Fala, galera. Beleza? Vou ser sincero. Essa semana não foi muito inspiradora. Não sei se foi por conta do pico de adrenalina causado pelo EPRIX São Paulo seguido por uma marola ou porque fiquei focado em outras atividades. Mas o fim de semana sempre guarda alguns eventos inspiradores.
Primeiramente, acabei trombando acidentalmente com uma concessionária próxima de casa com várias unidades do GWM Haval H6, uma unidade da versão HEV e três unidades da versão PHEV GT. Inclusive, fiz um test drive bacana com o carro. Depois dá conferida no breve vídeo que fiz.
Logo após o test drive, recebi um vídeo de um colega que trabalha na engenharia da JAC Motors. Ele foi trabalhar na expansão da marca na Europa e me encaminhou imagens de um
eletroposto recém-inaugurado pela Total Energies
próximo a Paris.
O vídeo demonstra um hub de carregamento com onze equipamentos, entre eles, de 50, 150 e até 300 kW de potência. Pelo pouco que observei, nem deveria ser novidade esse tipo de estrutura no velho mundo, mas a questão é que, mesmo eu uma região com tantas opções, ainda existe ampliação da infraestrutura.
O que mais chamou a minha atenção foi a quantidade de carregadores disponíveis e ter apenas dois carros carregando naquele momento. Pode ter sido uma coincidência ou realmente a demanda em dias comuns esteja bem longe de ocupar todos os equipamentos. Então por que tantos carregadores em um mesmo local?
Eu acredito que o sonho de todo ponto de venda é ter apenas um caixa e, no máximo, uma pessoa na fila, mas com movimento seguido e constante. Esse também é o sonho das empresas que instalam carregadores. Que só chegue um novo cliente assim que o primeiro sai e venha outro logo em seguida que o segundo cliente saiu também. Todavia, essa vida sincronizada não existe.
Ainda utilizando o exemplo do comércio com apenas um atendente, temos dois cenários que devem estar mais próximos da realidade.
O primeiro indica baixa frequência ao longo da maior parte do dia, com picos em determinados momentos. Pode até gerar descontentamento dos clientes pegar a fila, mas provavelmente eles sabem que é o horário mais movimentado e acabam se colocando nessa situação porque não tinham outro momento para ir.
O segundo cenário trata-se de um estabelecimento com fluxo constante, com filas ao longo do dia inteiro e picos de movimentação. O problema é que a capacidade de atendimento já está saturada e, muito provavelmente, o cliente irá desistir de consumir no local e ainda sai falando mal.
Geralmente os grandes supermercados possuem dezenas de caixas, mas poucos são ocupados por funcionários. Esses equipamentos não são para serem ocupados todo o tempo, trata-se de uma reserva estratégica para atendimento em horários de alta demanda e com a possibilidade de remanejamento de fila, se algum dos caixas apresentar problema.
Muito provavelmente, esse hub de equipamento foi projetado com o mesmo raciocínio que os hipermercados, bancos e qualquer estabelecimento de vendas de grande porte que calcula a capacidade de atendimento ao público.
Ah, mas estamos falando da Europa, um lugar em que a mobilidade elétrica é muito mais difundida. Sim, concordo, mas precisamos avaliar alguns números e lembrar que estamos falando de um país com tamanho continental, com diferenças grandes entre as regiões do país, com grandes centros com o maior número de veículos elétricos que regiões mais afastadas.
De acordo com a ACEA (Associação Europeia de Fabricantes de Automóveis), a Europa possui uma frota de 246 milhões de veículos, sendo que 18% dos automóveis novos são movidos a eletricidade. Enquanto isso, no Brasil, o Ministério da Infraestrutura declarou que, em dezembro, a frota nacional de automóveis era de mais de 60 milhões.
Ficha informativa: automóveis - ACEA - Associação Europeia de Fabricantes de Automóveis
Frota de Veículos - 2022 — Ministério da Infraestrutura
Ah, mas isso é apenas 25% da frota europeia. Na verdade, eu penso que apenas um país possui o equivalente a um quarto da frota de um continente inteiro. Isso porque quase 60% do território brasileiro é constituído por floresta.
Considerando o potencial de crescimento da frota de veículos elétricos no Brasil atrelado ao fato de termos uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, é de suma importância que a infraestrutura de carregamento considere estrategicamente a adoção de hubs de carregamento.
O ponto chave dos equipamentos nas rodovias é que as frotas possuem uma tendência de deslocamento entre esses grandes centros e, esporadicamente, movimentos para áreas mais afastadas durante os feriados e períodos de férias.
Muitos dirão que é mais importante ter um carregador a cada 100 ou 200 quilômetros do que uma concentração de carregadores na mesma região. Eu penso que, em algumas regiões, devem ser adotados modelos de um equipamento a cada 150 quilômetros. Entretanto, nos grandes eixos de ligação, já se faz necessário a instalação de hubs. Talvez não por toda a extensão, mas em pontos estratégicos.
Quem viaja de carro elétrico já sabe que no fim de semana ou feriado, parar em determinados locais e não ter nenhum carro, ou no máximo um, é motivo para erguer as mãos para os céus e entoar cânticos de vitória.
Já temos nossos momentos de overbooking nos carregadores pelas estradas brasileiras. Claro que temos que crescer muito ainda, principalmente para fora dos grandes eixos. Mas é preciso ter uma visão estratégica de médio a longo prazo. Não é um investimento barato instalar um carregador de carga rápida. Por isso que deve ser projetado para que esse local atenda de forma satisfatória pelo maior tempo possível.
Como exemplo disso, temos alguns shoppings centers que dobraram ou até triplicaram o número de carregadores em seus estacionamentos, como no caso do Shopping Tamboré, Shopping Villa Lobos e Catarina Outlet. Os três já eram conhecidos por serem locais com opção para carregamento. Não é só o fato de estarem localizados em bairros nobres que fez aumentar o fluxo de veículos elétricos, mas por serem referência em seus respectivos locais.
Muito provavelmente, se alguém comprar um carro elétrico pela primeira vez, irá questionar onde carregar para quem já usa a mais tempo. Essa pessoa terá na mente locais que possuem o carregador a mais tempo. Até poderia indicar um lugar novo, mas o primeiro lugar que virá em sua lembrança é algum que já usa a mais tempo.
Por isso que, mesmo com lugares novos e maior variedade de opções, a tendência é que os usuários mantenham o hábito de pararem no mesmo endereço. Além da “tradição” do local, um dos maiores motivos que pode tornar um ponto com principal opção para parada de carregamento é a confiança de que você conseguirá fazer a recarga, tanto por disponibilidade quanto por saber que o equipamento estará funcionando.
Como já disseram alguns amigos: “Quem tem dois carros, tem um. Quem tem um carro, corre o risco de ficar sem nenhum.” Acredito que a lógica pode ser aplicada aos carregadores também.
Então, meu caro leitor, fica como reflexão uma forma de crescermos a infraestrutura de carregamento de forma estratégica e que atenda as demandas que já existe e só irá aumentar.