O futuro clama por mudanças de hábito. A solução do combustível fóssil não vai durar para sempre, além de ser uma das principais causas dos danos na camada de ozônio feito pelos seres humanos. Esses impactos já são sentidos nos meios urbanos e na natureza. A cidade de Linfen, na China, é conhecida por ser a mais poluída do mundo, onde há uma densa névoa de poluição e as pessoas precisam andar com máscaras para amenizar os problemas respiratórios. Será que o Nissan Leaf 2019 (R$ 178.400) poderia ser a solução parcial para alguns desses problemas?
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A resposta é imediata, sim. Os gases de escape que saem do seu “inocente” veículo vão diretamente para a atmosfera. De acordo com um estudo divulgado pelo Instituto de Saúde e Sustentabilidade do Rio de Janeiro, a poluição no trânsito já mata mais que acidentes de carro na cidade. Entre 2006 e 2012, o levantamento mostrou que 36.194 mil pessoas morreram de problemas respiratórios, enquanto apenas 16.441 tiveram fatalidades. Menos da metade. Carros como o Nissan Leaf 2019 estão dispostos a resolver este problema
Ironicamente, taxistas da Cidade Maravilhosa foram alguns dos primeiros a receber a novidade da Nissan em meados de 2013, ainda em sua primeira geração. A fabricante colheu os feedbacks e entregou para a matriz, no Japão. Em sua investida definitiva no segmento dos elétricos no Brasil, a Nissan exibiu o modelo 2019 no Salão do Automóvel de São Paulo como um carro legitimamente adaptado ao estilo brasieliro.
Isso ficou bem claro no discurso do presidente da marca durante a apresentação oficial do modelo para os jornalistas latino-americanos em 2018. “A tecnologia que existe no exterior precisa marcar presença no Brasil”, defendeu Marco SIlva. Talvez esta seja a chama que motivou a investida em um carro 100% elétrico logo de primeira. Diferentemente da Toyota, a Nissan não terá carros híbridos no cardápio em 2019.
Mas qual seria o público do Leaf? A Nissan entende que motoristas jovens, principalmente do sexo masculino, entre 25 e 35 anos serão os mais impactados pela novidade. Isso acompanha o “know-how” de anos de experiência, uma vez que o Leaf é o carro elétrico mais vendido do Brasil, sempre utilizado para distâncias curtas. “Sabemos que existem recursos que permitem fazer a viagem de 400 km entre São Paulo e Rio”, lembra Marco, referindo-se à Eletrovia instalada na Dutra. “Mas os clientes do mundo todo usam o Leaf apenas como um carro urbano.”
O Leaf não emite poluentes. A energia é armazenada em baterias de íons de lítio de 40kWh, que possibilitam uma boa autonomia. O carro é abastecido diretamente na rede elétrica, aceitando dois tipos de conectores, para recarga rápida e normal. Eis que o modelo esbarra na primeira barreira para o mercado brasileiro.
O tipo de aterramento da maioria das residências do País não permite a instalação de uma unidade de recarga para veículos elétricos. Vale dizer que a brincadeira pode ser cara, uma vez que a aquisição do dispositivo semirrápido pode passar dos R$ 20 mil. Depender dos postos instalados em alguns estacionamentos públicos também é pouco conveniente.
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Isso fez lembrar de quando levei um Chevrolet Bolt EV - principal rival do Nissan Leaf - para a casa por um dia. Chegando do trabalho, o carro ainda marcava cerca de 110 km de autonomia. A Chevrolet até colocou um kit de carga no porta-malas, mas tinha consciência de que o aterramento de minha residência não é adequado. No dia seguinte, a marcação diminuiu para 95 km sem que eu sequer encostasse no veículo durante a noite. Eis que surge a ansiedade da “pane seca”.
O BMW i3 traz um motor emergencial movido a gasolina como solução. Se o motorista eventualmente ficar sem carga, poderá utilizar o combustível fóssil para ganhar alguns quilômetros de autonomia e chegar ao seu destino. Com Leaf, Bolt e Zoe , a história é bem diferente. Vale lembrar que ter o veículo imobilizado na via por falta de combustível é infração média com 4 pontos na carteira, com multa de R$ 85,13, de acordo com o CTB.
Minha primeira experiência no Nissan Leaf não foi das mais urbanas. Por conta de algumas unidades não emplacadas, o test-drive não poderia acontecer nas ruas. Portanto, fomos ao Autódromo de Interlagos para conhecer não apenas o Leaf, mas também o hatchback Note e-power e o SUV híbrido X-Trail.
Além do Nissan Leaf 2019
O Note está em fase de testes no Brasil. De acordo com o presidente, a Nissan realizará uma série de testes nos próximos anos para estudar sua viabilização para o nosso mercado. Se receber sinal verde, chegará em meados de 2022. O X-Trail Hybrid continua sendo avaliado, mas sua versão convencional poderá bater de frente com Jeep Compass e VW Tiguan ainda em 2019.
Assim como o Bolt, o Leaf possui três modos de condução: normal, econômico e regenerativo. O primeiro prioriza a dirigibilidade. De fato, o Leaf é muito gostoso de guiar, com uma característica bem direta que é complementada pelo volante esportivo. Como chovia em Interlagos e o veículo não é voltado para alto desempenho, não exagerei na força, mas deu para sentir que os 149 cv de potência e 32,6 kgfm de torque estão lá para responder imediatamente ao pé direito do motorista.
Em seguida, passo para o modo econômico que praticamente corta um terço do desempenho do motor. O objetivo é priorizar a autonomia, alterando até mesmo o comportamento do ar-condicionado. Neste caso, o Leaf fica mais manso e menos responsivo às provocações.
Antes de falar do terceiro modo de condução, eis uma informação que pode te deixar com pulga atrás da orelha: seu carro perde mais energia do que você imagina. Não é apenas o calor do motor que poderia estar produzindo energia térmica para alguns componentes, mas também a cinética que não é reaproveitada nas frenagens. Já imaginou se o seu carro pudesse ganhar alguns quilômetros de autonomia enquanto você para no semáforo?
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Por R$ 178.400, o Nissan Leaf 2019 é um veículo salgado. Sendo uma das primeiras iniciativas na categoria, vale a pena entendê-lo mais como um novo conceito de mobilidade que possibilidade de compra. Do Salão do Automóvel para cá, foram 48 unidades vendidas na pré-venda, mostrando que a Nissan está longe de tratá-lo como um carro de volume. Para a marca, veículos elétricos estarão efetivamente na vida dos brasileiros em aproximadamente dez anos, e o principal objetivo de curto prazo é te fazer pensar no assunto.