Desde os anos 1990, era fácil avaliar o percentual reservado a cada segmento quando um carro novo chegava ao mercado: 30% de versão básica, 50% na intermediária e apenas 20% para a versão mais cara da linha. Esses percentuais foram se alterando com o tempo e passaram para outra distribuição, consolidada a partir de escassez de semicondutores durante a pandemia de covid-19.
Agora, apenas 10% são básicos, 40% a 50% intermediários e 50% a 40% de topo. Na realidade, os 10% de entrada são para frotistas e locadoras. Esse cenário já não pode ser explicado pela falta de componentes. Há uma razão mais evidente. Os apertos nas legislações de segurança e emissões estão inviabilizando as chamadas versões de entrada e até a oferta de modelos mais em conta.
No mercado brasileiro, só há duas opções de subcompactos no chamado segmento A: Fiat Mobi e Renault Kwid , por cerca de R$ 70.000. Várias linhas de produtos de maior porte simplesmente suprimiram a versão básica. Fenômeno agravado pelo avanço dos SUVs e crossovers, modelos mais caros e rentáveis para as marcas.
Na Europa, estudo recente da consultoria LMC Automotive mostrou a mesma tendência. O relatório assinado por Sammy Chan indica: “Estamos vendo uma queda acentuada no número de modelos de entrada à venda , pois os fabricantes vêm optando por não produzir carros pequenos que dão retornos financeiros menores.”
Até mesmo os SUVs que dominam o mercado europeu sofrem. Os modelos intermediários e de maior porte deixam uma margem de lucro bem melhor, o que não acontece com SUVs e crossovers compactos. E o crescimento dos VEB (Veículos Elétricos a Bateria) agrava esse cenário.
Um modelo do segmento A deixa pouco espaço para uma bateria maior . O alcance hoje já é menor que o ideal para a maioria dos usuários, agravado pelos efeitos do clima frio. Serve bem para dirigir na cidade e em viagens curtas. Porém, desencoraja compradores que precisam de um carro pequeno para cobrir todos os tipos de uso, incluindo viagens ocasionais de longa distância com bagagem pesada.
O consultor conclui que sempre haverá demanda por modelos básicos . No entanto, pode não atrair os fabricantes para redesenvolver esse segmento, se a lucratividade não for atraente.
Por coincidência ou não, o presidente da BMW, Oliver Zipse, afirmou no recém-encerrado Salão de Munique: “O segmento de automóveis básicos desaparecerá ou não será feito pelos fabricantes europeus.”