado pela Ford, que foi o primeiro a sobrevoar o Polo Norte. O museu conta ainda com teatro, cinema e espaços de exibições mostrando o progresso cultural de décadas. “Estou recolhendo a história do nosso povo como escrito pelas mãos que fizeram e usaram”, disse Henry Ford.
Em Los Angeles, na Califórnia, um destino turístico americano mais famoso, além das diversas atrações e do mundo do cinema de Hollywood, uma boa opção para visitar é o Petersen Automotive Museum. É considerado um dos do mundo especializado na história do automóvel. Possui um vasto acervo de carros, caminhões e motos.
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Reúne modelos desde 1886 aos dias atuais. Entre os itens expostos, está o modelo 1886 Benz, o primeiro carro motorizado. O Mustang, um dos maiores símbolos da Ford, tem uma exposição permanente (“Mustang Forever”) que conta a história dos 50 anos desse modelo.
A história no Brasil
Se lá fora a história é preservada, no Brasil é bem diferente. Vários modelos da nossa indústria e até marcas brasileiras, como a FMN (Fábrica Nacional de Motores), Puma e Gurgel, sobrevivem apenas em coleções particulares ou por aí com os amantes dos antigos.
Poucos brasileiros se arriscam a guardar esses tesouros. Um deles é o jornalista Roberto Nasser, um dos maiores conhecedores da indústria de veículos mundial. Nasser tem grande acervo histórico e é atuante na defesa da legislação voltada para a preservação dos automóveis antigos. Foi ele quem propôs a mudança do código de trânsito para uso da Placa Preta para automóveis antigos, entre outras ações nas áreas de importação de modelos para
coleção e a isenção de IPVA para veículos com mais de 15 anos.
Como curador da Fundação Memória dos Transportes, Nassermodelos raros e clássicos da indústria nacional. Num museu em Brasília, entre outras 50 raridades, exibe o Willys Gávea,
primeiro monoposto brasileiro para provas internacionais, Willys GT Capeta, único esportivoda marca, o GT Brasinca 4.200, GT Malzoni, o FNM Onça, a Limousine Willys que serviu a rainha Elizabeth em sua visita ao Brasil, e o último Ford Landau a álcool de uso presidencial no país.
Uma outra iniciativa de preservação do automóvel está na cidade de Passo Fundo, no interior do Rio Grande do Sul. Lá fica um museu particular que não é aberto ao público. O seu proprietário, o empresário Paulo Trevisan, cuida pessoalmente de raridades.
São mais de 120 modelos de corrida de competição especialíssimos que fizeram época nas pistas brasileiras, argentinas e contam a história desse esporte. Estes passeios possibilitam uma bela volta ao passado. Carros que um dia já foram apresentados como novidade e eram símbolo de inovação, hoje ainda são venerados por quem entende a história.