Não é de hoje que Ford e Ferrari têm muita tradição no automobilismo. Enquanto esteve na Fórmula 1, o motor Ford Cosworth foi imbatível. A escuderia italiana, por sua vez, coleciona títulos e fãs. Uma das histórias automotivas mais empolgantes envolvendo ambas as marcas aconteceu em Le Mans, na França, e é mostrada no filme Ford vs Ferrari , em cartaz nos cinemas brasileiros.
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A produção mostra um fato verídico que mistura corrida de carros, determinação de uma equipe e mundo corporativo. Na minha carreira de quatro décadas na Ford, sempre ouvi a falar sobre o carro GT40, o “matador de Ferrari”, com o devido respeito. O pano de fundo do longa é a competição que ocorreu em 1966 na corrida de endurance 24 Horas de Le Mans, na França - uma das mais antigas e tradicionais provas de resistência do automobilismo, existente desde 1923.
No filme, o foco recai sobre o projetista norte-americano Carroll Shelby e o piloto britânico Ken Miles, interpretados, respectivamente, pelos atores hollywoodianos Matt Damon e Christian Bale. Shelby, uma lenda das corridas e projetista de carros esportivos, e Miles, um talentoso, mas tempestuoso piloto inglês, foram decisivos para concretizar o sonho da Ford em Le Mans naquele ano.
O GT40 foi criado por ordem direta do presidente da empresa, Henry Ford II. Em 1964, a Ford lançou uma versão inicial, uma máquina dos sonhos, que exibia linhas elegantes e agressivas, alimentada por um motor V8 de 4,2 litros, capaz de atingir 321 km/h - mas que não teve sucesso nas pistas.
Henry Ford II decidiu, então, entregar o projeto a Shelby e Miles que em 1966 apresentaram, em tempo recorde, o GT40 MK II um modelo de resistência com motor V8 de 7 litros e 485 CV, que superou o Ferrari 330 P3 e outros superesportivos de marcas famosas.
O objetivo de destruir o reinado da Ferrari estava realizado. O veículo da Ford foi tetracampeão com as vitórias em Le Mans que aconteceram em 1966, 1967, 1968 e 1969.
Negócio frustrado
Para a Ford, a vitória em 1966 foi uma questão de honra. Isso porque Enzo Ferrari, o dono da equipe italiana, desistiu da venda de sua empresa à Ford de última hora. Em 1963, Enzo Ferrari teria oferecido sua fábrica de carros à Ford. A montadora americana estava interessada em expandir a presença de sua empresa no automobilismo e rejuvenescer sua marca no mercado europeu. Tentou inicialmente fazer uma parceria e, depois, comprar toda a operação da Ferrari.
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Após uma tensa negociação, a Ford constatou que a empresa italiana não estava bem nas suas contas e impôs condições radicais no contrato numa época que os italianos haviam conquistado a liderança em carros esportivos na Europa. Enzo Ferrari não aceitou as condições e mandou Henry Ford literalmente às favas. No final, foi a Fiat que acabou comprando uma pequena parte da Ferrari em 1965.
Ao destronar a Ferrari, a Ford aparece como a primeira e única montadora americana a vencer a corrida. E garantiu para si os direitos de se gabar de ter um senso de superioridade sobre os rivais.
“Matador de Ferrari“
O Ford GT40, um carro de endurance (resistência), teve as variantes Mk I, Mk II e Mk III e MK IV. A gama foi alimentada por uma série de motores Ford V8 de 4,9 l modificados para corridas.
A sigla “GT” significa Grand Touring, uma modalidade do automobilismo. O "40" representava sua altura de 40 polegadas (1,02 m), medida no pára-brisa, o máximo permitido no regulamento da categoria. Foram construídos 12 protótipos antes da versão final do GT40.
Após a vitória em Le Mans, Carroll Shelby e Ken Miles começaram a trabalhar no teste do J-car, que acabaria se tornando o MK IV, uma variação poderosa do GT40. Esse projeto incluiu, pela primeira vez na indústria, a construção de um chassi em alumínio para torná-lo ainda mais leve e proporcionar maiores qualidades aerodinâmicas.
Infelizmente, Miles nunca teve outra chance de ganhar Le Mans. Apenas alguns meses após a corrida com a Ford, ele morreu testando um dos protótipos do novo modelo. Carroll Shelby continuou por cinco décadas ligado à Ford, criando sucessos como o Mustang Cobra e o Shelby.
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Recentemente, a Ford lançou o GT numa versão moderna do superesportivo para uso cotidiano nas ruas e estradas. Em julho de 2019 apresentou o novo modelo Ford GT MK II para o uso em pistas de velocidade. Apenas 45 desse modelo já foram construídos e vendidos por US$ 1,2 milhão, tornando-o o carro Ford mais caro de todos os tempos.