Camaro amarelo eu não quero, pois virou “carne de vaca” desde a música que explodiu com a dupla Munhoz e Mariano. “Agora eu fiquei doce igual caramelo / Tô tirando onda de Camaro amarelo / Agora você diz: vem cá que eu te quero! / Quando eu passo no Camaro amarelo”. Mas também não quero um Camaro da nova geração, pois custa R$ 310.000 e não estou com essa bola toda. Então, que tal um Camaro usado? Você verá a revolução que está sendo preparada quando o assunto é compra de carro.
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No site Mercado Livre, um dos mais cotados para quem pensa em compra de carro , tem um Chevrolet Camaro 2015, lindão, preto fosco com rodas pretas, com apenas 13.000 km rodados. Motor V8 6.2 e pneus zerados. Mas tenho medo de perder esse carro, pois há muita gente interessada. E o sujeito anuncia mora longe de mim! Sem problemas: com três ou quatro cliques na internet, eu faço a reserva desse carro pagando R$ 1.000. A cobrança vem no meu cartão de crédito. Se, por algum motivo eu não gostar do carro quando for vê-lo, o Mercado Livre devolve integralmente os R$ 1.000 para mim.
Mas tem outras situações. Dependendo do carro, a reserva online pode ser de apenas R$ 200. Fiz algumas pesquisas de carros mais procurados e a reserva ficou sempre em R$ 500. E esse é o parâmetro mesmo, segundo o próprio Mercado Livre: vai de R$ 200 a R$ 1.000, no máximo. Esse tipo de iniciativa é inovador, mas tem pela frente o medo natural dos consumidores, por se tratar de um novo tipo de compra. E vale tanto para carro usado quanto para carro zero km.
Nesse caso, quem deu o pontapé inicial no Brasil foi a Citroën. Desde o final do ano passado, a Citroën vende totalmente pela internet dois carros de sua linha: o C3 e o Aircross. Ambos são da versão St@rt, assim mesmo, com arroba no lugar do “a”, para marcar que se trata de uma compra virtual. Fiz a simulação no site da Citroën e vi que a compra também é facílima. São apenas quatro passos para comprar um carro zero km sem sair de casa: 1) escolha do modelo; 2) escolha da cor; 3) inclusão ou não de revisões e seguro; 4) forma de pagamento.
É tão bom que mais de 550 pedidos já foram feitos – e o ritmo de vendas subiu de 20 para 60 pedidos/mês. Segundo a Citroën, “o e-Commerce é uma tendência que vai ser cada vez mais forte no nosso mercado, e não somente por uma questão de economia, mas também por uma questão de praticidade (distribuição de carros, vendas on-line)”. Segundo a pesquisa Webshoppers/Ebit, em 2016 um total de 48 milhões de consumidores compraram no comércio eletrônico no Brasil pelo menos uma vez no ano, uma alta de 22% em comparação a 2015.
Nunca foi tão fácil comprar um Citroën C3 ou um Aircross. Na minha simulação com o Aircross, escolhi a cor vermelha e o preço subiu de R$ 52.690 para R$ 54.080. Incluí as revisões de 30.000 km (mais R$ 1.095) e o seguro (R$ 950). O carro saiu por R$ 55.175 e decidi financiar com baixa entrada. Tudo muito simples. A única coisa que a Citroën não faz é entregar o carro em casa – é preciso ir na concessionária mais próxima de seu endereço e retirar lá. O que, convenhamos, não é exatamente um fardo – é sempre gostoso sair da loja dirigindo um carro zero.
Revolução nos costumes
Ainda não se sabe se esse sistema vai “pegar” no Brasil. Afinal, ao contrário de muitos outros países, aqui os consumidores são imediatistas. No caso do Mercado Livre, o cliente está falando diretamente com uma concessionária ou com o dono do carro, então a entrega é imediata. No caso da Citroën, só estão disponíveis esses dois modelos nessas versões específicas, então também deve ser rápido. As mulheres são mais entusiasmadas com esse tipo de compra, com 55% de participação. Mais da metade (53%) tem entre 36 e 55 anos de idade e 68% são das regiões Sudeste e Sul.
Como eu dizia, o consumidor brasileiro é imediatista: decide a compra hoje, vai amanhã na concessionária e quer o seu carro na hora. Na Europa, não. Os consumidores planejam a compra com dois ou três meses de antecedência – então saem com o carro configurado exatamente para suas necessidades.
No Brasil, devido à ânsia do consumidor, é o próprio comprador quem acaba sendo prejudicado por sua pressa. Afinal, os concessionários precisam “adivinhar” quais carros terão mais saída. É por causa disso que muitas vezes não achamos nas revendas aquele carro básico anunciado. Ou que saímos com um caro cheio de equipamentos que não nos interessam, mas que tornam a compra mais cara, pois só tem daquele jeito para levar na hora.
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Fui visitar a sede do Mercado Livre para ver o que eles pensam disso. Conversei com o diretor da área de classificados, Caio Ribeiro. Ele me disse que o Mercado Livre funciona no sistema de market place, ou seja, não armazena os seus próprios produtos, mas centraliza e administra a venda de produtos de terceiros.
A boa notícia é que um consumidor comum tem tanta chance de vender um carro como um grande anunciante, como o Grupo Caoa, por exemplo. “Ninguém tem destaque especial, cor diferente no anúncio ou apelo extra para se destacar entre as ofertas”, disse Ribeiro.
Aproveitei para procurar umas ofertas e encontrei outra joia rara, além do Camaro 2015 preto fosco: um belo Land Rover Freelander 2 ano 2009, motor V6 3.2 de 232 cv e tração 4x4, com apenas 115 km rodados! Um achado, pois é um SUV “raiz”. Seu preço anunciado é de R$ 49.900 e a reserva online custa R$ 500. Gostei da experiência – tanto a do Mercado Livre quanto a da Citroën. Para dizer a verdade, achei o Aircross até mais simpático vendo-o na tela do meu computador.
E que tal um Hyundai Creta? Um dos SUVs mais vendidos do Brasil atualmente, ele tinha 96 ofertas no dia em que acessei o Mercado Livre. Um Creta 1.6 ano 2017 com apenas 1.000 km, do Rio de Janeiro, estava anunciado por R$ 79.500. A reserva online estava em R$ 1.000, mas considerando que moro em São Paulo e o carro estava no Rio, pense no quanto esses R$ 1.000 de adiantamento economizaram de tempo e dinheiro na minha vida.
Entretanto, eu não posso ser considerado parâmetro. Devido ao meu trabalho, tenho contato frequente com os mais diferentes tipos de carro. Resta saber se o consumidor comum, que não tem essa oportunidade, abrirá mão da segurança de ir pessoalmente ver o carro na concessionária ou se confiará apenas na opinião dos jornalistas especializados, por meio de avaliações na imprensa ou na internet. Caio Ribeiro acredita que sim, por causa da comodidade e porque atualmente já compramos quase tudo online: “O meu sonho é que muito em breve todos possam realizar a compra de um carro 100% pela internet. Este é o futuro que o Mercado Livre enxerga e para o qual já deu o primeiro passo”.
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E deve ser mesmo. De acordo com a pesquisa Webshoppers/Ebit, o e-commerce faturou R$ 44,4 bilhões no Brasil em 2016, o que representou um crescimento anual de 7,4%. E o mais impressionante, no caso da Citroën, foi que 56% dos consumidores que compraram pela internet fizeram pagamento à vista. E você, faria a reserva do carro pela internet? Compraria um carro pela internet? Com a resposta, os próprios leitores e consumidores que estão mudando seus conceitos sobre compra de carro.