Cobalt 2019: as últimas versões já refletiam uma nova realidade e vinham mais bem equipadas
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Cobalt 2019: as últimas versões já refletiam uma nova realidade e vinham mais bem equipadas

O Chevrolet Cobalt é o próximo carro a sumir das ruas brasileiras. A General Motors não confirma que vai tirá-lo de linha, mas uma coisa é certa: suas vendas nunca mais serão as mesmas. Na verdade, o Cobalt parece ter dobrado o Cabo da Boa Esperança, como se diz popularmente. Ou, para quem conhece geografia, ele passou pelo Cabo das Tormentas, que era o nome dado pelos portugueses àquele ponto no extremo sul da África, na época das grandes navegações.

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Em setembro, o Chevrolet Cobalt teve sua melhor venda no ano: 1.416 unidades. Em outubro caiu para 831. Em setembro, se chegar a 450 vai ser muito. Que diferença para os mais de 66.000 emplacamentos que registrou em 2012. Naquele ano, o Cobalt foi o 11º automóvel de passeio mais vendido do Brasil.

Tudo bem que faz sete anos que isso aconteceu, mas a culpa não é do Cobalt e muito menos da GM. A montadora até melhorou bastante o carro nesse período, dotando-o de tecnologias de conectividade e caprichando em seu conforto. O Cobalt também cumpriu seu papel, servindo às famílias (mais tarde aos taxistas) como um sedã espaçoso e confortável.

O que mudou foi o Brasil. Hoje não existe mais o sonho da nova classe média, a classe C que emergiu das classes D e E para dar um impulso histórico nas vendas da indústria automobilística. Pelo contrário, muitos voltaram para as classes D e E. Pior: alguns que nunca estiveram abaixo da classe C, também empobreceram. E multidões que habitavam as classe A e B, rainhas do consumo antes da era Cobalt, também perderam renda e hoje povoam a classe média brasileira.

Spin Premier 2020: irmão do Cobalt, o monovolume da GM é considerado também uma perua, mas tem futuro incerto
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Spin Premier 2020: irmão do Cobalt, o monovolume da GM é considerado também uma perua, mas tem futuro incerto

Em 2011, o PIB per capita do Brasil era de US$ 13,3 mil. Em 2019, foi inferior a US$ 8.900. Segundo um estudo da Tendências Consultoria, nesse ritmo só em 2028 o pico do PIB per capita voltará ao nível de 2011. Em 2012, a classe média alta tinha uma renda entre R$ 641 e R$ 1.109. Em 2017, cinco anos depois, o pico dessa renda era de R$ 1.008, segundo o Bradesco. E quase 1 milhão de brasileiros havia caído das classes A e B para a classe C.

Portanto, faz sentido o fim do Cobalt. Esse carro foi pensado para a classe média emergente do início da década. Era um carro sem muito luxo, mas com duas propostas de motores: 1.4 de 97/102 cv (g/e) e 1.8 de 106/108 cv (g/e). Mais tarde, a potência do 1.4 subiu para 106 cv e do 1.8 foi para 111 cv (ambos com etanol). Para se ter uma ideia, a campanha de lançamento do Cobalt foi toda feita no Carrefour, um supermercado popular.

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Na verdade, o Cobalt havia nascido no EUA, na década anterior. Porém, quando ele foi substituído pelo Cruze no mercado americano, a GM do Brasil aproveitou para lançá-lo aqui. Mas não com a mesma base -- a GM aproveitou apenas o nome, pois o Cobalt brasileiro usou a plataforma do Sonic (que não deu certo no mercado brasileiro) e da primeira geração do Onix/Prisma . Cobalt dava dignidade à classe média

Chevrolet Cobalt dava dignidade à classe média

Cobalt 1.4: em seus primeiros anos, o Cobalt teve versões com motor de menor cilindrada
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Cobalt 1.4: em seus primeiros anos, o Cobalt teve versões com motor de menor cilindrada

Com um design simples, mas com suspensão macia, um motor razoável e outro mais potente, um porta-malas enorme (563 litros) e bom espaço interno (entre-eixos de 2,620 metros), o Cobalt era um carro que dava dignidade à nova classe média. Era possível ter um carro zero km maior sem ter que pagar uma fortuna.

Portanto, a trajetória do Chevrolet Cobalt foi honrosa, pois ele teve um sentido social, coisa que poucos carros têm. Lógico que, no fim das contas, o que todas as montadoras querem é ganhar dinheiro, mas são poucos os modelos que buscam atender às necessidades do povão. O Cobalt teve esse mérito.

Ao contrário do Cobalt, sua versão station wagon (ou monovolume, como prefere a GM), continua tendo vendas razoáveis. É verdade que em três meses elas caíram caíram de 3.100 para 2.300, mas a queda do Spin tem sido mais lenta. Também está marcado para morrer, mas ele nunca teve o papel social do Cobalt.

O que importa agora é que, num Brasil em que mais de 60 milhões de pessoas estão com o “nome sujo”, é impossível pensar em vender certos carros de forma financiada. Hoje, só quem tem dinheiro sobrando compra um carro zero km. Por isso, as ofertas de carros bons a preços populares são praticamente inexistentes. Por “bons” eu nem me refiro a carros com grandes qualidades técnicas, mas simplesmente àqueles que são espaçosos, razoavelmente confortáveis, com porta-malas grande e motor potente.

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Nessa realidade, faz muito mais sentido à GM investir no Onix Plus, seu novo sedã, que subiu de categoria, em relação ao Prisma, justamente para ocupar um lugar que era dignamente defendido pelo Chevrolet Cobalt . Um carro que não deixará uma legião de fãs, mas que teve uma vida significativa.

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